terça-feira, 27 de novembro de 2012

COMENTÁRIO - 27/11/2012



‘A TESE DE UMA REFORMA POLÍTICA’

NOBRES: - muito tem se falado de uma possível reforma política, um sonho de uma sociedade que principia um questionamento lógico para transformar o país no sentido ético da política. Reforma difere de revolução; esta derruba toda a construção, arranca até os alicerces e afasta a caliça para apagar o passado; aquela mantém a edificação em pé, conserva colunas e vigas, intervindas pontualmente para mudar aparência e funcionalidade dos cômodos. Reformas, por mais relevantes que tenham sido não legaram grandes ídolos retratados em camisetas e painéis mundo afora. A mítica revolucionária se apresenta em discursos que revelam a intenção de reinventar a roda, desprezando toda inteligência acumulada na construção política. A arrogância revolucionária faz o militante imaginar que porta a solução final para as injustiças que incomodam a humanidade desde o início dos tempos. Nenhuma das bilhões de pessoas que viveram antes teve a luminosidade que o revolucionário pensa possuir. São messias da boa-nova. Vanguarda da massa que o conservadorismo apascenta para impedir o progresso. Nesse contexto, a reforma é inimiga da revolução porque ela parte do pressuposto de que as instituições existentes são aproveitáveis e não há necessidade de despejar dejetos das obras. A “prefação” se destina a dizer que reformar é mais difícil que revolucionar. A reforma é feita com as pessoas vivendo na casa, opinando, resistindo. Por isso, discutir a reforma das instituições políticas do Brasil é angustiante porque parece que as coisas não saem do lugar e as imperfeições e obsolescências institucionais permanecem. A revolução desconsidera as opiniões adversas e massacra a resistência. Demolir é fácil. Em algum momento é imperioso enfrentar as dificuldades e começar os debates para as reformas. O Poder Judiciário passou por grande reforma em 2004, regrada pela Emenda Constitucional 45. O Legislativo é tema da continuidade da reforma política. As funções típicas de representação do povo, fiscalização e contrabalanço do Executivo e elaboração de leis tem murchado enquanto crescem atribuições anômalas, mais próximas de despachante de interesses locais no governo central (deputados federais) e de assistentes sociais para os deputados estaduais e vereadores. A ascensão do Judiciário a principal contrapeso ao Poder Executivo denota o raquitismo político do Legislativo. Vereadores e deputados estaduais devem ser remunerados? Trabalhariam com sessões diárias ou poderiam se reunir esporadicamente? Essas indagações revelam que não se trata de suprimir o Legislativo no âmbito municipal e estadual, mas de avaliar novas possibilidades para sua existência e atuação. Poderiam ser centenas de vereadores em cada município se não houvesse remuneração. As reuniões ordinárias semestrais e mui excepcionalmente extraordinárias seriam suficientes para legislar e muito mais eficazes para fiscalizar o prefeito. A mesma constituição para o Legislativo estadual produziria mais efeitos sobre os governadores que o atual aliciamento de deputados para a base governista que faz do Parlamento um apêndice do Executivo. É retórica a alusão que nos parecem utópicas.
Antônio Scarcela Jorge


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