COMENTÁRIO
Nostalgia política
NOBRES:
A
sociedade sentiu um arrepio na espinha quando viu no noticiário uma jovem
gaúcha liderar o movimento pela recriação da Aliança Renovadora Nacional, a
Arena velha de guerra. Não é a única coisa estranha aventada recentemente.
Quem pesquisar um pouco vai achar organizações que defendem a volta da União
Democrática Nacional (UDN) e outras que querem instituir quatro siglas
monarquistas no Brasil. Todas as tentativas têm uma dose cavalar de nostalgia,
só não se sabe muito bem do que. À primeira vista, é difícil de entender os
motivos que levam uma moça de 23 anos, bolsista do Prouni, a querer recuperar
os valores conservadores de um partido artificial que entrou em colapso antes
mesmo do final da ditadura militar. A Arena, para quem dormiu nas aulas de
História do Brasil, surgiu dois anos depois do golpe de 1964, fruto do Ato Institucional
número dois, que acabou com o pluripartidarismo, e foi enterrada em 1979. Um
dos 13 partidos fulminados pelo AI-2 foi a UDN, suprassumo do conservadorismo
político brasileiro. A sigla tinha como símbolo Carlos Lacerda, uma das
principais lideranças civis favoráveis ao golpe, mas que depois acabou se
voltando contra o regime. Pelas redes sociais, os novos udenistas se definem
como “de direita, norteados por princípios republicanos, comprometidos com a
democracia e as liberdades individuais”. Os monarquistas, claro, vão ainda mais
longe no túnel do tempo. O Partido da Real Democracia (PRD) tem um slogan
fácil: “O Brasil tem solução real”. Para eles, a realidade é a realeza, ou
seja, a instalação de uma monarquia parlamentarista, que traria de volta a
dinastia Orleans e Bragança. Além do PRD, há o partido da Construção Imperial
(PCI), o Monárquico Parlamentarista Brasileiro (PMPB) e o do Movimento
Monarquista do Brasil (PMMB), nenhum deles com registro definitivo concedido
pelo Tribunal Superior Eleitoral. Vale lembrar que, em 1993, no plebiscito que
definiu a forma e o sistema político brasileiro, a monarquia recebeu 13,4% dos
votos, contra 86,6% do modelo republicano. No mesmo pleito, o presidencialismo
ficou com 69,2% dos votos contra 30,8% do parlamentarismo. Todas essas
tentativas de resgate político do passado não são um fenômeno apenas do Brasil.
Embalados pela crise econômica, movimentos ultranacionalistas pipocam pelos
países da Europa. Na Grécia, há relatos de que a polícia tem repassado ações de
fiscalização e controle de imigrantes ao partido fascista Aurora Dourada. Esses
sim são fenômenos realmente assustadores. No caso brasileiro, os movimentos
de volta para o passado têm um ar de fanfarronice, mas também demonstram que
muita gente não se identifica com a forma de se fazer política no país. O
preocupante não é a minoria que quer resgatar um imperador ou o estilo militar
de governo, mas o descolamento dos ideais dos partidos que estão em
funcionamento com a maioria da sociedade. Quanto mais cresce a movimentação
para a fundação de novas legendas, maior é a sensação de que as 30 em funcionamento
representam muito pouco, quase nada.
Antônio
Scarcela Jorge.
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