PRESIDENTE DA CPI DIZ QUE ADVOGADA SE VITIMIZA PARA 'ESCONDER
ATOS ILÍCITOS'
Hugo Motta disse haver 'indícios'
de que Catta Preta cometeu irregularidade.
Ela disse que deixou profissão porque era ameaçada por membros da CPI.
Um dia após a advogada Beatriz Catta Preta dizer em entrevista
ao Jornal Nacional que se sente “ameaçada” pelos membros da CPI da
Petrobras, o presidente da comissão, Hugo Motta (PMDB-PB), partiu para o ataque
nesta sexta-feira (31) ao dizer que ela “usa a vitimização” para esconder
possíveis “atos ilícitos”.
Sem dar detalhes, Motta disse haver “indícios” de irregularidades
no recebimento de honorários pela advogada que atuou em nove dos 22 acordos de
delação firmados no âmbito da Operação Lava Jato.
“O que é mais
estranho é uma advogada criminalista alegar que está sendo ameaçada e não
trazer nenhum fato concreto. E vir a um jornal de rede nacional querer usar a
vitimização para esconder, talvez, alguns atos ilícios que ela tenha cometido
no âmbito do processo da Lava Jato”, disse o deputado do PMDB.
Apesar de reiteradamente questionado pelos jornalistas
sobre os “indícios” que diz haver contra Catta Preta, Motta não quis detalhar.
“Existem indícios que estão sendo apurados”, disse.
Na entrevista ao Jornal Nacional nesta quinta (30),
Catta Pretta disse que decidiu deixar os casos dos clientes que defendia na
Operação Lava Jato porque se sentia ameaçada e intimidada por integrantes da
CPI da Petrobras. Ela
afirmou que, devido às supostas ameaças, fechou o escritório e decidiu
abandonar a carreira.
O deputado Hugo Motta afirmou que a convocação da
advogada está mantida, apesar da decisão do
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, de
liberá-la de falar à CPI sobre questões referentes ao sigilo profissional, como
honorários advocatícios. De acordo com o presidente da comissão, ela terá de
comparecer ainda que não seja para falar sobre esse tema.
“Ela tem que esclarecer quem está ameaçando a sua
família. Tem que ir à Polícia Federal, polícia do
seu estado. A CPI quer saber quem está ameaçando. A CPI não ameaça ninguém.
Isso leva a questionamentos de que ela usa a vitimização para não explicar a
origem dos seus honorários. Essa vitimização não vai intimidar a CPI. A CPI
será um grande palco para que ela tenha oportunidade de dizer quem está
ameaçando”, afirmou.
Júlio
Camargo.
Hugo Motta também negou que a convocação da advogada
seja uma retaliação pelo fato de o ex-consultor da Toyo Setal Júlio Camargo,
ex-cliente de Catta Preta, ter mudado o depoimento ao Ministério
Público Federal para dizer que o presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), pediu US$ 5 milhões em propina no esquema de corrupção da Petrobras,
Cunha nega.
Segundo Motta, o requerimento de convocação foi
aprovado antes de Camargo dizer à Justiça Federal de Curitiba que Cunha exigiu
dinheiro.
Os jornalistas lembraram, porém, que, na ocasião da
aprovação do requerimento, já circulava a notícia de que o consultor teria
decidido mudar o teor da delação premiada e que iria incriminar o presidente da
Câmara.
“Eu não sabia. Eu não sei se ele [Cunha] sabia. Não
vou falar sobre vazamentos. Só falo sobre fatos concretos”, respondeu o
presidente da CPI.
Motta também defendeu Eduardo Cunha e tentou
desqualificar as acusações de Júlio Camargo. “Júlio Camargo deu quatro delações
e não colocou o nome do Eduardo Cunha. Na quinta, ele mudou e colocou o nome do
Eduardo Cunha. Isso, no mínimo gera suspeição. Ou ele está mentindo antes ou
mentiu depois”, disse.
O presidente da CPI teve várias reuniões com Cunha ao
longo das duas semanas de recesso e explicou os encontros dizendo que é “amigo”
do presidente da Câmara.
“Cunha não tem interferência alguma na CPI. Ele foi
falar de forma espontânea na comissão. Nenhum outro político fez isso. Nós
conversamos sobre política. O presidente da Câmara é um amigo antes de tudo.
Votei em Eduardo para líder, votei em Eduardo para presidente da Câmara”,
declarou.
Kroll.
Hugo Motta defendeu ainda a atuação da consultoria
Kroll nas investigações da CPI. A empresa foi contratada por R$ 1,18 milhão
para investigar contas bancárias suspeitas de investigados na Operação Lava
Jato.
Nos bastidores, circula a informação de a consultoria
teria a missão de investigar delatores que comprometeram parlamentares, entre
os quais Eduardo Cunha.
O presidente da CPI disse que 12 pessoas foram
investigadas na primeira etapa de investigação da Kroll e admitiu que há
delatores entre elas. Mas negou que o objetivo seja deslegitimar as delações premiadas
para proteger políticos.
“Se você me pergunta se a Kroll está investigando
delatores, pode, sim, tiverem no âmbito da investigação alguns delatores. Por
quê? Porque os delatores confessadamente assumiram que cometeram delitos. Nós
precisamos investigar se eles devolveram tudo que desviaram no âmbito da
Petrobras”, disse Motta.
“A contratação da Kroll foi aprovada pela CPI em 5 de
março. O pedido de abertura de investigação do presidente da Casa, dr. Eduardo
Cunha, se deu no dia 8 de março. Ou seja, a aprovação da Kroll nada tem a ver
com a investigação do presidente Eduardo Cunha”, completou o presidente da
comissão.
Fonte: Agência O Globo.
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