PARA RELATOR DA LAVA JATO, FORO PRIVILEGIADO É 'INCOMPATÍVEL COM O PRINCÍPIO REPUBLICANO'
Supremo Tribunal Federal poderá
discutir se restringe o direito para casos ocorridos durante mandato; ministro
Edson Fachin diz defender maior 'contenção' do tribunal.
O ministro Edson Fachin, novo relator da Operação Lava Jato no Supremo
Tribunal Federal (STF), afirmou nesta sexta-feira (17) ter uma posição
“crítica” em relação ao foro privilegiada o direito de autoridades e políticos
serem julgados em instâncias superiores.
Nesta semana, Barroso decidiu levar para o plenário do STF uma proposta
para restringir o foro, a partir de uma ação penal contra o prefeito de Cabo
Frio, Marquinhos Mendes (PMDB-RJ), acusado de compra de votos em 2008 e que
posteriormente assumiu como deputado federal – essa condição levou o caso ao
STF, tribunal onde deputados federais e senadores têm foro.
- Se o fato imputado, por
exemplo, foi praticado anteriormente à investidura no mandato de parlamentar
federal, não se justificaria a atribuição de competência ao STF, defende
Barroso.
Fachin se diz crítico do foro privilegiado. “Eu, já de muito tempo,
tenho subscrito uma visão crítica do chamado foro privilegiado por entendê-lo
incompatível com o princípio republicano, que é o programa normativo que está
na base da Constituição brasileira”, afirmou o ministro.
Ele disse que agora caberá ao STF decidir se pode restringir o instituto
ou se eventuais mudanças só devem ser realizadas pelo Congresso, referindo-se à
proposta de Barroso de deixar na Corte só as investigações de crimes cometidos
no exercício de mandatos ou cargos públicos.
- O debate será se a interpretação constitucional pode cobrir essa
alteração ou se isso dependerá de alteração legislativa e, portanto mudança
legislativa.
Eu, na Corte de modo geral, tenho me inclinado por uma posição de maior
contenção do tribunal, mas nós vamos examinar a proposta e no momento certo
vamos debater, afirmou o ministro.
Ao enviar a ação para o plenário, Luis Roberto Barroso também justificou
argumentando com o congestionamento de processos no Supremo.
- No presente caso, por exemplo, as diversas declinações de competência
estão prestes a gerar a prescrição pela pena provável, de modo a frustrar a
realização da justiça, em caso de eventual condenação.
De outro lado, a movimentação da máquina do STF para julgar o varejo dos
casos concretos em matéria penal apenas contribui para o congestionamento do
tribunal, em prejuízo de suas principais atribuições constitucionais, escreveu
o ministro, no despacho que submeteu o caso para apreciação dos 11 ministros da
Corte.
Senado.
O fim do foro privilegiado para políticos foi assunto também no Senado
nesta sexta-feira (17).
A senadora Ana Amélia (PP-RS) e a líder do PT no Senado Gleisi Hoffmann
(PR) falaram com os jornalistas após discursar na tribuna do plenário.
Gleisi disse assumir uma posição contrária ao foro privilegiado porque,
segundo ela, todos merecem o mesmo tratamento na Justiça, independentemente de
cargos ou mandatos.
- Minha posição pessoal não como bancada, eu sou contra o foro
privilegiado. Acho que todos têm que ter o mesmo tratamento perante a Justiça,
independente do cargo que ocupam, e a Justiça não tem que fazer política. Em
segundo lugar, acho que o Congresso tem que debater, o Supremo está legislando muito,
afirmou.
A senadora Ana Amélia assumiu já ter defendido o fim do foro
privilegiado de forma irrestrita.
Mas, hoje, ela diz acreditar que a prerrogativa é necessária para ações
no exercício do mandato, somente para os presidentes da República, do Supremo
Tribunal Federal, da Câmara, do Senado e para governadores.
- Não podemos reclamar de novo da
interferência do Judiciário em questões políticas porque nós não estamos
fazendo o dever de casa.
- Eu, pessoalmente, defendia o fim do foro privilegiado para todas as
áreas, as eu entendo também que isso seria um radicalismo fora de propósito
porque um gestor público lida com uma complexidade muito grande de temas, e às
vezes uma questão, não por intenção de fazer errado ou de cometer uma ilicitude,
aquilo é feito e praticado.
Fonte: G1 – DF.
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