terça-feira, 24 de junho de 2014

IMPERATIVO DA CORRUPÇÃO POLÍTICA - POUCO INTERESSE DA SOCIEDADE NO PLEITO ELEITORAL

 IMPUNIDADE AFASTA ELEITORADO DA POLÍTICA.

A descrença nas punições aos parlamentares é um dos motivos que distanciam o eleitor da política.

O professor de Sociologia Marcos Colares avalia que, se o Brasil adotasse o sufrágio facultativo, poderia haver mais compra de votos no País.

Nas vésperas de iniciar formalmente a campanha eleitoral no País, mais de um quarto da população afirma não ter nenhum interesse no pleito deste ano, conforme pesquisa do Ibope divulgada na última semana. Para sociólogos cearenses, o pouco entusiasmo dos brasileiros com a política é motivado principalmente pela crença na impunidade parlamentar e pela fragilidade de uma democracia jovem.

De acordo com o levantamento CNI/Ibope, 16% disseram ter muito interesse, 29% interesse médio, 29% alegam pouco interesse e 26% não têm interesse nenhum. Cientistas políticos ouvidos pelo Diário do Nordeste ponderam que, caso o Brasil adotasse o voto facultativo, o cenário de dispersão dos eleitores poderia ser ainda mais sério.

"O fato de o voto ser obrigatório evita que se tenha menor participação. Se fosse voluntário, poderia estimular ainda mais a compra de votos", opina o sociólogo Marcos Colares, professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

Para o especialista, os dados do Ibope trazem uma reflexão circunstancial. "O eleitor vai ter posições diferentes antes da campanha, durante os programas eleitorais e na véspera das votações. O nível de esclarecimento das pessoas também interfere. Um eleitor que acredita que o voto trará mudanças fará maior empenho em votar", declara o docente, que também leciona no departamento de Direito Público da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Marcos Colares explica que a falta de inserção do eleitorado na política hoje também se deve ao fato de que as coligações não estão totalmente firmadas. "Nessa eleição, tem um caldo, que é a eleição do Legislativo. Eles são os que mobilizam o voto para presidente e governador". E completa: "Os eleitores dizem que não têm interesse porque não conhecem as pessoas. No horário eleitoral, isso pode trazer um esclarecimento maior".

Mudanças

Na opinião do acadêmico, as campanhas em prol da participação dos eleitores não devem se encerrar em anos eleitorais, tampouco focar só nas eleições de outubro. "É preciso demonstrar a importância de a população escolher membros do conselho tutelar, do conselho de idosos (...) e que a ação do indivíduo organizado pode representar mudanças", exemplifica.

"Eu acho que neste ano vão ter dados importantes para atrair a atenção do eleitor, como os julgamentos de políticos envolvidos em corrupção, as ações que ocorrem em decorrência dos fichas sujas, esses fatores devem mobilizar as discussões", encerra Marcos Colares.

Para a professora Maria Cristina de Queiroz, doutora em Sociologia do curso de Serviço Social da Uece, o desinteresse da população nas eleições demonstra a fragilidade na consolidação da democracia no País. "Após a ditadura, há os primeiros momentos de envolvimento no processo eleitoral e nas campanhas. Se pegar os dados das últimas eleições, há uma abstenção muito grande, em vários níveis, do federal ao municipal", destaca.

Sobre a falta de identificação da sociedade com a política, a docente afirma: "Temos uma democracia frágil e partidos com pouco envolvimento ideológico. As eleições são baseadas em relações de apadrinhamento". Ela avalia que a empolgação com a política foi um momento pontual no pós-regime militar. "No retorno da democracia, deu uma esquentada, mas depois teve um arrefecimento", aponta.

A doutora em Sociologia relata que o distanciamento entre sociedade e política não pode ser atribuído à falta de informação do eleitor. "Não é falta de informação, tem a informação seletiva, aquilo que se tem acesso pela televisão, mas o povo está fazendo suas leituras através do que se vê no dia a dia", opina. "A pesquisa é um dado de agora que capta o momento, é uma continuidade do que tem ocorrido nos últimos anos", completa.

Limitações

A cientista política Patrícia Teixeira, professora da Universidade do Vale do Jaguaribe, também corrobora com a opinião de que a sociedade está informada, apesar de algumas limitações. "Hoje a falta de informação não pode ser alegada, temos diversos meios de divulgação. Existe uma camada que ainda não tem acesso a esses meios, mas isso não se justifica", ressalta.

Na análise de Patrícia Teixeira, a apatia dos eleitores ao desenrolar da política, mesmo nas vésperas da campanha eleitoral, é motivada pela certeza da impunidade dos parlamentares e descrença na implementação de mudanças. "Nesse último Governo, as coisas vieram muito à tona. Não é que cresceu a corrupção, mas hoje temos uma visibilidade maior e isso causa repulsa naquele que vê e se pergunta: para que, por que (participar)?", enfatiza.

A socióloga avalia que os brasileiros não têm o histórico de participação popular. "É uma sensação de impotência também que explica o desinteresse na participação política. A certeza da impunidade causa ojeriza na população que se vê como um fantoche", justifica, alegando que essa inércia no processo eleitoral se estende a outros instrumentos de cidadania do cotidiano.

"Se avaliarmos não só o voto, mas outros mecanismos de participação de poder, o povo não tem essa cultura. Temos conselhos e não fazemos isso". A especialista pontua: "Nossos representantes são escolhidos por partidos, em convenções. Os dirigentes fazem análises dentro dos gabinetes, não existem figuras em nível nacional representativas na política para as pessoas. A população não se vê refletida".

Abstenção

Nas eleições de 2012, Fortaleza apresentou 16% de abstenção, representando quase 260 mil eleitores que não foram às urnas. Em 2008, o percentual foi de 14%. Também houve aumento nos votos brancos, mais de 4% em 2012 contra 3,5% em 2008, e nulos, que somaram 3,6% nas últimas eleições da Capital.
Em 2008, a porcentagem era de 2,3%

Presidenciais

No segundo turno das eleições presidenciais de 2010, quando Dilma Rousseff foi eleita, as abstenções ultrapassaram os 21%, sendo a maior desde o pleito de 1989.

Fonte: Web.


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