GESTÃO VULNERÁVEL
A desarticulação de um grupo de
servidores públicos suspeitos de tráfico de influência e de recebimento de
propinas, em escritório da Presidência da República, em São Paulo, demonstra a
vulnerabilidade do serviço público diante dos atrativos da corrupção. Os fatos
graves foram revelados pela Polícia Federal como resultado da "Operação
Porto Seguro". O governo, de pronto, adotou as medidas requeridas pelo
episódio constrangedor: exonerou os indiciados, determinou a revisão dos atos
por eles praticados, no exercício do cargo, e mandou abrir inquérito
administrativo. Os ocupantes de cargos comissionados não voltarão mais a seus
postos. Os detentores de cargos estáveis ficarão afastados até a conclusão dos
inquéritos. As investigações começaram em virtude da delação de um servidor
chamado a participar do esquema. Em seguida, a Polícia fez uma busca e
apreensão de documentos no escritório do órgão em São Paulo, detendo a chefe do
gabinete dessa unidade, Rosemary Noronha. A operação indiciou, ainda, Paulo
Rodrigues Vieira, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) e prendeu Rubens
Carlos Vieira, diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e Marcelo
Rodrigues Vieira, também da Anac, Carlos César Floriano (empresário) e Marco
Antonio Negrão Martorelli (advogado). As apurações se estenderam às
dependências da Advocacia-Geral da União, pelo comprometimento do
advogado-geral da União adjunto, José Weber Holanda Alves, exonerado do posto.
Foram indiciados, ainda, servidores da Agência Nacional de Transportes Aquaviários
(Antaq), da Superintendência do Patrimônio da União (SPU), do Tribunal de
Contas da União, do Ministério da Educação e dos Correios. Uma filha de
Rosemary Noronha, empregada na Anac, em Brasília, perdeu o cargo. Essa devassa
na cúpula da administração pública resultou da denúncia de que esses servidores
públicos e de empresários ofereceram a servidor do Tribunal de Contas da União
R$ 300 mil pela emissão de parecer técnico em favor de empresa com atuação no
porto de Santos. Existiria em funcionamento um balcão de negócios para
concessão de pareceres e laudos oficiais graciosos. O grupo passou a exercer
influência junto aos postos de decisão, intermediando encontros de interesse de
empresários, promovendo indicações para cargos públicos e obtendo vantagens
pecuniárias ou pessoais pelos favores prestados. Em relação ao escritório de
representação federal, em São Paulo, foco gerador de todos esses
acontecimentos, uma decisão extrema foi adotada: a extinção da figura do chefe
da unidade, esvaziando politicamente o cargo. Esse episódio parece que vem
abrir, como uma novela, um novo capítulo do escândalo do mensalão, cujo
julgamento está prestes a ser concluído no Supremo Tribunal Federal. Neste caso
recente, vale observar que o esquema de corrupção apresenta matiz ligado à
forma de escolha dos ocupantes de cargos em comissão, em meio ao jogo de
interesses partidários disputados a qualquer preço. O critério político que, de
modo geral, preside a designação de tais servidores, sem dar relevância à
capacitação técnica, leva a casos graves como este, que não foi o primeiro, nem
será o último, diante da demanda constante. Sem dúvida, essa operação policial
traz um enorme desgaste para o governo. Além disso, o caso pode ter
desdobramentos mais dolorosos, tendo em vista que alguns acusados ameaçam abrir
a boca para "contar tudo"...
FONTE: EDITORIAL DN
Nenhum comentário:
Postar um comentário