COMENTÁRIO
Scarcela Jorge.“DIVORCIADA” SOBRE O PROTESTO DAS RUAS.
Nobres:
O Brasil apresentou domingo passado nas ruas das
capitais e de muitas cidades médias, a demonstração de uma das mais consagradas
expressões da cidadania. Mesmo sem a potência de ocasiões anteriores, pela
terceira vez neste ano a população, contrariada com a situação da política e da
economia, verbalizou a condenação dos corruptos, com críticas diretas aos
desmandos do governo e em especial à figura da presidente Dilma Rousseff. O
Brasil indignado reforçou um recado que se estende a outros setores da vida
pública e deve ser compartilhado principalmente com o Congresso. A combinação
dos ambientes de estagnação econômica e de corrupção levou multidões a
passeatas que, desta vez, tiveram peculiaridades a serem destacadas. Ficou evidente, como marca da maioria dos protestos, a exaltação da figura do
juiz Sergio Moro, que coordena os processos da Operação Lava-Jato e cujo desempenho
vem sendo reconhecido inclusive no Exterior. As faixas e cartazes com
referências ao magistrado devem ser vistos como manifestação de confiança em
uma autoridade que passa a personificar a autonomia e a independência da
Justiça, um dos pilares da democracia. Também merece registro o fato de que,
mais desta vez do que nos protestos de março e abril, os manifestantes acolheram
a participação de políticos. Mas a grande característica em comum, desta e das
outras marchas, foi o fato de que a população desfrutou o direito de se
manifestar de forma pacífica, sem que incidentes graves de violência ou
intolerância tenham sido registrados. Com algumas manifestações localizadas
pró-governo foi ratificada também a possibilidade da diversidade de pontos de
vista, mesmo em cenários que, eventualmente, possam ter maioria de
oposicionistas como era claramente o ambiente de domingo passado em um todo país.
Cabe aos políticos avaliar os recados que os manifestantes têm apontado de
forma categórica. A mensagem mais enfática é de que o esforço para a
recuperação da economia não será suficiente para acalmar o país. O que os
brasileiros desejam, e não só os que foram às ruas, é o combate implacável à
corrupção. Um governo fragilizado pela sucessão de escândalos e pelo mais baixo
nível de aprovação da história não pode, a partir de avaliações sobre o número
de participantes, enganar-se com o fato de que as passeatas não teriam superado
as de março e abril. O Executivo e os demais poderes terão de oferecer respostas
às manifestações de domingo passado, para que a expectativa de mudanças não
dependa apenas das virtudes da Justiça, mas da vontade explicita do povo.
Antônio
Scarcela Jorge.
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