POLÍTICA
PR
OFERECE 1MIN15S EM TROCA DA ALMA DE DILMA.
No evento político em que o PT
tornou sua candidatura oficial, Dilma Rousseff anunciou que, reeleita, será uma
presidente nova a partir de janeiro de 2015. Ao discursar, ela reciclou
promessas descumpridas e pronunciou 47 vezes palavras e expressões com o
significado de recomeço, de ajuste, de correção de rumos. Portanto, será outra.
Só não trocou de nome porque seria muito trabalhoso mudar os documentos e o
governo federal ao mesmo tempo.
Enquanto Dilma se esforçava para
demonstrar como pretende virar a mudança de si mesma, o Partido da República
realizava, no sábado (21), sua convenção nacional. A legenda tomou duas
decisões: sepultou a natimorta candidatura presidencial do senador Magno Malta
(PR-ES) e delegou à sua Executiva Nacional a tarefa de escolher, até a próxima
segunda-feira (30), o nome que irá apoiar na corrida presidencial de 2014.
Na sequência, o PR levou ao
balcão sua mercadoria mais cobiçada: 1min15s de propaganda eleitoral no rádio e
na tevê. O partido informou aos ministros palacianos Aloizio Mercadante (Casa
Civil) e Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) que pende para Dilma. Mas
impôs condições: quer de volta o Ministério dos Transportes. Chama-se Cesar
Borges o atual titular da pasta. É filiado ao PR da Bahia. Mas a legenda não se
sente representada por ele.
No universo da política, esse
tipo de transação recebe o apelido de "negociação política". No mundo
real, onde as palavras ainda fazem algum sentido, o nome é outro: chantagem.
Repetindo: o PR chantageia Dilma a céu aberto. Para apoiá-la, exige indicar
alguém que o represente nos milionários negócios dos Transportes. Do contrário,
ameaça entregar seu tempo de propaganda ao presidenciável tucano Aécio Neves.
Numa palavra, o que o PR pede é a alma de Dilma.
Eis o pior: em vez de tratar a
exigência do PR a pontapés, os prepostos de Dilma abriram negociação com os
chantagistas. Quer dizer: todo aquele lero-lero segundo o qual a Dilma de 2015
representaria a mudança exigida por mais de 70% do eleitorado pode ruir antes
mesmo de ter conseguido ficar em pé. Cedendo ao PR, Dilma dirá ao país que sua
convicção tem um código de barras.
A transação envolve dois sujeitos
ocultos: Lula, o presidente emérito da República, guia os passos de Dilma.
Reuniu-se com ela na noite passada, no Alvorada. E o presidiário Valdemar Costa
Neto puxa os cordões do PR de dentro da Penitenciária da Papuda. As conversas
evoluem contra um pano de fundo enodoado por detritos da pseudo faxina que
Dilma realizou na Esplanada em 2011. Nessa época, dava as cartas nos
Transportes o senador Alfredo Nascimento (PR-MA), herdado de Lula.
Posto no olho da rua como lixo,
Nascimento, que responde formalmente pela presidência do PR federal, levou à
face uma pose de vítima. Foi substituído por Paulo Sérgio Passos um técnico
que, embora filiado ao PR, não foi digerido pela legenda. Na última reforma ministerial,
Dilma trocou-o por Cesar Borges na expectativa de pacificar o aliado. Não
funcionou para o PR. Indício de que pode ter funcionado para a República.
Com o expurgo de 2011 ainda
atravessados na traqueia, o PR dá o troco. E Dilma vive um daqueles momentos em
que a pessoa é convidada pelas circunstâncias a tomar uma decisão definitiva,
do tipo que define quem ela é de fato. Não se trata de uma escolha banal.
Suponha que, depois de examinar as alternativas, Dilma decida: eu quero
devolver a execução do orçamento do Ministério dos Transportes a alguém que
corresponda aos anseios do PR de Valdemar Costa Neto.
Nas próximas horas o eleitorado
vai descobrir quem Dilma Rousseff decidiu ser a partir de janeiro de 2015. Se o
PR aderir, a coisa mais sensata que a candidata tem a fazer é parar de
aborrecer o país com a conversa mole da mudança. Se o PR cair no colo de Aécio
Neves, o eleitorado terá a confirmação de que a já anunciada migração do PTB da
canoa do PT para a do PSDB pode não ter sido um bom exemplo. Mas é um ótimo
aviso.
Vai ficando entendida que,
reduzida novamente a uma gincana publicitária, a campanha de 2014 será apenas
mais um desses períodos em que um grupo de loucos usufrui da licença legal para
adiar o início da novela e apresentar na tevê suas credenciais para dirigir o
hospício. Leva a chave do cofre quem tiver mais tempo de propaganda para vender
a melhor encenação.
Fonte:
UOL Notícias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário