terça-feira, 18 de dezembro de 2012

COMENTÁRIO - 18/12/2012



Política com o ‘nosso chapéu’

Meus nobres: - “temos de concordar” que a presidente Dilma Rousseff cultiva uma imagem de líder mais apegada a questões técnicas que às comezinhas da política partidária. Boa parte dessa fama veio de seu trabalho em cargos públicos ligados à área de energia, no Rio Grande do Sul e no governo federal – ela foi a principal responsável, no começo do governo Lula, pelo redesenho do modelo do setor elétrico. Talvez o profundo conhecimento da área explique a prepotência com que a presidente tentou convencer as companhias elétricas a aderir a seu plano de renovação de concessões. Mas, por mais técnica que Dilma queira parecer, a forma como ela e sua equipe “venderam” a redução da tarifa de energia trouxe à luz intenções nitidamente eleitorais. O anúncio do pacote, em cadeia nacional de rádio e tevê, na véspera do dia da Independência e a um mês das eleições municipais, parece agora coisa pequena perto da virulência com que Dilma e seus ministros têm tratado quem não aceitou renovar antecipadamente as concessões. A assinatura de novos contratos, antes apresentada como “opção” aberta aos interessados, ganhou ares de decreto-lei. Jogando para a plateia, o governo tem repetido que quem não aderiu “priorizou os acionistas”, “penalizou a população”, foi “imensamente insensível”. Provocados, os governos tucanos de São Paulo, Paraná e Minas Gerais – controladores das principais companhias que não renovaram contratos de geração – revidaram, ora com argumentos técnicos consistentes, ora com contra-ataques dignos de mau debate eleitoral, tão esdrúxulo quanto algumas alegações do Ministério de Minas e Energia. Houve secretário de Fazenda criticando a queda das tarifas não pela forma autoritária como ela foi colocada, mas simplesmente porque reduzirá a arrecadação de ICMS. Ora, levar a sério tal raciocínio significa aceitar que morra na casca qualquer tentativa que venha a reduzir custos (e, portanto, preços e arrecadação tributária) no país. Um secretário paulista foi mais longe: quis acusar o governo federal de quebra de contrato por não renovar automaticamente uma concessão vencida desde 2011, quando a lei é clara ao afirmar que o poder concedente pode (e não deve), a seu critério, renovar concessões. A discussão “evoluiu” ao ponto de a FIESP, beneficiária de várias medidas protecionistas do governo, pagar anúncios de página inteira desqualificando quaisquer questionamentos à MP 579. O presidente da federação, Paulo Skaf, que tem lá suas ambições políticas, não teve pudor em estrelar comercial de tevê “faturando” a medida do governo. Em resumo, Dilma Rousseff parece ter conseguido o que queria: politizou a importante questão da redução da tarifa, contaminando-a com a sucessão de 2014. Qualquer iniciativa de baixar a tarifa brasileira, uma das mais altas do mundo, seria digna de elogio. A tarefa, no entanto, exige sobriedade, correção e justiça. E isso faltou. O governo acertou ao cortar parte dos encargos que ao longo dos anos ele mesmo pendurou na conta de luz. Mas deveria ter ido além. E eliminado, por exemplo, o PIS/COFINS – imposto que, segundo estudo da PricewaterhouseCoopers e do Instituto Acende Brasil, responde por 8,5% da tarifa. Também é correto renovar concessões antigas em troca de tarifas mais baixas, pois grande parte das usinas e linhas de transmissão realmente já “se pagou”. O problema é que em muitos casos a tarifa proposta não cobriria qualquer futura contingência, e certas indenizações também foram subestimadas – tanto que, no caso da transmissão, o próprio Planalto voltou atrás e elevou valores. Por último, não custa lembrar que é dever de qualquer empresa, ainda mais sendo estatal, zelar por sua saúde financeira, sua viabilidade econômica, enfim, sua perenidade. Fez certa a Copel ao aceitar somente as condições que não violassem tais princípios. Quanto à estatal federal Eletrobrás, obrigada a aderir na íntegra ao pacote, têm crescido os rumores de que cedo ou tarde precisará de aportes do Tesouro para sobreviver. - Cá pra nós - a Coelce também se enquadra neste ramo “beneficiário” e de nada adiantará termos uma tarifa mais baixa em troca de um sistema menos confiável, de elétricas às portas da falência e de operações de socorro à custa do contribuinte.
Antônio Scarcela Jorge.

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