segunda-feira, 30 de junho de 2014

OFICIALIZADO EM CONVENÇÃO O NOME DE CAMILO SANTANA PARA GOVERNADOR DO ESTADO

 CONVENÇÃO OFICIALIZA CAMILO SANTANA CANDIDATO AO GOVERNO

As vagas de senador e vice-governador na chapa majoritária apoiada por Cid só serão definidas hoje

A candidatura do petista Camilo Santana ao Governo do Estado foi oficializada na manhã de ontem durante convenção coletiva do PROS, PT e outros partidos aliados à coligação liderada pelo governador Cid Gomes. Apesar de o evento marcar, em tese, a definição dos nomes que disputarão as eleições deste ano, ainda seguem indefinidas as vagas na chapa majoritária de vice-governador e senador. O grupo só vai bater o martelo hoje.

Realizada em um ginásio no Centro de Fortaleza, a convenção reuniu milhares de militantes de dezenas de partidos que compõem a aliança da situação, além de prefeitos e lideranças do Interior. O evento estava marcado para iniciar às 9h, mas apenas depois das 10h30 o governador Cid Gomes chegou ao local acompanhado da comitiva formada pelo candidato Camilo Santana, prefeito Roberto Cláudio e deputados aliados.

O nome de Camilo Santana já havia sido cogitado anteriormente para a sucessão estadual, mas ele não integrava a lista dos favoritos para o cargo, na qual só constavam pessoas do PROS. Como a candidatura dele foi confirmada somente sábado à noite, os banners de divulgação da campanha foram produzidos na madrugada de domingo, ilustrando uma foto do petista ao lado de Lula, Dilma, Ciro, Cid e Roberto Cláudio.

Frustrada

O deputado federal José Guimarães teve grande destaque no evento de ontem. Na calçada do ginásio, era possível visualizar alguns banners dele ao lado da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula, levando-se a supor que o material foi feito para uma campanha de senador, que acabou frustrada. Desde o ano passado, Guimarães tenta emplacar postulação ao Senado, mas seu nome enfrentou resistência dos partidos aliados. O deputado retirou, no último sábado, a candidatura de senador e indicou Camilo ao Governo para unificar a aliança.

Mesmo com um tom de unidade durante a convenção, ainda restaram arestas que não foram digeridas completamente por alguns líderes partidários. O encontro conseguiu reunir petistas que se posicionavam contra a aliança com o Governo Estadual, como os vereadores Guilherme Sampaio, Deodato Ramalho e Acrísio Sena, mas deixou de fora os militantes da corrente da ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins.

Ausência

No palco do ginásio, dos cinco pré-candidatos do PROS, só não estava presente a ex-secretária da Educação Izolda Cela. O vice- governador Domingos Filho, que poderá ganhar uma cadeira no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM); o deputado Mauro Filho, que foi indicado para o Senado, e o ex-ministro dos Portos Leônidas Cristino, que vai se candidatar a deputado federal, mantiveram-se no palco ao lado de Cid e Camilo durante toda a solenidade.

A ausência do presidente da Assembleia Legislativa, deputado José Albuquerque, foi sentida na maior parte do evento. O parlamentar, que era um dos mais cotados para postular o Governo e tem relação estreita com o governador, ficou pouco tempo no palanque e não se posicionou, em nenhum momento, ao lado do candidato Camilo Santana. Algumas pessoas nem chegaram a ver se Zezinho Albuquerque teria ido mesmo à convenção, mas Ciro Gomes confirmou a presença do aliado. Ao presidente da Assembleia foi oferecida a vaga de vice-governador na chapa.

Reeleição

Dezenas de lideranças políticas apertaram-se no palco para apoiar a candidatura de Camilo Santana, entre eles o senador Inácio Arruda (PCdoB), que ainda fala na possibilidade de ser candidato à reeleição representando a coligação ligada ao Governo. Ao cumprimentar Cid Gomes, o senador ouviu do governador, numa resposta rápida, que só hoje eles se reuniriam.

Após o evento, o secretário estadual da Saúde, Ciro Gomes, confirmou que a vaga do Senado será indicada pelo PROS, embora "não necessariamente um militante do PROS". Antes, seria o PT quem definiria o nome, mas com a candidatura do petista Camilo Santana ao Governo, essa prerrogativa ficou com o partido do governador.

Ainda de acordo com Ciro Gomes, o candidato que disputará o Senado pela chapa majoritária deveria ser um dos pré-candidatos do PROS, que abriram mão da candidatura para apoiar Camilo Santana. "(Um desses nomes) Poderá e deveria ser, na minha opinião, o senador", opina o ex-ministro. Sobre a possibilidade de ser Mauro Filho essa possibilidade, Ciro Gomes responde: "É um extraordinário nome, por exemplo".

Alguns candidatos a deputado estadual e federal aproveitaram o momento da convenção para empunhar bandeiras divulgando suas candidaturas e panfletar materiais de campanha. Antes da comitiva do governador Cid Gomes chegar ao encontro, um grupo de tambores recepcionava os militantes. Na parte de fora do evento, parte da rua ficou fechada para abrigar barracas com venda de bebidas e comidas. O PT montou, ao lado do ginásio, um stand para concentrar os filiados.

Aliados intensificam críticas à oposição

Antes de discursar na convenção que uniu PROS, PT e outros partidos aliados, Cid Gomes pediu licença à plateia para sentar-se no palco a fim de evitar qualquer mal-estar, justificando não querer "passar vexame" como na convenção do PDT, no dia 22 de junho, quando saiu do evento desmaiado, após queda de pressão arterial. Quem inaugurou os discursos foi o secretário da Saúde, Ciro Gomes, seguido pelo deputado José Guimarães (PT).

Comparando o cenário político com a tensão do último jogo do Brasil contra o Chile, na Copa do Mundo, Cid disse que "não gosta de falar mal dos adversários", mas acabou fazendo críticas à chapa da oposição do senador Eunício Oliveira. "Vai ser um jogo nervoso, em que os adversários não jogam na bola, eles jogam na canela, jogam da cintura para baixo", alfinetou.

O governador agradeceu nominalmente a todos os pré-candidatos do PROS pelo serviço prestado ao Governo. Em seguida, fez referência a todos os partidos que integram a coligação de aliados, enfatizando o nome do deputado Ronaldo Martins, do PRB, que quase se coligou com o PMDB de Eunício Oliveira e mantinha discurso crítico à gestão estadual até o início de junho.

Durante sua fala, Cid Gomes recorreu mais de uma vez aos nomes de Lula e Dilma como apoiadores da campanha de Camilo Santana. Ele também repetiu uma estratégia da campanha nacional do PT ao tentar atribuir um "discurso do ódio" à chapa da oposição. "Essa campanha vai ser dura e movimentada pelo lado de lá, pela semente do ódio. É esse fator que une cabra, jumento e ovelha do lado de lá".

Bordão

Cid usou o bordão "olho no olho" para frisar a confiança no candidato Camilo Santana. Essa expressão foi largamente utilizada na campanha do pré-candidato do PT à Prefeitura de Fortaleza em 2012, Elmano de Freitas, quando o governador apoiava Roberto Cláudio na disputa. "Eu tenho a capacidade de olhar e dizer se a pessoa é do bem. Olho no olho do Camilo. Eles (incluindo a família do petista) são gente do bem e são simples", ressaltou.

O candidato Camilo Santana também homenageou os "companheiros do PROS" que eram cotados para concorrer ao Governo e o deputado José Guimarães, que retirou a candidatura ao Senado em prol do nome de Camilo na disputa ao Executivo. O pleiteante ao Governo estava acompanhado da esposa e dos dois filhos. "Tem muita fofoca por aí, mas esse é o palanque do Lula, da Dilma, do Ciro, do Cid e do Roberto Cláudio", encerrou.

O ex-ministro Ciro Gomes, o primeiro a falar na convenção, adotou um discurso breve e evitou ataques mais diretos à oposição. "Queremos corrigir erros, aumentar acertos e ampliar vitórias. A luta não será fácil", ressaltou. "Esse projeto é carregado por um conjunto de valores. No poder cearense, nem se rouba nem se deixa roubar", destacou.

O deputado José Guimarães sucedeu Ciro no discurso e apontou que a escolha pelo nome de Camilo foi um arranjo entre o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, a presidente Dilma Rousseff e o governador Cid Gomes. "Vamos ganhar essa eleição que vai ser disputada voto a voto", declarou.

O prefeito Roberto Cláudio ensaiou um discurso mais incisivo contra a chapa opositora liderada pelo PMDB. "Não vamos aceitar o atalho do patrimonialismo, do conservadorismo. O Camilo está deixando a turma de lá sem dormir", disparou.

O senador Inácio Arruda permaneceu no palco durante todo o evento, embora não tenha se pronunciado. Após a solenidade, ele confirmou que só se reúne hoje com o governador Cid Gomes para saber que espaço caberá ao PCdoB na aliança. "Estamos tentando uma vaga no Senado(...). O problema do vice, do Senado, vamos discutindo, tem até amanhã para tratar e resolver o problema", declarou.

Unificação

Também circulavam no evento lideranças contra a aliança do PT com o Governo Estadual, mas que defendiam candidatura própria ao Executivo. O vereador Acrísio Sena alega que a postulação de Camilo vai contribuir para a unificação do partido no Estado. "Acabou com a história de dois palanques da Dilma no Ceará, nos foi feita uma proposta irrecusável", argumenta.

O vereador Guilherme Sampaio, que subiu no palanque de Camilo, disse que a indicação foi uma surpresa positiva. "Embora tenhamos críticas à aliança, nos permite ajudar a tensionar um governo para que tenha as características do PT", justifica.

Já o vereador Deodato Ramalho pondera que o diretório estadual já havia deliberado que, em caso de mudança no cenário eleitoral, a prerrogativa de votar a candidatura seria da executiva estadual, o que foi feito, segundo o vereador. "Deu a ideia de que foi feito de baixo para cima", respondeu Deodato em tom otimista em relação à candidatura.

ANÁLISE

Perplexidade, insatisfação e até revolta

No meio político, a indicação do nome de Camilo Santana para disputar a chefia do Executivo estadual, a tomar pelas manifestações de alguns dos presentes na convenção que a oficializou, desagradou mais que agradou. Domingos Filho, o vice-governador, o deputado Mauro Filho e o presidente da Assembleia, deputado Zezinho Albuquerque, apesar dos discursos aceitando terem sido preteridos por um político de outro partido, não estão nada resignados.

O fato de as vagas de vice-governador, oferecida a Zezinho Albuquerque, e de senador, a Mauro Filho, na chapa de Camilo não terem sido preenchidas no evento de ontem, confirmam o desgosto. Quanto a Domingos Filho, com certeza, não era emprego vitalício que ele estava procurando, pois uma vaga no Tribunal de Contas a ele já havia sido oferecida para renunciar o lugar de vice-governador, no início de abril, quando Cid cogitava deixar o Governo, para tornar elegível o irmão Ciro Gomes.

Deputados e outras lideranças do PROS, e de partidos aliados, exceção dos petistas ligados ao Governo, demonstravam perplexidade, insatisfação e até revolta com a indicação de Camilo. Eram insistentes as indagações, na manhã de ontem, do tipo: "em que Camilo é melhor que os nomes do PROS" referindo-se a Domingos, Mauro e Zezinho, três dos nomes que mais trabalharam para disputar a sucessão de Cid. Na resposta à própria pergunta alguns diziam ter o governador cedido à imposição do PT, depois de o deputado José Guimarães ter sido preterido para ser candidato ao Senado.

A grande maioria dos aliados de Cid é contra o PT. A convivência que têm, no Ceará, desde 2006, é apenas tolerável, daí a insatisfação por admitirem a possibilidade de o Estado vir a ser governado por um petista. Alguns dizem até já ter expressado sua posição, via mensagens eletrônicas, a Cid e Ciro Gomes, a partir de sábado, quando ficou acertado ser Camilo o candidato a ser apoiado pela coligação liderada pelo governador.

Os revoltosos, defensores das postulações dos filiados ao PROS, expressavam solidariedade aos defenestrados, após terem sido estimulados a desenvolverem o trabalho de conquistas de apoios para se fortalecerem como candidato, individualmente, dentro do partido. Para aqueles (revoltosos), Cid deveria ter evitado esse constrangimento a seus mais ilustres correligionários, a partir do presidente da Assembleia, do vice-governador, e do ex-secretário da Fazenda dos últimos anos.

Ganho

Aproveitando o momento, o senador Eunício Oliveira, antes da sua convenção, também ontem, falou muito ao telefone com vários governistas. Ainda não é possível avaliar o quanto ele poderá ter de ganho com essa nova realidade da política cearense. Mas, há convicção, da parte de seus apoiadores, ter sido a sua candidatura beneficiada com a adesão do DEM, PPS e possivelmente do Solidariedade (SD), partidos, cujas direções nacionais, têm resoluções impedindo alianças com candidatos do PT. Todos eles estavam relacionados na coligação com o PROS.

Os próximos dias, como as últimas 48 horas, também deverão ser de intensa negociação. Do lado do Governo para apagar a poeira deixada com a decisão do governador, para alguns, já amadurecida por Cid há um certo tempo. Da outra parte, com a oposição, liderada por Eunício, fazendo gestões para colher frutos e ampliar seus apoios, sobretudo no Interior cearense.

A primeira dificuldade para o governador Cid, que começou a tentar superar, ontem, será preencher a chapa majoritária, após a reação de dois dos seus principais amigos e correligionários de longas datas, Zezinho Albuquerque e Mauro Filho.

Edison Silva
Editor de Política. DN.


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