Além de administrar a resistência interna e a incompatibilidade entre
militantes do PSB e da Rede, candidatos precisaram ceder a líderes regionais e
abraçaram a “velha política”, sempre criticada nos discursos da chapa.
O PPS realizou convenção nacional para oficializar as candidaturas do
ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos à Presidência da República e da
ex-senadora Marina Silva à Vice-Presidência.
A promessa era ousada. No dia 5
de outubro, a ex-senadora Marina Silva e o então governador de Pernambuco
Eduardo Campos prometeram quebrar a polarização partidária que dominou as
últimas eleições presidenciais no Brasil. “Estamos quebrando uma falsa
polarização da política”, disseram. Era dia de comemorar a surpreendente
filiação de Marina ao PSB. Nove meses depois, com a oficialização da candidatura
da dupla neste sábado, a promessa de terceira via enfrenta, no mundo real da
política, as dificuldades do processo eleitoral no país, com necessidade de
composição de alianças nem sempre coerentes em favor da criação de espaços em
palanques regionais. O partido chega ao começo oficial da campanha, no dia
5 de julho, com apenas 11 candidatos a governador.
A “nova política” sucumbiu a
velhos políticos. O PSB apoia coligações majoritárias lideradas pelo PMDB, um
alvo constante de críticas de fisiologismo, em seis estados. Candidaturas a
governos estaduais do PT, de quem Campos buscou se divorciar no governo
federal, são apoiadas em dois estados. Solidariedade, PP, PDT e PCdoB também
atraíram apoio dos socialistas para suas respectivas candidaturas próprias em
quatro estados.
Essa esquizofrênica nova política
tornou-se o principal ponto de crítica de adversários e de dissidentes do
partido. No lançamento da sua candidatura, estranhamente, Campos criticou o
fisiologismo do PSDB. Em diversas ocasiões, Marina e o ex-governador defenderam
as confusas alianças regionais, sob argumento de que possuem motivações
particulares. Em alguns dos Estados sem candidatos a governador, como o Rio de
Janeiro e São Paulo, havia quem defendesse o lançamento de um correligionário
socialista. Ainda assim, o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, critica
justamente o PMDB, o alvo favorito de alianças fisiológicas, para sinalizar que
no PSB os dirigentes regionais não fazem o que querem.
"Nosso partido não é o PMDB
em que cada um faz o que quer nos seus estados", afirmou Siqueira.
Dois dias antes de seu ingresso
no PSB, no dia em que a Justiça Eleitoral barrou a criação da Rede, Marina se
justificou e afirmou estar empenhara na promessa de trabalhar no partido pelos
interesses em comum com seu grupo político. Desde então, sobraram
desentendimentos entre o grupo de Marina e caciques pessebistas.
Em contrapartida, pré-candidatos
da Rede sofreram boicote em redutos socialistas. O ambientalista Apolo Heringer
tentou concorrer ao governo de Minas Gerais, mas desistiu e chamou as prévias
partidárias de "cartas marcadas". O partido ficou perto de apoiar o
candidato tucano Pimenta da Veiga, mas decidiu lançar o ex-prefeito Tarcísio
Delgado, pai do deputado federal Júlio Delgado.
No Sudeste, a campanha nas ruas
de Campos depende, sobretudo, dos principais adversários na corrida
presidencial. Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, o PSB vai apoiar a
candidatura à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB), com o deputado federal
Márcio França (PSB) de vice. A escolha foi criticada por Marina até o último
momento e ela promete ficar fora do palanque tucano no estado. No Rio, terceiro
maior colégio eleitoral, a candidatura do deputado federal Miro Teixeira (Pros)
naufragou e o PSB vai apoiar a coligação liderada pelo PT, que lançou Lindbergh
Farias ao governo.
Para cientistas políticos, a
falta de palanques própria em estados tão populosos vai atrapalhar.
"Campos precisa de gente fazendo campanha junto com ele nos estados. Não dá
para fazer campanha sem ter um lugar-tenente em cada região, para montar a
estrutura para chegar ao eleitor. Não é possível fazer isso só com a propaganda
na televisão", afirmou o cientista político Fernando Limongi, professor da
USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP).
Divisão
Não bastasse a aliança com os
chamados velhos políticos, o PSB ainda vai dividido para a campanha nos
estados. No Paraná, a legenda apoia a reeleição do governador Beto Richa
(PSDB), mas o grupo de Marina prometeu apoiar a candidatura da deputada federal
Rosane Ferreira (PV).
A falta de candidaturas próprias
nos estados motivou protestos de dissidentes. O deputado federal Alfredo Sirkis
(PSB), aliado de Marina, desistiu de disputar a reeleição à Câmara dos
Deputados depois da aliança do partido com o PT no Rio. Ele tentou ser
candidato ao Palácio Guanabara, mas foi preterido. Na convenção estadual,
manteve a posição de que fosse lançado qualquer candidato da agremiação, mas
foi novamente voto vencido.
Para a historiadora Marly Motta,
professora da Fundação Getúlio Vargas, na falta de candidaturas da legenda, o
PSB deveria ter fechado alianças mais fortes para enfrentar oligarquias
regionais. No Rio e em São Paulo, acredita ela, é duvidoso o empenho de tucanos
e petistas na campanha de Campos e Marina. "Campos teria de ter
alianças mais fortes. Ele está muito limitado ao eleitorado de
Pernambuco", afirmou a historiadora.
As promessas de Eduardo
Campos e Marina Silva
Reforma política
Uma das bandeiras da campanha de
Eduardo Campos e de Marina Silva é a necessidade de mudar e modernizar a atual
política brasileira. Para isso, eles vêm usando "nova política" em
vários de seus discursos. Entre as propostas do PSB para modernizar a política
está a revisão do pacto federativo, a diminuição da máquina pública, fim da
reeleição e mandatos coincidentes - de presidente, governador e prefeitos - de
cinco anos. Uma das diferenças da proposta de Campos e Marina para a
apresentada pelo presidenciável Aécio Neves são quanto ao voto distrital misto,
do qual eles discordam do tucano.
Carlos Siqueira e Bazileu
Margarido são as cabeças da campanha do PSB ao Planalto: trabalham a
articulação de todas as frentes de trabalho, alinham os discursos e estão em
contato direto com os candidatos. Atualmente, a dupla prepara uma agenda com
Marina ao lado de Campos principalmente em Estados do Sudeste, como uma
estratégia de garantir popularidade ao presidenciável, ainda desconhecido nos
principais eleitorados do país. O economista Bazileu Margarido acompanhou de
perto a trajetória política de Marina Silva: foi presidente do IBAMA quando ela
ainda ocupava o Ministério do Meio Ambiente, em 2008, chefe de seu gabinete no
Senado e esteve à frente da campanha em 2010, quando a candidata recebeu quase
20 milhões de votos pelo Partido Verde. Bazileu destacou-se, ainda, como um dos
principais entusiastas da criação do Rede Sustentabilidade e, no naufrágio do
partido, compôs a equipe que aprovou a filiação ao PSB. Já Carlos Siqueira,
secretário-geral do PSB tem sua trajetória política muito ligada a Eduardo
Campos e, principalmente, seu avô, Miguel Arraes, de quem foi secretário
durante seu governo no Estado de Pernambuco. Siqueira também preside a Fundação
João Mangabeira, responsável pela formação política dos pessebistas.
Fonte: Reuters.
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