segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - SEGUNDA-FEIRA, 20 DE FEVEREIRO DE 2017

SCARCELA JORGE








COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge.

A CONTRAFAÇÃO ABATEU A EXPECTATIVA.

Nobres:
Infelizmente a crise produzida pela corrupção faz parte do cotidiano do brasileiro. Ela é tão presente que se tornou algo comum, não mais causando surpresa, como se fosse algo integrante da nossa normalidade, da cultura nacional, a ponto de gerar aparente indiferença e insensibilidade. Trata-se de uma crise moral sem precedentes, porquanto as autoridades que deveriam dar exemplo de retidão à população são exatamente as pessoas envolvidas nas “tenebrosas transações” permanentemente divulgadas pela imprensa. Não é novidade que esses fatos interferem na vida de todos, pois a crise gerada pela corrupção, para além da perspectiva ética, é a principal responsável pela crise política existente na República, além da crise econômica revelada pelos índices negativos de crescimento econômico e desemprego, e a crise no setor público, como é o notório caos do estado do Rio de Janeiro. Nesse quadro dantesco, como uma resposta possível ao enfrentamento da corrupção, o Ministério Público Federal formulou propostas conhecidas como “Dez Medidas Contra a Corrupção”, transformadas em projeto de lei de iniciativa popular, com o apoio de mais de dois milhões de cidadãos. Antes da votação na Câmara dos Deputados, o projeto recebeu um substitutivo, excluindo-se do original as restrições ao uso do habeas corpus; a validação, em certas circunstâncias, de provas obtidas de forma ilícita; e a ampliação das hipóteses de prisão preventiva. O teste de integridade sofreu alterações, restringindo-se os seus efeitos ao âmbito disciplinar. Entretanto, a reação parlamentar foi ostensivamente contrária. Em seu lugar foram aprovados projetos em sentido inverso àqueles apresentados, impedindo ou restringindo o combate à corrupção ao dificultar o trabalho de investigação e processamento dos casos, sem falar da transformação em crime de abuso de autoridade o próprio desempenho das atividades do Ministério Público e do Poder Judiciário. Esse é o legado de uma maioria de deputados federais que, numa madrugada, afastou a possibilidade de aprimoramento do sistema de controle judicial da corrupção. Em outras palavras, as condições para a prática da corrupção foram mantidas pelas oligarquias historicamente dominantes na política brasileira. As bases para a permanência das crises moral, política e econômica restaram preservadas. Ao menos por enquanto, a corrupção venceu. Cabe ao povo dizer, do alto de sua soberania, se é isso que ele deseja. Em suma, acreditamos que não.

Antônio Scarcela Jorge.

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