As vagas de senador e vice-governador na chapa majoritária apoiada por
Cid só serão definidas hoje
A candidatura do petista Camilo
Santana ao Governo do Estado foi oficializada na manhã de ontem durante
convenção coletiva do PROS, PT e outros partidos aliados à coligação liderada
pelo governador Cid Gomes. Apesar de o evento marcar, em tese, a definição dos
nomes que disputarão as eleições deste ano, ainda seguem indefinidas as vagas
na chapa majoritária de vice-governador e senador. O grupo só vai bater o
martelo hoje.
Realizada em um ginásio no Centro
de Fortaleza, a convenção reuniu milhares de militantes de dezenas de partidos
que compõem a aliança da situação, além de prefeitos e lideranças do Interior.
O evento estava marcado para iniciar às 9h, mas apenas depois das 10h30 o
governador Cid Gomes chegou ao local acompanhado da comitiva formada pelo
candidato Camilo Santana, prefeito Roberto Cláudio e deputados aliados.
O nome de Camilo Santana já havia
sido cogitado anteriormente para a sucessão estadual, mas ele não integrava a
lista dos favoritos para o cargo, na qual só constavam pessoas do PROS. Como a
candidatura dele foi confirmada somente sábado à noite, os banners de
divulgação da campanha foram produzidos na madrugada de domingo, ilustrando uma
foto do petista ao lado de Lula, Dilma, Ciro, Cid e Roberto Cláudio.
Frustrada
O deputado federal José Guimarães
teve grande destaque no evento de ontem. Na calçada do ginásio, era possível
visualizar alguns banners dele ao lado da presidente Dilma Rousseff e do
ex-presidente Lula, levando-se a supor que o material foi feito para uma
campanha de senador, que acabou frustrada. Desde o ano passado, Guimarães tenta
emplacar postulação ao Senado, mas seu nome enfrentou resistência dos partidos
aliados. O deputado retirou, no último sábado, a candidatura de senador e
indicou Camilo ao Governo para unificar a aliança.
Mesmo com um tom de unidade
durante a convenção, ainda restaram arestas que não foram digeridas
completamente por alguns líderes partidários. O encontro conseguiu reunir
petistas que se posicionavam contra a aliança com o Governo Estadual, como os
vereadores Guilherme Sampaio, Deodato Ramalho e Acrísio Sena, mas deixou de
fora os militantes da corrente da ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins.
Ausência
No palco do ginásio, dos cinco
pré-candidatos do PROS, só não estava presente a ex-secretária da Educação
Izolda Cela. O vice- governador Domingos Filho, que poderá ganhar uma cadeira
no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM); o deputado Mauro Filho, que foi
indicado para o Senado, e o ex-ministro dos Portos Leônidas Cristino, que vai
se candidatar a deputado federal, mantiveram-se no palco ao lado de Cid e
Camilo durante toda a solenidade.
A ausência do presidente da
Assembleia Legislativa, deputado José Albuquerque, foi sentida na maior parte
do evento. O parlamentar, que era um dos mais cotados para postular o Governo e
tem relação estreita com o governador, ficou pouco tempo no palanque e não se
posicionou, em nenhum momento, ao lado do candidato Camilo Santana. Algumas
pessoas nem chegaram a ver se Zezinho Albuquerque teria ido mesmo à convenção,
mas Ciro Gomes confirmou a presença do aliado. Ao presidente da Assembleia foi
oferecida a vaga de vice-governador na chapa.
Reeleição
Dezenas de lideranças políticas
apertaram-se no palco para apoiar a candidatura de Camilo Santana, entre eles o
senador Inácio Arruda (PCdoB), que ainda fala na possibilidade de ser candidato
à reeleição representando a coligação ligada ao Governo. Ao cumprimentar Cid
Gomes, o senador ouviu do governador, numa resposta rápida, que só hoje eles se
reuniriam.
Após o evento, o secretário
estadual da Saúde, Ciro Gomes, confirmou que a vaga do Senado será indicada
pelo PROS, embora "não necessariamente um militante do PROS". Antes,
seria o PT quem definiria o nome, mas com a candidatura do petista Camilo
Santana ao Governo, essa prerrogativa ficou com o partido do governador.
Ainda de acordo com Ciro Gomes, o
candidato que disputará o Senado pela chapa majoritária deveria ser um dos
pré-candidatos do PROS, que abriram mão da candidatura para apoiar Camilo
Santana. "(Um desses nomes) Poderá e deveria ser, na minha opinião, o
senador", opina o ex-ministro. Sobre a possibilidade de ser Mauro Filho essa
possibilidade, Ciro Gomes responde: "É um extraordinário nome, por
exemplo".

Aliados
intensificam críticas à oposição
Antes de discursar na convenção
que uniu PROS, PT e outros partidos aliados, Cid Gomes pediu licença à plateia
para sentar-se no palco a fim de evitar qualquer mal-estar, justificando não
querer "passar vexame" como na convenção do PDT, no dia 22 de junho,
quando saiu do evento desmaiado, após queda de pressão arterial. Quem inaugurou
os discursos foi o secretário da Saúde, Ciro Gomes, seguido pelo deputado José
Guimarães (PT).
Comparando o cenário político com
a tensão do último jogo do Brasil contra o Chile, na Copa do Mundo, Cid disse
que "não gosta de falar mal dos adversários", mas acabou fazendo
críticas à chapa da oposição do senador Eunício Oliveira. "Vai ser um jogo
nervoso, em que os adversários não jogam na bola, eles jogam na canela, jogam
da cintura para baixo", alfinetou.
O governador agradeceu
nominalmente a todos os pré-candidatos do PROS pelo serviço prestado ao
Governo. Em seguida, fez referência a todos os partidos que integram a coligação
de aliados, enfatizando o nome do deputado Ronaldo Martins, do PRB, que quase
se coligou com o PMDB de Eunício Oliveira e mantinha discurso crítico à gestão
estadual até o início de junho.
Durante sua fala, Cid Gomes
recorreu mais de uma vez aos nomes de Lula e Dilma como apoiadores da campanha
de Camilo Santana. Ele também repetiu uma estratégia da campanha nacional do PT
ao tentar atribuir um "discurso do ódio" à chapa da oposição.
"Essa campanha vai ser dura e movimentada pelo lado de lá, pela semente do
ódio. É esse fator que une cabra, jumento e ovelha do lado de lá".
Bordão
Cid usou o bordão "olho no
olho" para frisar a confiança no candidato Camilo Santana. Essa expressão
foi largamente utilizada na campanha do pré-candidato do PT à Prefeitura de
Fortaleza em 2012, Elmano de Freitas, quando o governador apoiava Roberto Cláudio
na disputa. "Eu tenho a capacidade de olhar e dizer se a pessoa é do bem.
Olho no olho do Camilo. Eles (incluindo a família do petista) são gente do bem
e são simples", ressaltou.
O candidato Camilo Santana também
homenageou os "companheiros do PROS" que eram cotados para concorrer
ao Governo e o deputado José Guimarães, que retirou a candidatura ao Senado em
prol do nome de Camilo na disputa ao Executivo. O pleiteante ao Governo estava
acompanhado da esposa e dos dois filhos. "Tem muita fofoca por aí, mas
esse é o palanque do Lula, da Dilma, do Ciro, do Cid e do Roberto
Cláudio", encerrou.
O ex-ministro Ciro Gomes, o
primeiro a falar na convenção, adotou um discurso breve e evitou ataques mais
diretos à oposição. "Queremos corrigir erros, aumentar acertos e ampliar
vitórias. A luta não será fácil", ressaltou. "Esse projeto é
carregado por um conjunto de valores. No poder cearense, nem se rouba nem se
deixa roubar", destacou.
O deputado José Guimarães sucedeu
Ciro no discurso e apontou que a escolha pelo nome de Camilo foi um arranjo
entre o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, a presidente Dilma
Rousseff e o governador Cid Gomes. "Vamos ganhar essa eleição que vai ser
disputada voto a voto", declarou.
O prefeito Roberto Cláudio
ensaiou um discurso mais incisivo contra a chapa opositora liderada pelo PMDB.
"Não vamos aceitar o atalho do patrimonialismo, do conservadorismo. O
Camilo está deixando a turma de lá sem dormir", disparou.
O senador Inácio Arruda
permaneceu no palco durante todo o evento, embora não tenha se pronunciado.
Após a solenidade, ele confirmou que só se reúne hoje com o governador Cid
Gomes para saber que espaço caberá ao PCdoB na aliança. "Estamos tentando
uma vaga no Senado(...). O problema do vice, do Senado, vamos discutindo, tem
até amanhã para tratar e resolver o problema", declarou.
Unificação
Também circulavam no evento
lideranças contra a aliança do PT com o Governo Estadual, mas que defendiam
candidatura própria ao Executivo. O vereador Acrísio Sena alega que a postulação
de Camilo vai contribuir para a unificação do partido no Estado. "Acabou
com a história de dois palanques da Dilma no Ceará, nos foi feita uma proposta
irrecusável", argumenta.
O vereador Guilherme Sampaio, que
subiu no palanque de Camilo, disse que a indicação foi uma surpresa positiva.
"Embora tenhamos críticas à aliança, nos permite ajudar a tensionar um
governo para que tenha as características do PT", justifica.
Já o vereador Deodato Ramalho
pondera que o diretório estadual já havia deliberado que, em caso de mudança no
cenário eleitoral, a prerrogativa de votar a candidatura seria da executiva
estadual, o que foi feito, segundo o vereador. "Deu a ideia de que foi
feito de baixo para cima", respondeu Deodato em tom otimista em relação à
candidatura.
ANÁLISE
Perplexidade, insatisfação e até revolta
No meio político, a indicação do
nome de Camilo Santana para disputar a chefia do Executivo estadual, a tomar
pelas manifestações de alguns dos presentes na convenção que a oficializou,
desagradou mais que agradou. Domingos Filho, o vice-governador, o deputado
Mauro Filho e o presidente da Assembleia, deputado Zezinho Albuquerque, apesar
dos discursos aceitando terem sido preteridos por um político de outro partido,
não estão nada resignados.
O fato de as vagas de
vice-governador, oferecida a Zezinho Albuquerque, e de senador, a Mauro Filho,
na chapa de Camilo não terem sido preenchidas no evento de ontem, confirmam o
desgosto. Quanto a Domingos Filho, com certeza, não era emprego vitalício que
ele estava procurando, pois uma vaga no Tribunal de Contas a ele já havia sido
oferecida para renunciar o lugar de vice-governador, no início de abril, quando
Cid cogitava deixar o Governo, para tornar elegível o irmão Ciro Gomes.
Deputados e outras lideranças do
PROS, e de partidos aliados, exceção dos petistas ligados ao Governo,
demonstravam perplexidade, insatisfação e até revolta com a indicação de
Camilo. Eram insistentes as indagações, na manhã de ontem, do tipo: "em
que Camilo é melhor que os nomes do PROS" referindo-se a Domingos, Mauro e
Zezinho, três dos nomes que mais trabalharam para disputar a sucessão de Cid.
Na resposta à própria pergunta alguns diziam ter o governador cedido à
imposição do PT, depois de o deputado José Guimarães ter sido preterido para
ser candidato ao Senado.
A grande maioria dos aliados de
Cid é contra o PT. A convivência que têm, no Ceará, desde 2006, é apenas
tolerável, daí a insatisfação por admitirem a possibilidade de o Estado vir a
ser governado por um petista. Alguns dizem até já ter expressado sua posição,
via mensagens eletrônicas, a Cid e Ciro Gomes, a partir de sábado, quando ficou
acertado ser Camilo o candidato a ser apoiado pela coligação liderada pelo
governador.
Os revoltosos, defensores das
postulações dos filiados ao PROS, expressavam solidariedade aos defenestrados,
após terem sido estimulados a desenvolverem o trabalho de conquistas de apoios
para se fortalecerem como candidato, individualmente, dentro do partido. Para
aqueles (revoltosos), Cid deveria ter evitado esse constrangimento a seus mais
ilustres correligionários, a partir do presidente da Assembleia, do
vice-governador, e do ex-secretário da Fazenda dos últimos anos.
Ganho
Aproveitando o momento, o senador
Eunício Oliveira, antes da sua convenção, também ontem, falou muito ao telefone
com vários governistas. Ainda não é possível avaliar o quanto ele poderá ter de
ganho com essa nova realidade da política cearense. Mas, há convicção, da parte
de seus apoiadores, ter sido a sua candidatura beneficiada com a adesão do DEM,
PPS e possivelmente do Solidariedade (SD), partidos, cujas direções nacionais,
têm resoluções impedindo alianças com candidatos do PT. Todos eles estavam
relacionados na coligação com o PROS.
Os próximos dias, como as últimas
48 horas, também deverão ser de intensa negociação. Do lado do Governo para
apagar a poeira deixada com a decisão do governador, para alguns, já
amadurecida por Cid há um certo tempo. Da outra parte, com a oposição, liderada
por Eunício, fazendo gestões para colher frutos e ampliar seus apoios,
sobretudo no Interior cearense.
A primeira dificuldade para o governador Cid, que começou a tentar superar, ontem, será
preencher a chapa majoritária, após a reação de dois dos seus principais amigos
e correligionários de longas datas, Zezinho Albuquerque e Mauro Filho.
Edison Silva
Editor de Política.
DN.
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