COMENTÁRIO
TIPIFICAÇÃO DO ELEITOR
NOBRES: - Para vencer eleição é
preciso estar sintonizado com os interesses imediatos do eleitor, mas não vale
a pena vencer se não estiver sintonizado com os anseios e as possibilidades do
futuro do país. Nos últimos anos, o processo eleitoral brasileiro tem se
orientado apenas de acordo com a primeira parte: os interesses imediatos de
cada eleitor, indicados por pesquisa de opinião pública, e o uso de marketing
para ajustar o discurso dos candidatos. Nas eleições municipais, nenhuma
relevância é dada ao longo prazo nem às concepções diferentes para o futuro da
cidade. Mas a eleição de 2012 foi caracterizada pela mistura de siglas e o
vazio de ideias. A eleição municipal tende a exigir do eleitor atenção às
propostas dos candidatos olhando os aspectos mais locais, mas não
necessariamente imediatos. Mesmo assim, até pouco tempo atrás os candidatos a
prefeito ou a vereador pertenciam a correntes de ideias que se chocavam. Isto
acabou e permitiu as estranhíssimas alianças entre partidos que deveriam estar
em lados opostos. O eleitor deixou de ser visto como um ser político, com
ideias, e foi transformado em garimpeiro em busca de peneirar o que sobra dos
discursos vazios dos candidatos vestidos pelos marqueteiros. Nem mesmo a
separação entre éticos e não éticos é levada em conta, porque nenhum partido
está livre de marcas negativas de comportamento de seus candidatos. O assunto
virou uma questão cronológica, não mais ética, porque os candidatos e partidos
ficaram iguais. Em 2014, esta falta de diferença nas ideias, comportamentos e
propostas, com todos discutindo apenas quem vai conduzir melhor o mesmo rumo e
não quem vai oferecer um rumo melhor, ameaça repetir o mesmo aborrecimento
visto no processo eleitoral de 2012. Por falta de nitidez e credibilidade que
diferenciem candidatos e seus partidos, os eleitores garimpeiros vão virar
eleitores jogadores, obrigados a escolher de acordo com o jogo da moeda: cara
ou coroa. O Brasil precisa de propostas que ofereçam um novo rumo para o país,
que apontem uma saída da economia concentradora de renda, destruidora do meio
ambiente e baseada nas técnicas do passado para uma economia sustentável, de
alta tecnologia e distributiva socialmente, capaz de revelar que o país não
terá futuro se continuar fugindo da revolução educacional de base e da
refundação de sua universidade. A eleição de 2014 precisa trazer um discurso de
reorientação, de inflexão no modelo dos últimos 20 anos. Mas dificilmente isso
acontecerá. Provavelmente, os candidatos serão dominados pela mesmice, pelo
cálculo de não assustar os financiadores de campanha e de servir docilmente aos
marqueteiros do ano, conforme as pesquisas de opinião que reflitam o interesse
imediato da tipificação do eleitor.
Antônio Scarcela Jorge
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