MOTE POLÍTICO, PARTIDÁRIO
E TAMBÉM DO GOVERNO.
NOBRES:
O governo está assentado em sua
agremiação política, logicamente como é princípio natural no exercício de ação.
Baseado nessa premissa, colocamos o PT como o partido que detém a maior e
também as mais importantes fatias do poder nacional. Está na Presidência da
República; está na maioria dos ministérios; está em inúmeras estatais; e,
sobretudo, está entranhado nas mais profundas estruturas da burocracia. Mais
que isso tudo, age com desenvoltura e diligência ímpar para cooptar outros
partidos, dando-lhes cargos e vantagens, deles cobrando estrita e incondicional
fidelidade. Em razão disso, seu poder se estende também sobre o Congresso e até
mesmo sobre o Judiciário, como se viu no caso do julgamento do mensalão pelo
STF, durante o qual um dos seus ministros – antigo militante da legenda – teve
destacada atuação na tentativa de absolver velhos companheiros. Diante de tal
hegemonia e diante também do fato de que completa em 1.º de janeiro próximo uma
década de experiência no exercício do poder, seria de se imaginar que o Partido
dos Trabalhadores conhecesse e defendesse as reais prioridades do país e usasse
de sua força para torná-las realidade. Seria algo natural, pois, como se sabe,
nas melhores democracias os partidos, além de representarem correntes de
pensamento, definem-se também pela proposição de programas de governo – isto é,
costumam definir um ideário que os guia no processo de transformação da
realidade. Teoricamente, é o conjunto doutrinário e programático que apresenta
aos eleitores que os torna aceitos (ou não) pela maioria. Sem dúvida, o PT tem
inscritos em seus estatutos e regimentos ideologia e programa que, em
contraposição aos apresentados por outras siglas e candidatos, fizeram dele o
preferido dos brasileiros desde 2002, quando pela primeira vez chegou, com
Lula, ao Palácio do Planalto. Pois bem: o presidente do PT, Rui Falcão,
apresentou, dia desses, aos públicos interno e externo as prioridades que a
legenda vai perseguir durante 2013. Nenhuma dessas tais prioridades, no
entanto, condiz com aquelas que os brasileiros escolheriam. Pelo menos não na
forma e no conteúdo. São duas. A primeira delas é controlar a mídia; a segunda,
fazer a reforma política. Quanto à primeira, não é preciso insistir na
demonstração de que se trata da mais manifesta tentativa de fazer valer o viés
autoritário de seus dirigentes, anos-luz distante do anseio nacional e
absolutamente contrária à democracia que, a duras penas – e graças à liberdade
de imprensa –, o país reconstrói desde os negros tempos do regime militar.
Trata-se tão-somente de uma iniciativa que visa a barrar o incômodo
desmascaramento da atividade subterrânea (e diuturnamente exposta pela mídia)
de muitos de seus militantes incrustados no governo. Trata-se, portanto, de uma
liberdade que precisa ser contida a qualquer custo. A outra prioridade é a
reforma política. Necessária, todos sabem. Mas qual reforma o PT pretende fazer
senão uma que, em vez de promover e fortalecer as bases da democracia, apenas
acrescenta-lhe vícios que precisam ser combatidos? Por exemplo: o pretexto de
eliminar a prática de doações privadas para financiar campanhas, o PT quer
empurrar para o Tesouro a responsabilidade de regar os partidos de dinheiro.
Não há qualquer evidência de que tal medida seja a panaceia ideal para acabar
com o caixa dois ou para evitar compromissos imorais com grupos privados
dispostos a pagar campanhas em troca de proveitos futuros. Outro ponto da
“reforma” política petista diz respeito ao processo de escolha dos candidatos
pelos partidos e de votação popular. A ideia é imitar métodos que ainda
sobrevivem, por exemplo, no Paraguai, isto é, listas fechadas de candidatos
escolhidos a dedo pelas cúpulas partidárias e depois votado em bloco pelos
eleitores. Nada mais contrário à democracia interna das legendas e nada mais
obscuras para permitir decisão consciente do eleitorado. Se porventura vitoriosas
tais propostas, o país será condenado a um retrocesso que encontra paralelismo
com aquele que permitiu a perpetuação no México, por quase um século, da
hegemonia corrupta do Partido Revolucionário Institucional (PRI). Para se ter
noção da qualidade das prioridades partidárias definidas pelo presidente do PT,
basta a alusão de que foram todas aplaudidas pelo notório José Dirceu, que em
seu blog ainda acrescentou a necessidade de o partido demonstrar a “farsa do
mensalão”. Sinal de que a legenda está totalmente fora de sintonia com o
brasileiro. Esses conceitos são rotineiros em todos os segmentos da comunidade.
Antônio Scarcela Jorge
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