quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

COMENTÁRIO - 05/12/2012



COMENTÁRIO
Nostalgia política

NOBRES:

A sociedade sentiu um arrepio na espinha quando­ viu no noticiário uma jovem gaúcha liderar o movimento pela recriação da Aliança Renovadora Na­­cio­­nal, a Arena velha de guerra. Não é a única coisa­­ estranha aventada recentemente. Quem pesquisar um pouco vai achar organizações que defendem a volta da­­ União Democrática Nacional (UDN) e outras que querem instituir quatro siglas monarquistas no Brasil. Todas as tentativas têm uma dose cavalar de nostalgia, só não se sabe muito bem do que. À primeira vista, é difícil de entender os motivos que levam uma mo­­ça de 23 anos, bolsista do Prouni, a querer recuperar os valores conservadores de um partido artificial que entrou em colapso antes mesmo do final da ditadura militar. A Arena, para quem dormiu nas aulas de História do Brasil, surgiu dois anos depois do golpe de 1964, fruto do Ato Ins­­­­­­ti­­­­tucional número dois, que acabou com o pluripartidarismo, e foi enterrada em 1979. Um dos 13 partidos fulminados pelo AI-2 foi a UDN, suprassumo do conservadorismo político brasileiro. A sigla tinha como símbolo Carlos Lacerda, uma das principais lideranças civis favoráveis ao golpe, mas que depois acabou se voltando contra o regime. Pelas redes sociais, os novos udenistas se definem como “de direita, norteados por princípios republicanos, comprometidos com a democracia e as liberdades individuais”. Os monarquistas, claro, vão ainda mais longe no túnel do tempo. O Partido da Real Democracia (PRD) tem um slogan fácil: “O Brasil tem solução real”. Para eles, a rea­­lidade é a realeza, ou seja, a instalação de uma monarquia parlamentarista, que traria de volta a dinastia Orleans e Bragança. Além do PRD, há o partido da Construção Imperial (PCI), o Monárquico Parlamentarista Brasileiro (PMPB) e o do Movimento Monarquista do Brasil (PMMB), nenhum deles com registro definitivo concedido pelo Tribunal Superior Eleitoral. Vale lembrar que, em 1993, no plebiscito que definiu a forma e o sistema político brasileiro, a monarquia recebeu 13,4% dos votos, contra 86,6% do modelo republicano. No mesmo pleito, o presidencialismo ficou com 69,2% dos votos contra 30,8% do parlamentarismo. Todas essas tentativas de resgate político do passado não são um fenômeno apenas do Brasil. Embalados pela crise econômica, movimentos ultranacionalistas pipocam pelos países da Europa. Na Grécia, há relatos de que a polícia tem repassado ações de fiscalização e controle de imigrantes ao partido fascista Aurora Dourada. Esses sim são fenômenos real­­mente assustadores. No caso brasileiro, os movimentos de volta para o passado têm um ar de fanfarronice, mas também demonstram que muita gente não se identifica com a forma de se fazer política no país. O preocupante não é a minoria que quer resgatar um imperador ou o estilo militar de governo, mas o descolamento dos ideais dos partidos que estão em funcionamento com a maioria da sociedade. Quanto mais cresce a movimentação para a fundação de novas legendas, maior é a sensação de que as 30 em funcionamento representam muito pouco, quase nada.
Antônio Scarcela Jorge.



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