A descrença nas punições aos parlamentares é um dos motivos que
distanciam o eleitor da política.
O professor de Sociologia Marcos
Colares avalia que, se o Brasil adotasse o sufrágio facultativo, poderia haver
mais compra de votos no País.
Nas vésperas de iniciar
formalmente a campanha eleitoral no País, mais de um quarto da população afirma
não ter nenhum interesse no pleito deste ano, conforme pesquisa do Ibope
divulgada na última semana. Para sociólogos cearenses, o pouco entusiasmo dos
brasileiros com a política é motivado principalmente pela crença na impunidade
parlamentar e pela fragilidade de uma democracia jovem.
De acordo com o levantamento
CNI/Ibope, 16% disseram ter muito interesse, 29% interesse médio, 29% alegam
pouco interesse e 26% não têm interesse nenhum. Cientistas políticos ouvidos
pelo Diário do Nordeste ponderam que, caso o Brasil adotasse o voto
facultativo, o cenário de dispersão dos eleitores poderia ser ainda mais sério.
"O fato de o voto ser
obrigatório evita que se tenha menor participação. Se fosse voluntário, poderia
estimular ainda mais a compra de votos", opina o sociólogo Marcos Colares,
professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará
(Uece).
Para o especialista, os dados do
Ibope trazem uma reflexão circunstancial. "O eleitor vai ter posições
diferentes antes da campanha, durante os programas eleitorais e na véspera das
votações. O nível de esclarecimento das pessoas também interfere. Um eleitor
que acredita que o voto trará mudanças fará maior empenho em votar",
declara o docente, que também leciona no departamento de Direito Público da
Universidade Federal do Ceará (UFC).
Marcos Colares explica que a
falta de inserção do eleitorado na política hoje também se deve ao fato de que
as coligações não estão totalmente firmadas. "Nessa eleição, tem um caldo,
que é a eleição do Legislativo. Eles são os que mobilizam o voto para
presidente e governador". E completa: "Os eleitores dizem que não têm
interesse porque não conhecem as pessoas. No horário eleitoral, isso pode
trazer um esclarecimento maior".
Mudanças
Na opinião do acadêmico, as
campanhas em prol da participação dos eleitores não devem se encerrar em anos
eleitorais, tampouco focar só nas eleições de outubro. "É preciso
demonstrar a importância de a população escolher membros do conselho tutelar,
do conselho de idosos (...) e que a ação do indivíduo organizado pode
representar mudanças", exemplifica.
"Eu acho que neste ano vão
ter dados importantes para atrair a atenção do eleitor, como os julgamentos de
políticos envolvidos em corrupção, as ações que ocorrem em decorrência dos
fichas sujas, esses fatores devem mobilizar as discussões", encerra Marcos
Colares.
Para a professora Maria Cristina
de Queiroz, doutora em Sociologia do curso de Serviço Social da Uece, o
desinteresse da população nas eleições demonstra a fragilidade na consolidação
da democracia no País. "Após a ditadura, há os primeiros momentos de
envolvimento no processo eleitoral e nas campanhas. Se pegar os dados das
últimas eleições, há uma abstenção muito grande, em vários níveis, do federal
ao municipal", destaca.
Sobre a falta de identificação da
sociedade com a política, a docente afirma: "Temos uma democracia frágil e
partidos com pouco envolvimento ideológico. As eleições são baseadas em
relações de apadrinhamento". Ela avalia que a empolgação com a política
foi um momento pontual no pós-regime militar. "No retorno da democracia,
deu uma esquentada, mas depois teve um arrefecimento", aponta.
A doutora em Sociologia relata
que o distanciamento entre sociedade e política não pode ser atribuído à falta de
informação do eleitor. "Não é falta de informação, tem a informação
seletiva, aquilo que se tem acesso pela televisão, mas o povo está fazendo suas
leituras através do que se vê no dia a dia", opina. "A pesquisa é um
dado de agora que capta o momento, é uma continuidade do que tem ocorrido nos
últimos anos", completa.
Limitações
A cientista política Patrícia
Teixeira, professora da Universidade do Vale do Jaguaribe, também corrobora com
a opinião de que a sociedade está informada, apesar de algumas limitações.
"Hoje a falta de informação não pode ser alegada, temos diversos meios de
divulgação. Existe uma camada que ainda não tem acesso a esses meios, mas isso
não se justifica", ressalta.
Na análise de Patrícia Teixeira,
a apatia dos eleitores ao desenrolar da política, mesmo nas vésperas da
campanha eleitoral, é motivada pela certeza da impunidade dos parlamentares e
descrença na implementação de mudanças. "Nesse último Governo, as coisas
vieram muito à tona. Não é que cresceu a corrupção, mas hoje temos uma
visibilidade maior e isso causa repulsa naquele que vê e se pergunta: para que,
por que (participar)?", enfatiza.
A socióloga avalia que os
brasileiros não têm o histórico de participação popular. "É uma sensação
de impotência também que explica o desinteresse na participação política. A
certeza da impunidade causa ojeriza na população que se vê como um
fantoche", justifica, alegando que essa inércia no processo eleitoral se
estende a outros instrumentos de cidadania do cotidiano.
"Se avaliarmos não só o
voto, mas outros mecanismos de participação de poder, o povo não tem essa
cultura. Temos conselhos e não fazemos isso". A especialista pontua:
"Nossos representantes são escolhidos por partidos, em convenções. Os
dirigentes fazem análises dentro dos gabinetes, não existem figuras em nível
nacional representativas na política para as pessoas. A população não se vê
refletida".
Abstenção
Abstenção
Nas eleições de 2012, Fortaleza
apresentou 16% de abstenção, representando quase 260 mil eleitores que não
foram às urnas. Em 2008, o percentual foi de 14%. Também houve aumento nos
votos brancos, mais de 4% em 2012 contra 3,5% em 2008, e nulos, que somaram
3,6% nas últimas eleições da Capital.
Em 2008, a porcentagem era de
2,3%
Presidenciais
No segundo turno das eleições
presidenciais de 2010, quando Dilma Rousseff foi eleita, as abstenções
ultrapassaram os 21%, sendo a maior desde o pleito de 1989.
Fonte: Web.
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