NOVO RELATOR, FACHIN SEGUIU TEORI NAS PRINCIPAIS DECISÕES SOBRE LAVA JATO.
Com votos sintéticos e sem comentários, ministro acompanhou antigo relator nos poucos casos da Operação Lava Jato.
O ministro
Edson Fachin, do Superior Tribunal Federal (STF), que herdou todos os processos
da Lava Jato relatados por Teori Zavascki.
O novo relator da Operação Lava Jato no Supremo
Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Edson Fachin, acompanhou todas as
decisões mais importantes de Teori Zavascki, seu antecessor na função, quando
assuntos controversos do caso foram levados ao plenário da Corte.
Fachin raramente teve de se debruçar sobre processos
do esquema de corrupção investigado pela operação porque não integrava a
Segunda Turma, responsável pela análise da Lava Jato e da qual fazia parte
Teori, morto no mês passado. O novo relator só examinava pedidos que necessitassem
de decisão de todos os 11 ministros do STF.
Nesses casos, Fachin nunca divergiu de Teori, sempre
referendando o voto do relator, com descrições mais sintéticas da controvérsia
e quase sem comentários sobre os políticos envolvidos, reforçando o perfil de
discrição que se tornou marca de sua atuação na Corte.
Eduardo Cunha.
Numa das decisões mais graves do STF e inédita na
história da República, o STF decidiu afastar da presidência da Câmara e do
mandato parlamentar o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por entender
que ele usava o cargo para prejudicar as investigações da Lava Jato e o
andamento do processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara.
A decisão foi unânime, com 11 votos a favor. Ao
acompanhar Teori, Fachin elogiou a decisão do colega, abrindo mão de mais
argumentos contra o peemedebista.
“Não obstante a densidade e a gravidade não vêem
necessidade de reiterar os argumentos que já foram de modo acutíssimo expostos
pelo relator. Eu referendo a liminar, e, portanto acompanho integralmente o
ministro Teori Zavascki”, afirmou no plenário.
Em março de 2016, Fachin também acompanhou
integralmente o voto de Teori Zavascki para receber uma denúncia e tornar
Eduardo Cunha réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Ele foi acusado de exigir e receber ao menos US$ 5
milhões em propina por "facilitar e viabilizar" a contratação de dois
navios-sonda pela Petrobras para operar no Golfo do México e na África. No
julgamento, todos os dez ministros presentes votaram contra o ex-deputado.
Em seu voto, com a ressalva de que aquela decisão não
significava uma condenação, Fachin disse que a denúncia era “perfeitamente
compreensível” e deveria ser aceita pelo STF.
“Como bem ressaltado no voto do eminente relator Teori
Zavascki, há veementes indícios probatórios de que Eduardo Cunha, pelo menos a
partir de 2009, inclusive com o auxílio de Solange Pereira de Almeida, aderiu
ao esquema criminoso de propina instalado na área internacional da estatal
Petrobrás S.A., fazendo uso espúrio de seu mandato parlamentar para exigir o
pagamento de valores prometidos por Júlio Camargo a Fernando Soares e a Nestor
Cerveró, figurando também como credor de parte desses valores”, resumiu o
ministro.
Em junho de 2016, o STF tornou Cunha réu novamente,
desta vez por suposto recebimento de R$ 5,2 milhões em propina a partir da
compra pela Petrobras de um campo de petróleo em Benin, na África. O dinheiro
teria sido movimentado em contas secretas na Suíça.
Novamente, Fachin acompanhou Teori, numa decisão
unânime entre os 11 ministros da Corte.
“Em primeiro lugar, há suporte fático apto ao
recebimento da denúncia. Em segundo lugar, há elementos idôneos sobre a
materialidade do crime. E em terceiro lugar, há, quando menos, uma dimensão
indiciária sobre a autoria”, sintetizou Fachin em seu voto.
Lula.
Fachin também corroborou decisão de Teori, em março de
2016, que retirou do juiz federal Sérgio Moro as investigações sobre o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, envolvendo favores de empresários na
reforma de um sítio em Atibaia (SP) e de tríplex em Guarujá (SP).
A remessa das investigações ao STF se deu pelo
envolvimento de autoridades com foro privilegiado gravadas em diversas
conversas telefônicas grampeadas e divulgadas por Moro, incluindo a então
presidente Dilma Rousseff.
No voto, Fachin acompanhou Teori, mas lembrou de sua
posição crítica ao foro privilegiado.
“Não está em questão, ainda que seja pertinente, o
debate que poderia ser feito sobre essa prerrogativa de foro. Eu já tive
oportunidade nesta Suprema Corte da posição crítica que tenho dessa figura
jurídica”, disse o novo relator da lava jato.
STF confirma decisão temporária de Teori sobre Lula.
Validade de delação.
Em agosto de 2015, o STF foi unânime em validar a
delação premiada do doleiro Alberto Youssef.
Embora a delação tenha sido homologada por Teori
Zavascki, um diretor da construtora Galvão Engenharia, citado nos depoimentos
como participante de crimes, contestou a validade do acordo.
Na ocasião, Fachin acompanhou o relator da ação, Dias
Toffoli, em favor da delação e da decisão de Teori em homologá-la, sob o
argumento de que as declarações do delator, por si só, não são suficientes para
condenar quem ele citou.
“As declarações do colaborador, portanto, só têm
validade se forem corroboradas por outros elementos de prova, o que significa
dizer que, sozinhas, suas palavras, em face do delatado, nenhum efeito jurídico
produzem”, afirmou.
No mesmo julgamento, Fachin também discutiu sobre uma
questão jurídica controversa: o meio pelo qual uma pessoa afetada por decisão
de um ministro do STF pode contestá-la junto à própria Corte. O ministro
entendeu que isso é possível, mas desde que apresentando ações apropriadas para
isso.
“Pois bem, tenho, para mim, que a solução é muito
simples, porque, tirante os atos divinos, os humanos de um modo geral estão
submetidos a recurso, inclusive dos seres humanos que são os ministros do
Supremo Tribunal Federal”, disse, à época.
Divisão da Lava Jato.
Em setembro de 2015, por 8 votos a 2, o STF decidiu
desmembrar as investigações da Lava Jato, de modo que fatos narrados por
delatores do caso, mas sem relação com desvios na Petrobras, pudessem sair da
relatoria de Teori Zavascki e serem repassados a outros ministros.
O próprio Teori havia recusado relatar uma
investigação envolvendo a senadora Gleisi Hoffmann e seu marido, o ex-ministro
Paulo Bernardo, por suposto recebimento de propina de uma empresa de software
contratada pelo Ministério do Planejamento.
A questão foi levada a plenário e, em seu voto, Fachin
concordou que o caso poderia ser repassado a outro ministro, no caso, Dias
Toffoli.
“Percebo que o ponto nodal daquilo que ora nos pomos a
decidir é a consideração sobre seus supostos desvios ocorridos no âmbito da
Petrobras, se os supostos desvios ocorridos no âmbito do Ministério do
Planejamento têm um ponto de intersecção comum que justifique apuração perante
o mesmo juízo. Depreendi do voto, dos fatos que examinei que não há”, afirmou.
Fonte: G1 – DF.
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