Atuação pouco inspirada e vitória magra sobre a Sérvia despertaram
críticas. Mas apesar das vaias, o retorno à cidade da estreia até teve seu lado
positivo.
Em uma sexta-feira completamente
caótica, com direito a greve no metrô, chuva forte e trânsito recorde em São
Paulo, o público paulista deixou os problemas para trás e lotou o Morumbi para
apoiar a seleção brasileira a seis dias da estreia da Copa do Mundo. Os mais de
67.042 torcedores presentes demonstraram boa vontade com a equipe dirigida por
Luiz Felipe Scolari. No entanto, a atuação inconstante diante da Sérvia não escapou da histórica exigência do público paulista. Nos momentos de
menor inspiração dos atletas, a maior parte do estádio vaiou a seleção, como em
marcantes casos do passado. Seria injusto, porém, afirmar que o público jogou
contra. Bastaram algumas jogadas de efeito e o gol solitário de Fred para que
os torcedores demonstrassem afeto pela seleção. Neymar não brilhou, mas teve
muita iniciativa e fez as pazes com o Morumbi. Felipão pode até não ter
aprovado o comportamento de seus jogadores, mas não teve motivos para reclamar
da torcida – e, de fato, ele não se queixou do público depois do jogo.
Na quinta-feira, o técnico
afirmou que pretendia mudar a história e fazer de São Paulo a casa da seleção.
Seu desejo não foi plenamente realizado, mas o saldo foi positivo em relação ao
último encontro. Em setembro de 2012, a seleção foi reprovada no Morumbi e
Neymar viveu uma das experiências mais traumáticas de sua carreira. Substituído
no fim da partida, ele foi fortemente vaiado ao deixar o gramado na vitória por
1 a 0 contra a África do Sul, em setembro de 2012. A rejeição diante da própria
torcida era algo inédito na carreira do jovem, que acusou o golpe. Dois anos
mais velho, dono absoluto da camisa 10 do Brasil e titular do Barcelona, Neymar
recebeu tratamento bem diferente. Na entrada para o campo, a seleção brasileira
foi recebida de forma calorosa, com gritos e aplausos, especialmente para
Neymar e os outros paulistas, como Paulinho e David Luiz. Logo no primeiro
toque na bola, Neymar recebeu uma entrada dura. A torcida, então, repreendeu a
truculência sérvia e se agitou a cada toque na bola do brasileiro.
Cena curiosa - Empurrado
pelas arquibancadas, o jogador do Barcelona arriscou uma sequência de jogadas
individuais e tentou incendiar a partida, como fez em Goiânia contra o Panamá.
Assim como Neymar, a torcida tentou fazer sua parte na primeira etapa. A cada
ataque ou jogada de efeito, aplausos e gritos de “Brasil” foram ouvidos. O
apoio foi maior, inclusive, do que o recebido em Goiânia, na última terça. A
paciência do torcedor paulista, porém, durou apenas 45 minutos. Após uma
atuação fraca na primeira etapa, a seleção deixou o campo vaiada por quase todo
o estádio. No segundo tempo, a seleção demorou a engrenar e os protestos
rapidamente recomeçaram. Em uma cena curiosa, a torcida gritou o nome de Luis
Fabiano, artilheiro do São Paulo, o dono do estádio. Ironicamente, o protesto
aconteceu minutos antes de Fred marcar o gol da vitória e enfim aliviar a
tensão. O gol alegrou os fãs, que ainda comemoram o gol de Hulk, erroneamente
anulado.
Os perigosos ataques da Sérvia
preocuparam a torcida, que teve reação inesperada ao apito final: nem muitos
aplausos, muito menos vaias. Ao ser saudada pelos atletas, a torcida mostrou
que pretende estar ao lado da equipe no Mundial. Para isso, porém, espera a
retribuição dos jogadores em campo. Durante a entrevista coletiva, Felipão
elogiou a postura da torcida em sua estreia na cidade como técnico da seleção.
“As vaias são normais, isso aconteceu também em Goiânia e em outros locais onde
não jogamos bem. Isso não foi problema para nossos jogadores, pois eles sabem
que quando não se joga bem, haverá discordância. Mas acho que no fim do jogo,
dos 67.000 presentes, uns 65.000 saíram satisfeitos”. Para Scolari, a torcida
paulista deve apoiar ainda mais a seleção na partida inaugural diante da
Croácia. “Temos que agradecer o torcedor por ter sido paciente em determinados
momentos. Acho que tivemos um cartão de visitas legal de São Paulo e acredito
que na estreia vamos ter o apoio da torcida, como tivemos hoje.”
A exigência dos paulistas com
equipe nacional é bastante antiga. Em 1970, o técnico Zagallo deixou Pelé no
banco no empate em 0 a 0 contra a Bulgária e o Morumbi inteiro chiou. Em 2000,
as críticas foram ainda mais impiedosas: inconformados com a má atuação do time
contra a Colômbia, os torcedores atiraram suas bandeiras no gramado em forma de
protesto. No fim, O Brasil venceu por 1 a 0 com gol de Roque Júnior, mas a cena
que ficou para a história foi a “chuva de bandeiras” no Morumbi. A equipe
voltará a campo na cidade em apenas seis dias, desta vez no Itaquerão. A
seleção estreia na Copa do Mundo, diante da Croácia, na próxima quinta-feira. O
time ainda pode disputar a semifinal do torneio na cidade, mas essa é uma
hipótese que não agrada muito à seleção – afinal, isso só ocorreria caso o
Brasil avançasse à segunda fase como segundo colocado do Grupo A, um cenário
que significaria, evidentemente, uma trajetória muito atribulada e muito
nervosismo logo nos três primeiros jogos.
Fonte: Agência Brasil.
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