CONCEITUAÇÃO:
Com a validação
de leis para ampliar a transparência e evitar a chegada de políticos ímprobos
ao governo, parlamentares têm dito que o Brasil fez de 2012 um marco na
histórica luta contra a corrupção. Embora ainda seja cedo para detectar
mudanças efetivas na incidência de crimes contra o erário, representantes de
órgãos de controle avaliam que este ano representa uma mudança de fase no
combate à corrupção. Isso porque, diante das novas leis, apontam, a população
passa a se ver como responsável por um auxílio essencial ao trabalho
institucional de fiscalização dos gastos públicos. A vigência da Lei Geral de Acesso à Informação, a validação da Lei da Ficha
Limpa nas eleições deste ano e mesmo o julgamento do Mensalão são iniciativas
importantes no sentido de evitar que, anualmente, R$ 69,1 bilhões continuem
sendo desperdiçados no País por conta de crimes de corrupção, conforme aponta
um estudo realizado no ano passado pela Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (Fiesp). A secretária de controle externo do Tribunal de Contas da
União (TCU) no Ceará, Shirley Brito, afirma que essas iniciativas, embora ainda
sejam recentes, já vêm provocando reflexos no trabalho da Corte. Ela explica
que, além das medidas proporcionarem agilidade no intercâmbio de informações
importantes à fiscalização, o acompanhamento da população sobre as políticas
públicas tem direcionado alguns trabalhos. Em outra perspectiva, o chefe da
Controladoria Geral da União no Ceará (CGU), Luiz Fernando Menescal, pondera
que reflexos mais efetivos dessas iniciativas deverão ser identificados em
médio prazo. Por hora, analisa, o cenário se mantém o mesmo do ano passado.
Para ele, é preciso avançar em duas questões principais: o combate à impunidade
e a qualificação do cidadão para o controle social. Conforme explica Luiz
Fernando Menescal, para se ter uma fiscalização efetiva, é preciso um controle
social atuante e eficaz. "Não adianta apenas o controle institucional,
seja do Ministério Público, da CGU ou dos Tribunais de Contas. É essencial, mas
o controle social é muito importante porque a gente consegue uma capilaridade
maior. A gente consegue ultrapassar limitações operacionais que nós, enquanto
instituição. O chefe da CGU ainda destaca que, para um controle social atuante,
é preciso transparência e qualificação. “A sociedade precisa ter acesso às
informações e saber o que fazer com elas”. A Lei Geral de Acesso é um
coroamento do processo gradativo que vem ocorrendo no Brasil, durante a última
década, para aumentar a transparência". Luiz Fernando Menescal acredita
que resultados da Lei na atuação da CGU só deverão aparecer, de fato, à medida
que esse conhecimento da população for sendo alcançado, em médio e longo prazo,
por se tratar de uma mudança cultural. Nesse primeiro momento, afirma, não houve
mudanças substanciais. "Talvez alguns detalhes em termos de metodologia, alguns aprimoramentos
naturais ao trabalho de fiscalização. Mas se nós pensarmos em termos do cenário
no resultado das fiscalizações feitas, basta consultar os relatórios da CGU para
chegar a conclusão de que o cenário ainda se mantém o mesmo. A gente tem a
mesma incidência de irregularidades e a mesma natureza também", afirma. Por
outro lado, considera Luiz Fernando Menescal, a vigência da Lei Geral de Acesso
mostra que existe uma demanda significativa da população no primeiro momento e
que o governo tem mostrado disposição para prestar os dados. "Em 2012, com
seis meses da vigência da lei, tivemos, no âmbito federal, cerca de 50 mil
pedidos e 90% deles já foram atendidos", contabiliza. Segundo ele, é
importante que a CGU acompanhe, nos próximos meses, a implantação da Lei em
estados e municípios. "É nos municípios que o cidadão tem contato com os
problemas mais concretos, então o acesso à informação tem uma outra
consequência", declara. Para a secretária de controle externo do TCU no
Ceará, Shirley Brito, os avanços na transparência fazem parte do exercício da
democracia. "Houve uma época que o cidadão sequer tinha a informação.
Hoje, a informação está lá, mas ele precisa de um pouco de tempo para conseguir
compreender aquele conteúdo. As pessoas começam a entrar mais nos sites,
compreender melhor e perceber que o gestor é obrigado a prestar contas de tudo
o que ele faz", aponta. Em relação às influências da Lei Geral de Acesso
no trabalho do TCU, Shirley Brito explica que as normas vêm para fortalecer a
fiscalização através de uma troca de informações que já vinha ocorrendo desde
2009, com a criação da rede de controle. "Alguns dados não estavam ainda
públicos, mas essa troca melhorou o trabalho dos órgãos de controle",
considera. A partir desse intercâmbio de informações, ela lembra que foi
realizado um trabalho para fiscalizar alguns programas federais, como por
exemplo, o Bolsa Família, nos municípios e ainda para estender as investigações
de operações deflagradas pela Polícia Federal, a exemplo da Gárgula e da
Conífera. "Fiscalizamos 11 municípios, R$ 35 milhões em recursos
aplicados. Alguns desses processos motivaram cautelares para que os recursos
não fossem repassados por identificação de desvios. Os processos estão
abertos", diz, acrescentando que alguns foram convertidos em tomadas de
contas especiais. Com a ampliação da transparência, a expectativa é de que esse
trabalho seja intensificado. "Nas demandas da Lei Geral de Acesso, dados
não prestados ou denúncias da população têm direcionado um pouco da nossa
atividade. A atividade do Tribunal foi extremamente enriquecida. Nada mais
sensível do que o cidadão que está no Município".
EDISON SILVA
EDITOR
DE POLÍTICA
Fonte: DN
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