PT cobrava 'pedágio' de
agências, diz Valério.
O empresário Marcos Valério
Fernandes de Souza afirmou no depoimento prestado em 24 de setembro à
Procuradoria-Geral da República que dirigentes do Banco do Brasil estipularam,
a partir de 2003, uma espécie de pedágio às agências de publicidade que
prestavam serviços para a instituição financeira pública: 2% de todos os
contratos eram enviados para o caixa do PT, acusou o homem apontado como o
operador do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. O Estado revelou ontem que,
neste mesmo depoimento, dado à subprocuradora da República Cláudia Sampaio e à
procuradora da República Raquel Branquinho, Valério afirmou que dinheiro do
esquema que pagou parlamentares do Congresso entre 2003 e 2005 também serviram
para pagar "despesas pessoais" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. O empresário também afirmou, entre uma série de novas acusações, que
Lula deu "ok" aos empréstimos fraudulentos que viriam a irrigar o
mensalão. Segundo Valério disse no depoimento, o suposto esquema de desvio de
dinheiro público que teria de ir para a publicidade foi criado por Henrique
Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil - também condenado no julgamento do
mensalão -, e Ivan Guimarães, ex-presidente do Banco Popular do Brasil, No
período conhecido como de operação plena do mensalão, de 2003 a 2004, o Banco
do Brasil pagou, segundo dados CPI dos Correios, pelo menos R$ 434 milhões a
agências de publicidade. Ao longo desse período de dois anos, a DNA, empresa de
Valério que detinha um dos contratos, aumentou sua participação nos acordos
enquanto o bolo das demais agência declinava. Ainda no primeiro ano de governo
do ex-presidente Lula, a DNA conseguiu renovar o contrato com o Banco do
Brasil. O valor estimado dos gastos de publicidade era de R$ 152,8 milhões,
segundo informações do Ministério Público Federal. A renovação teria rendido ao
ex-diretor de Marketing Henrique Pizzolato, réu no processo do mensalão, mais
de R$ 300 mil de contrapartida. Além da DNA, a licitação 01/2003 originou
contratos com a Ogilvy Brasil Comunicação Ltda e a D+Brasil Comunicação Total.
Entre março de 2000 e junho de 2005, a agência de Valério respondia por 39,77%
da verba publicitária do banco. Os dados são da CPI dos Correios. Os contratos
firmados em setembro de 2003 entre o Banco do Brasil e as três agências
alcançavam todo o conglomerado do Banco do Brasil, incluindo empresas ou
entidades que fossem criadas e a Fundação Banco do Brasil. Comandado por Ivan
Guimarães, o Banco Popular do Brasil funcionava como uma subsidiária integral,
cuja autorização de funcionamento foi publicada em dezembro de 2003. O
ex-presidente também esteve envolvido no episódio da compra do apartamento da
ex-mulher de José Dirceu por Rogério Tolentino, sócio de Marcos Valério. Segundo
o MPF, os desvios no Banco do Brasil foram praticados por meio do chamado bônus
de volume, que consistia na violação de cláusulas de contrato que permitiam a
DNA se apropriar de valores que teriam que ser devolvidos. Pizzolato teria
autorizado a prática em troca de propina. O que o depoimento de Marcos Valério
revela agora é que a negociação teria incluído outra cláusula: o repasse para o
PT. Além disso, os recursos de publicidade fornecidos pela Visanet do Banco do
Brasil teriam sido desviados por meio de antecipações autorizadas por Pizzolato
em benefício da empresa de Marcos Valério. Na denúncia, o MPF afirma que o
dinheiro foi repassado sem que o serviço tivesse sido prestado e sem qualquer
garantia de contrapartida. O contrato da DNA com o Banco do Brasil sequer
atingia as verbas de publicidade da Visanet.
Fonte: O
Estadão.
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