Scarcela Jorge.
Nobres:
São inegáveis os avanços nos últimos anos em termos de
políticas sociais, que, aliás, remontam também a governos anteriores, embora
ampliadas na atual fase. Entretanto, políticas sociais não constituem monopólio
da esquerda. O liberalismo europeu compatibilizou-se durante muito tempo com o
Estado Social. Infelizmente, no Brasil, temos um liberalismo de marca
conservadora, avesso em grande parte a políticas sociais. Não gratuitamente,
cunhou-se na nossa literatura política a expressão “liberal-conservadorismo”,
para identificar a natureza e a prática do nosso pretenso liberalismo. Uma
coisa, entretanto, revela-se incontestável: um projeto progressista e
alternativo é incompatível com a corrupção, com o assalto ao patrimônio
público, seja em benefício partidário, seja também, como tudo indica, em
benefício pessoal. Tratou-se, finalmente, de um projeto, na dimensão histórica,
de pernas curtas. Que, talvez contra a vontade, engrandece o legado getulista.
Nada a ver com maquiavelismo: seria não só nada compreender de Maquiavel, como
aviltar seu pensamento. Trata-se mesmo de indigência e de demissão políticas. E
isso já se alertava desde pelo menos 2003. Provavelmente, abre-se agora um
período de reforço de uma hegemonia liberal-conservadora, em grande parte por
responsabilidade de um projeto político generoso e transformador nas suas
origens e nas suas intenções que foi rapidamente, utilizando aqui
metaforicamente uma expressão com origem na biologia, absorvida e, destruída
pelo que existe de mais atrasado e tradicional na política.
Antônio
Scarcela Jorge.
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