PETROBRAS REGISTRA
PREJUÍZO DE R$ 22 BILHÕES EM 2014.
A estatal divulgou ontem o balanço auditado, com as perdas por
corrupção, após uma série de atrasos.
Rio. Com impacto do lançamento de
perdas de R$ 6,194 bilhões relacionados à corrupção e outros R$ 44,345 bilhões
à reavaliação dos ativos, a Petrobras registrou, em 2014, prejuízo de R$ 21,587
bilhões ante o lucro de R$ 23,4 bilhões registrado em 2013.
A divulgação das demonstrações
contábeis auditadas de 2014 em atraso, dos dois últimos trimestres e da anual,
foi feita ao mercado às 19h23 de ontem. As do terceiro trimestre estavam
atrasadas havia 159 dias, e a anual, 22 dias.
No ano passado, a receita de
vendas da companhia atingiu R$ 337,26 bilhões, alta de 11% ante 2013, graças
aos reajustes nos preços do diesel e da gasolina autorizados pelo governo e o
efeito do câmbio.
Endividamento recorde.
Já o endividamento total da
companhia atingiu R$ 351 bilhões, um aumento de 31% em relação ao ano anterior,
um recorde no setor de petróleo mundial.
O indicador de dívida líquida
sobre geração de caixa saltou de 3,52 para 4,77 -um índice considerado saudável
para o mercado é de 2,5. A dívida cresceu por conta das captações e da
desvalorização do real. A metodologia usada para a baixa por corrupção
considerou principalmente os depoimentos em delação premiada feitos por
executivos que participaram do esquema de corrupção, revelado pela Operação
Lava Jato da Polícia Federal.
Segundo o gerente executivo de
Desempenho da Petrobras, Mário Jorge Silva, a empresa considerou os depoimentos
"consistentes em relação ao cartel, ao período em que operou às empresas
que participaram e os valores máximos", para efeito de lançamento no
balanço. "Isso nos dá segurança de registrar essa perda no balanço".
Já a baixa por
"impairment", ou seja, ajuste nos valores dos ativos em relação à
capacidade de gerar receita no futuro e ao que foi investido foi decorrente da
queda no preço do barril, do adiamento de projetos em refino para preservação
de caixa e da revisão da demanda em petroquímica.
O preço do petróleo teve impacto
negativo de R$ 5,6 bilhões nos investimento de exploração e produção. O
adiamento de projetos em refino levou ao reconhecimento de perda de R$ 21,8
bilhões no Comperj, refinaria em construção no estado do Rio e de R$ 9,1
bilhões na refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. As obras das duas
refinarias foram alguns dos principais alvos de atuação do cartel que sustentou
o esquema de corrupção na empresa. Foi reconhecida uma baixa de R$ 3 bilhões
relativa à Petroquímica de Suape, em Pernambuco.
O lançamento das perdas de
corrupção foi exigência da PWC, empresa que audita as demonstrações financeiras
da estatal. Foi decorrente da revelação, pela Operação Lava Jato, do
funcionamento de um cartel de empresas que a partir de 2004 -com a participação
de diretores da Petrobras- combinava resultados de licitações da companhia e
cobrava percentuais entre 1% 3% para abastecer o esquema, segundo depoimentos.
O esquema veio à tona em outubro,
o que levou a PwC a pedir para que a Petrobras aprofundasse as investigações
sobre corrupção, atrasando o balanço do terceiro trimestre.
Com as evidências do desvio de
recursos, a empresa teve de calcular o que foi lançado indevidamente como
investimento, mas que, na verdade, foi desviado em propina.
Número descartado.
Em janeiro, duas consultorias
contratadas por Graça Foster chegaram a uma conta que mostrava ativos
superavaliados em R$ 88,6 bilhões.
Conselheiros e diretores
concluíram, porém, que o número incorporava outras perdas além da corrupção,
como variação do câmbio e do barril, além de ineficiência dos projetos.
Mesmo assim, o número foi
revelado ao mercado, deixando a presidente Dilma Rousseff irritada. O episódio
gerou uma crise que resultou na saída de Graça e de cinco diretores, no início
de fevereiro. No ano passado, a produção de petróleo da Petrobras no Brasil
cresceu 5,3%, resultado abaixo da meta inicial - de 7,5% com um ponto
percentual de tolerância para menos.
Bendine diz que estatal não vai dar marcha ré.
Rio. Em sua
primeira aparição pública como presidente da Petrobras, Aldemir Bendine
afirmou, na noite de ontem (22), que a "Petrobras não vai parar, não vai
entrar em marcha ré".
O presidente da estatal, que fez
um breve discurso antes da divulgação do balanço de 2014, em que a empresa
apresentou um prejuízo líquido de R$ 21,587 bilhões e uma perda direta com a
corrupção de R$ 6,194 bilhões, afirmou que a apresentação dos resultados
operacionais e contábeis é um passo fundamental "em direção ao pleno resgate
da credibilidade da Petrobras juntos aos seus acionistas, fornecedores, ao
mercado e à sociedade".
Bendine afirmou que a empresa
caminha rumo ao "esclarecimento completo dos desvios que foram praticados
dentro da companhia, corroendo o patrimônio de seus acionistas e, portanto, de
todos os brasileiros".
Sem ressalvas.
O presidente afirmou ainda que o
balanço foi aprovado sem ressalvas pela auditora externa PwC. A negativa da
auditora em assinar o balanço sem que houvesse a baixa do valor da corrupção
foi o principal motivo que levou a Petrobras a atrasar a publicação do balanço
anual em 22 dias. "A partir daqui a Petrobras volta a garantir a
normalidade de seu relacionamento com investidores, acionistas e credores no
Brasil e no exterior", disse.
"Estamos passando a limpo os
erros cometidos no trato com recursos da companhia para podermos lidar com o
mercado com a transparência que ele exige e merece receber".
Segundo Bendine, parte do valor
da corrupção de R$ 6,194 bilhões foi levantada pela própria empresa. Uma
segunda só teria sido possível chegar com as investigações do Ministério
Público e da Polícia Federal. A primeira tarefa da empresa, disse ele, foi
fazer uma reavaliação dos ativos com o chamado teste de imparidade (impairment,
no jargão em inglês), que busca trazer a valor presente as receitas futuras de
suas unidades. "Precisávamos criar um modelo contábil capaz de retratar
com fidelidade a reavaliação dos ativos da companhia por conta das mudanças do
mercado", disse.
Fonte: Agência Brasil.
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