domingo, 29 de junho de 2014

PSB REALIZA CONVENÇÕES NACIONAL E NOS ESTADOS

 CAMPOS E MARINA ENFRENTAM PALANQUES CONFUSOS NOS ESTADOS.

Além de administrar a resistência interna e a incompatibilidade entre militantes do PSB e da Rede, candidatos precisaram ceder a líderes regionais e abraçaram a “velha política”, sempre criticada nos discursos da chapa.

O PPS realizou convenção nacional para oficializar as candidaturas do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos à Presidência da República e da ex-senadora Marina Silva à Vice-Presidência.

A promessa era ousada. No dia 5 de outubro, a ex-senadora Marina Silva e o então governador de Pernambuco Eduardo Campos prometeram quebrar a polarização partidária que dominou as últimas eleições presidenciais no Brasil. “Estamos quebrando uma falsa polarização da política”, disseram. Era dia de comemorar a surpreendente filiação de Marina ao PSB. Nove meses depois, com a oficialização da candidatura da dupla neste sábado, a promessa de terceira via enfrenta, no mundo real da política, as dificuldades do processo eleitoral no país, com necessidade de composição de alianças nem sempre coerentes em favor da criação de espaços em palanques regionais. O partido chega ao começo oficial da campanha, no dia 5  de julho, com apenas 11 candidatos a governador.

A “nova política” sucumbiu a velhos políticos. O PSB apoia coligações majoritárias lideradas pelo PMDB, um alvo constante de críticas de fisiologismo, em seis estados. Candidaturas a governos estaduais do PT, de quem Campos buscou se divorciar no governo federal, são apoiadas em dois estados. Solidariedade, PP, PDT e PCdoB também atraíram apoio dos socialistas para suas respectivas candidaturas próprias em quatro estados.

Essa esquizofrênica nova política tornou-se o principal ponto de crítica de adversários e de dissidentes do partido. No lançamento da sua candidatura, estranhamente, Campos criticou o fisiologismo do PSDB. Em diversas ocasiões, Marina e o ex-governador defenderam as confusas alianças regionais, sob argumento de que possuem motivações particulares. Em alguns dos Estados sem candidatos a governador, como o Rio de Janeiro e São Paulo, havia quem defendesse o lançamento de um correligionário socialista. Ainda assim, o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, critica justamente o PMDB, o alvo favorito de alianças fisiológicas, para sinalizar que no PSB os dirigentes regionais não fazem o que querem.

"Nosso partido não é o PMDB em que cada um faz o que quer nos seus estados", afirmou Siqueira.

Dois dias antes de seu ingresso no PSB, no dia em que a Justiça Eleitoral barrou a criação da Rede, Marina se justificou e afirmou estar empenhara na promessa de trabalhar no partido pelos interesses em comum com seu grupo político. Desde então, sobraram desentendimentos entre o grupo de Marina e caciques pessebistas.

Em contrapartida, pré-candidatos da Rede sofreram boicote em redutos socialistas. O ambientalista Apolo Heringer tentou concorrer ao governo de Minas Gerais, mas desistiu e chamou as prévias partidárias de "cartas marcadas". O partido ficou perto de apoiar o candidato tucano Pimenta da Veiga, mas decidiu lançar o ex-prefeito Tarcísio Delgado, pai do deputado federal Júlio Delgado.

No Sudeste, a campanha nas ruas de Campos depende, sobretudo, dos principais adversários na corrida presidencial. Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, o PSB vai apoiar a candidatura à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB), com o deputado federal Márcio França (PSB) de vice. A escolha foi criticada por Marina até o último momento e ela promete ficar fora do palanque tucano no estado. No Rio, terceiro maior colégio eleitoral, a candidatura do deputado federal Miro Teixeira (Pros) naufragou e o PSB vai apoiar a coligação liderada pelo PT, que lançou Lindbergh Farias ao governo.

Para cientistas políticos, a falta de palanques própria em estados tão populosos vai atrapalhar. "Campos precisa de gente fazendo campanha junto com ele nos estados. Não dá para fazer campanha sem ter um lugar-tenente em cada região, para montar a estrutura para chegar ao eleitor. Não é possível fazer isso só com a propaganda na televisão", afirmou o cientista político Fernando Limongi, professor da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP).

Divisão

Não bastasse a aliança com os chamados velhos políticos, o PSB ainda vai dividido para a campanha nos estados. No Paraná, a legenda apoia a reeleição do governador Beto Richa (PSDB), mas o grupo de Marina prometeu apoiar a candidatura da deputada federal Rosane Ferreira (PV).

A falta de candidaturas próprias nos estados motivou protestos de dissidentes. O deputado federal Alfredo Sirkis (PSB), aliado de Marina, desistiu de disputar a reeleição à Câmara dos Deputados depois da aliança do partido com o PT no Rio. Ele tentou ser candidato ao Palácio Guanabara, mas foi preterido. Na convenção estadual, manteve a posição de que fosse lançado qualquer candidato da agremiação, mas foi novamente voto vencido.

Para a historiadora Marly Motta, professora da Fundação Getúlio Vargas, na falta de candidaturas da legenda, o PSB deveria ter fechado alianças mais fortes para enfrentar oligarquias regionais. No Rio e em São Paulo, acredita ela, é duvidoso o empenho de tucanos e petistas na campanha de Campos e  Marina. "Campos teria de ter alianças mais fortes. Ele está muito limitado ao eleitorado de Pernambuco", afirmou a historiadora.

As promessas de Eduardo Campos e Marina Silva
Reforma política

Uma das bandeiras da campanha de Eduardo Campos e de Marina Silva é a necessidade de mudar e modernizar a atual política brasileira. Para isso, eles vêm usando "nova política" em vários de seus discursos. Entre as propostas do PSB para modernizar a política está a revisão do pacto federativo, a diminuição da máquina pública, fim da reeleição e mandatos coincidentes - de presidente, governador e prefeitos - de cinco anos. Uma das diferenças da proposta de Campos e Marina para a apresentada pelo presidenciável Aécio Neves são quanto ao voto distrital misto, do qual eles discordam do tucano.

Carlos Siqueira e Bazileu Margarido são as cabeças da campanha do PSB ao Planalto: trabalham a articulação de todas as frentes de trabalho, alinham os discursos e estão em contato direto com os candidatos. Atualmente, a dupla prepara uma agenda com Marina ao lado de Campos principalmente em Estados do Sudeste, como uma estratégia de garantir popularidade ao presidenciável, ainda desconhecido nos principais eleitorados do país. O economista Bazileu Margarido acompanhou de perto a trajetória política de Marina Silva: foi presidente do IBAMA quando ela ainda ocupava o Ministério do Meio Ambiente, em 2008, chefe de seu gabinete no Senado e esteve à frente da campanha em 2010, quando a candidata recebeu quase 20 milhões de votos pelo Partido Verde. Bazileu destacou-se, ainda, como um dos principais entusiastas da criação do Rede Sustentabilidade e, no naufrágio do partido, compôs a equipe que aprovou a filiação ao PSB. Já Carlos Siqueira, secretário-geral do PSB tem sua trajetória política muito ligada a Eduardo Campos e, principalmente, seu avô, Miguel Arraes, de quem foi secretário durante seu governo no Estado de Pernambuco. Siqueira também preside a Fundação João Mangabeira, responsável pela formação política dos pessebistas.

Fonte: Reuters.

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