OS EFEITOS DA LAVA JATO NO CEARÁ.
Quatro meses após a Operação Lava
Jato determinar a prisão dos primeiros executivos das maiores empreiteiras do
País, as principais obras executadas por empresas envolvidas no escândalo têm
andamento prejudicado no Ceará.
A partir da próxima
segunda-feira, 6, a construção do Centro de Formação Olímpica (CFO), no valor
de R$ 250 milhões, e do anel viário, orçado em R$ 240 milhões, serão
paralisadas por tempo indeterminado.
A interrupção nos trabalhos de
duas das importantes obras do Ceará foi confirmada pela própria construtora
responsável, a Galvão Engenharia. Em nota, a companhia diz que o CFO será
paralisado por “falta de pagamento” e o anel viário, por “não haver definição de
ritmo nos trabalhos”. Dois executivos do alto escalão da empreiteira estão
presos na Operação Lava Jato. Apesar disso, o governo diz que os projetos estão
garantidos.
Na última quinta-feira, O POVO visitou canteiros de três
grandes obras em execução no Estado. Além do CFO e do anel viário, tocados pelo
Estado, foi visitada também a obra de requalificação da avenida Beira-Mar,
realizada pela Prefeitura de Fortaleza. Iniciada em fevereiro de 2013 e ainda
na primeira etapa, ela está sob responsabilidade da Camargo Corrêa, outra
empresa investigada na Lava Jato.
Segundo especialistas, as
empresas envolvidas na operação que desviou dinheiro da Petrobras terão
dificuldades para contrair empréstimos.
Com os desdobramentos da Lava
Jato, instituições financeiras temem o calote.
De acordo com o chefe de gabinete
do Governo do Estado, Élcio Batista, os efeitos das investigações em “nada
afetarão” o Ceará. “Os contratos estão sendo acompanhados”, assegura. Batista
afirma que os entraves se devem à complexidade das intervenções. “No anel
viário, por exemplo, existem desapropriações. Tudo isso será resolvido. As
obras estão garantidas.”
Abandono
Na visita aos canteiros, porém, a
situação encontrada foi outra. Em trechos do anel viário, para o qual já foram
liberados R$ 154,8 milhões, os únicos funcionários trabalhando eram vigias. Nos
dois viadutos previstos, os sinais são de abandono, com material já danificado.
No CFO, o movimento na manhã da
última quinta-feira era reduzido. No local, um grupo de operários informou que
estava “tudo parado”, à exceção da instalação do gramado no entorno do prédio,
que já acumulava lixo. Até agora, o Estado desembolsou R$ 196,1 milhões pela
obra.
Na primeira fase da
requalificação da Beira Mar, os trabalhos no Mercado dos Peixes estão em ritmo
lento.
Na quinta-feira, havia poucos trabalhadores no local. Em alguns galpões, apenas uma dupla de operários dava acabamento a um dos boxes.
Na quinta-feira, havia poucos trabalhadores no local. Em alguns galpões, apenas uma dupla de operários dava acabamento a um dos boxes.
RESPOSTA
1 Em nota, a Secretaria dos
Esportes do Ceará (Sesporte) afirmou que o cronograma do CFO foi readequado
para o fim de junho. Segundo a pasta, falta apenas a conclusão do sistema de
refrigeração do ginásio principal, que é “extremamente complexo”. A Sesporte confirma
ainda diminuição recente no número de operários no canteiro, em decorrência da
redução da “complexidade” das etapas da obra nos últimos meses.
2 O POVO tentou
entrar em contato com a Secretaria do Turismo de Fortaleza, por meio do celular
do secretário Elpídio Nogueira e da assessoria de imprensa, mas não obteve
resposta.
A Camargo Corrêa, que toca as
obras de requalificação da avenida Beira-Mar, também foi procurada, mas sem
sucesso. Nas últimas semanas, no entanto, a pasta vem reforçando prazo de
entrega do Mercado dos Peixes - inicialmente previsto para fevereiro para o mês
de junho. Ela afirma que obra já está em estágio final.
3 Sobre o anel viário, Élcio Batista, chefe de gabinete do Governo do
Estado, destaca que a ação possui alta complexidade, sendo demandados estudos
sobre desapropriação de residências atingidas pelo projeto.
Ele destaca, no entanto, que o
governo tem experiência de controladoria interna “entre as mais bem sucedidas
do País” e que tudo será acompanhado de perto pelo governo.
Centro Olímpico
Orçada em R$ 250,4 milhões, já
teve liberados R$ 196,1 milhões. Com paralisação anunciada para a próxima
segunda-feira, a obra já estava adiantada em campos e alojamentos. Ideia é
criar centro para formar atletas de olho nas Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro.
Anel viário
A obra, ligando municípios da
Região Metropolitana de Fortaleza, ainda está bastante atrasada em alguns
pontos. Dois viadutos previstos, por exemplo, estão abandonados e causam
constantes engarrafamentos. Orçada em R$ 240,8 milhões, já recebeu R$ 154,8
milhões.
Avenida Beira Mar
A obra, orçada em R$ 231,9
milhões, se encontra quase parada em seu primeiro estágio, o do Mercado dos
Peixes. Com prazo de entrega para junho,comerciantes estão vendendo pescado em
boxes improvisados na Beira Mar, a maioria com estrutura precária.
NÚMEROS
728 milhões de reais é o valor das
três ações tocadas por Estado e Prefeitura de Fortaleza.
4 executivos presos pela Lava Jato
integravam o alto escalão da Galvão e da Camargo Corrêa. Atrasos com obras
realizadas por empresas envolvidas na Operação Lava Jato não são exclusividade
do Ceará. No Rio de Janeiro, empreiteiras que gerenciam obras para as
Olimpíadas de 2016 já anunciaram demissões de operários. As mudanças colocam em
xeque obras como as do Complexo Esportivo de Deodoro, que teve 550 operários
demitidos.
Afundada em dívidas, a OAS, uma
das empresas envolvidas, tenta vender sua participação na gerência das arenas
Dunas e Fonte Nova, em Natal e Salvador, respectivamente.
No Ceará, empreiteiras investigadas
na Lava Jato tocam as obras da Transnordestina e da transposição de rio São
Francisco. O projeto da ponte estaiada também será feito por uma das empresas -
a OAS. As obras da Transnordestina no Estado também executadas pela Odebrecht,
envolvida no escândalo. No fim do ano passado, a obra passou para a Marquise.
Fonte: O POVO.
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