CONFIANÇA CAI E DEVE
IMPACTAR PIB NO 2º TRIMESTRE.
A queda forte e generalizada, em
maio, dos índices que medem a confiança de consumidores e de empresários da
indústria, comércio, serviços e construção, que respondem por 60% da economia,
indica um desempenho ainda pior do Produto Interno Bruto (PIB) neste trimestre,
com risco de atingir um resultado negativo. Entre janeiro e março, a economia
cresceu apenas 0,2% em relação ao 4º trimestre se 2013, descontado o
comportamento típico do período, segundo o IBGE.
“Há uma piora na percepção da
conjuntura captada pelos índices de confiança que pode se transformar numa
desaceleração ainda maior do PIB, que cresceu só 0,2% no 1º trimestre. Isso
significa que podemos ter resultado negativo no PIB do 2º ou do 3º trimestres,
na comparação com período imediatamente anterior”, afirma Aloisio Campelo,
superintendente de Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de Economia,
responsável pelos índices de confiança da FGV.
Para chegar a essa conclusão,
Campelo observou, em um período de quase 10 anos, uma forte correlação entre o
comportamento da confiança dos empresários da indústria, comércio, serviços e
construção e o resultado efetivo do PIB. Isto é, constatou que, quando a
confiança aumenta em relação ao trimestre anterior, descontados os efeitos
sazonais, a economia cresce e vice-versa.
Em 22 trimestres acompanhados
desde o 3º trimestre de 2008, Campelo observa que o PIB e a confiança não
seguiram a mesma direção em apenas um trimestre, o segundo de 2013, quando a
confiança caiu e o PIB se acelerou. Mas no trimestre seguinte, o PIB recuou e
seguiu a confiança, afetada pelas manifestações de junho de 2013. Naquela
ocasião, o descasamento ocorreu porque a economia ainda recebia estímulos ao
consumo e havia crescimento por causa da aceleração da atividade no final do
trimestre anterior.
Neste segundo trimestre, no
entanto, a economia herdou a desaceleração do final do 1º trimestre, os
estímulos ao consumo estão sendo retirados, e os juros ao consumidor estão em
rota ascendente. “A queda dos indicadores de confiança em abril e maio e a
perspectiva negativa para este mês, por causa das paralisações com a Copa, vão
ter um impacto bastante negativo no PIB do 2º trimestre”, diz o
economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Após o fraco resultado de
janeiro a março, ele reduziu de 1,2% para 0,8% a taxa de crescimento do Brasil
no 2º trimestre em relação a igual período de 2013. No 1º trimestre, o PIB
cresceu 1,9% ante o mesmo período de 2013.
Assim como Campelo, Vale
considera os índices de confiança um indicador antecedente do PIB. Nas suas
contas, a confiança do consumidor e dos empresários do comércio, da indústria,
do setor de serviços e da construção civil caiu 10% entre janeiro e maio. “Como
a confiança tem forte relação com o PIB, este será mais fraco no segundo
trimestre.”
Também para o assessor econômico
da Fecomércio- SP, Altamiro Carvalho, a queda de 25% da confiança do consumidor
em maio em relação a mesmo mês de 2013 indica um segundo trimestre bem mais
fraco, afetado principalmente pelo baixo desempenho do comércio. “O varejo vai
ter problemas em abril e maio. Temos quase certeza”. Em 2013, o PIB do 2º
trimestre cresceu 1,6% em relação ao trimestre anterior. Para Carvalho, o
resultado deste ano deve ficar entre 0,4% e 0,6%.
Inflação está entre os motivos
para o aumento do pessimismo
No mês passado, ocorreu um baque
generalizado nos índices de confiança apurados por diferentes institutos de
pesquisa. “Houve uma desconfiança em vários indicadores, mas nada comparável ao
pior momento recente, março de 2009. Naquela época, havia uma recessão
clássica. Agora, não estamos nesse ponto”, afirma Aloisio Campelo,
superintendente de Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de Economia
(Ibre/FGV).
Na sua avaliação, a queda na
confiança está associada à desaceleração da economia e ao ceticismo em relação
à recuperação da atividade. “Estamos em um ano em que a política monetária está
mais apertada, a inflação está demorando para ceder”, diz. Além disso, ele
ressalta que há um desapontamento em relação à atividade econômica por conta da
Copa do Mundo, com indústrias paralisando a produção, além das manifestações,
greves e risco de racionamento.
Na opinião do assessor econômico
da Fecomércio-SP, Altamiro Carvalho, variáveis conjunturais negativas - como
manifestações, risco de racionamento de energia e de água - afetam o
comportamento do consumidor. “O ambiente está muito turbulento, e o consumidor
não gosta de incerteza.” Mas o fator preponderante, na opinião do economista,
que levou à queda da confiança foi a inflação elevada que corroeu a renda. Além
disso, o cenário para o emprego não é tão favorável quanto no passado recente.
Essa mudança de cenário foi
sentida por Rita de Cássia Vieira, de 44 anos, que não tem carteira assinada há
seis anos. Antes copeira, Rita, nesse período, trabalhou como ajudante de
cozinha e cuidadora de idosos. Desde o ano passado, já foram 60 currículos
entregues à procura de um serviço registrado, mas não obteve sucesso. “A Copa
Mundo só melhorou o mercado para os jovens.”
Fonte: Agência Estado.
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