MUTAÇÃO FÍSICA DO
HOMEM
NOBRES
São de maneira firmar as nossas
considerações sobre temas de relevância política. Porém; há um questionamento
que estimamos, para dar direccionalmente à vida humana de sobremodo, duas
notáveis mudanças sociais do século 20. A primeira delas foi o culto à
juventude, iniciado no princípio do século. Enquanto em qualquer sociedade pacífica
os idosos são considerados repositórios vivos da sabedoria e conhecimento, na
nossa eles passaram a ser vistos com desprezo. Hoje muitas senhoras se vestem e
se comportam como se tivessem 20 anos de idade, em vã tentativa de escapar a
uma velhice percebida como maldição, não como troféu. Paradoxalmente, o
desenvolvimento médico aumentou tremendamente a expectativa de vida da
população. Hoje é relativamente normal que se passe dos 80 anos de idade, e
pessoas de 60 anos de idade frequentemente têm pais vivos. Sem o respeito tradicional aos idosos,
contudo, estas décadas a mais de vida acabam se tornando um problema social.
Aqueles que deveriam estar guiando, com sua sabedoria e experiência, os
esforços dos mais jovens são tratados como incapazes. Até mesmo os esforços
bem-intencionados para ajudá-los muitas vezes, principalmente nos centros de maior
densidade populacional onde o tempo e a distância “escraviza o homem” involuntariamente
os colocam em uma posição passiva; para colocar nas “creches” para idosos, que
a necessidade torna mais e mais comuns, raramente alguém se dá o trabalho de
ouvi-los. Histórias lhes são contadas, livros lhes são emprestados, mas o idoso
continua sendo tratado como objeto, não como sujeito vivo de sua própria
história. A sabedoria de quem viu e viveu o que os mais jovens ainda
enfrentarão é desprezada, e os macacos novos, sem ter quem os guie, botam a mão
em todas as cumbucas que veem. A história da cidade, do estado, do país e do
mundo é deixada de lado e esquecida; enquanto as testemunhas oculares definham
esquecidas, sendo entretidas como se fossem crianças pequenas ou afastadas como
um estorvo, os jovens pesquisadores se debruçam sobre documentos escritos,
ignorando seus autores. Desfazer a transformação ocorrida há quase cem anos é
impossível, mesmo por ela ter sido assumida pelos próprios idosos; quem era
jovem nos anos 1930 já considerava a força da juventude superior à experiência
da idade. É, contudo, possível tentar evitar que toda esta sabedoria se perca.
É possível criar programas que incentivem os mais jovens a aprender aos pés
desses tantos idosos que hoje são deixados de lado. Os professores podem pedir
aos alunos que os entrevistem; os pesquisadores podem e devem ir a eles e
ouvi-los. Temos um tesouro oculto definhando em silêncio. Ouçamos a voz da
experiência, para que não repitamos os erros do passado para que o senso se torne
insensíveis.
Antônio Scarcela Jorge
Nenhum comentário:
Postar um comentário