COMENTÁRIO
CORRUPÇÃO PROSAICA
NOBRES:
Parece inesgotável o arsenal de
males que, dia sim, dia também, o governo patrocina para, já sem maior espanto,
atazanar a sociedade brasileira. O penúltimo deles – porque o último, como
sempre, ainda está para surgir – a entrar na fila das “malfeitorias” descobertas
nas altas esferas envolveu a chefe do escritório de representação da da
República em São Paulo, Rosemary Noronha – poderosa ex-assessora de José Dirceu
e amiga do ex-presidente Lula que, utilizando-se de suas ligações, traficava
influências em troca, até onde se sabe de mimos como cruzeiros marítimos e
cirurgias plásticas. O escândalo da vez foi revelado no fim da semana passada,
quando a Operação Porto Seguro da Polícia Federal indiciou 11 membros de uma
quadrilha especializada em comprar pareceres técnicos convenientes, forjar
documentos, distribuir propinas e ocupar cargos estratégicos para, por meio
deles, negociar o público em proveito do privado. No núcleo da quadrilha atuava
Rosemary, costumeira acompanhante de Lula em viagens internacionais; dele
emanava o prestígio que permitiu a ela, por exemplo, nomear diretores para duas
agências reguladoras e o próprio marido para um posto na Infraero. Entre os
indiciados encontra-se também o servidor que ocupava o posto de número 2 da
Advocacia-Geral da União (AGU), repartição vizinha ao gabinete presidencial no
Palácio do Planalto. A presidente Dilma Rousseff tomou providências rápidas. Um
dia após se tornar público o novo escândalo, tratou ela de demitir ou afastar
todos os implicados, na tentativa de marcar ponto perante a opinião pública
pelo “rigor” com que trata os “malfeitores” flagrados. Agiu de modo idêntico ao
que lhe deu a fama de “durona” quando, em penadas sucessivas, demitiu já no seu
primeiro ano de governo nada menos que sete ministros denunciados pela imprensa
ou pela Polícia Federal. Merece os parabéns? Permanece estranho ou
incompreensível que sejam necessárias denúncias públicas para que se manifeste
a firmeza da presidente. A sequência de todos os fatos guarda em comum exatamente
a primazia da imprensa, da PF ou do Ministério Público na tarefa de revolver a
lama dos porões para, só depois disso, serem tomadas as “rigorosas
providências” moralizadoras. No mínimo, as sempre tardias medidas punitivas
demonstram a insuficiência, a incapacidade ou, pior, a condescendência das
estruturas internas do governo para, primeiro, escolher melhor os agentes
públicos que nomeia; e, segundo, para manter suas atividades sob estrito
controle. Não, nunca ninguém sabe de nada até a explosão escandalosa da última
maracutaia. O ex-presidente Lula, por exemplo, considerou-se “apunhalado pelas
costas” ao tomar conhecimento de que sua antiga protegida – com quem trocava
telefonemas (foram 122 entre março de 2011 e outubro último) e com quem
conversava “todos os dias”, conforme Rosemary relata em um e-mail – era dada a
traficâncias de influência. “Não sabia” que partiam dela as indicações para que
nomeasse diretores de agências reguladoras? A desculpa, diga-se de passagem,
nem é original: afinal, Lula também se disse “traído” pelos assessores
envolvidos no mensalão – que, em seguida, classificou como uma farsa urdida por
golpistas. E a presidente Dilma, que já “não gostava” de Rosemary havia muito,
também a tudo desconhecia? Diante disso tudo fica a dúvida: de quanto mais “não
sabem” as autoridades que têm a responsabilidade de cumprir e preservar os
preceitos constitucionais e a higidez moral do governo? Se assim é, que o povo
brasileiro e as próprias autoridades nunca percam o telejornal da noite, a
leitura dos jornais do dia seguinte ou as revistas do fim de semana, pois são
eles que primeiro sabem, por iniciativa própria ou pela via das operações
policiais, do que acontece nas entranhas oficiais, porém, que no seu interior
havia uma única virtude: a esperança, e que lá permaneceu trancada. Ficou
evidente que a exemplo dos demais debelarmos este escândalo de tráfico de influência envolvendo uma funcionária da
Presidência muito próxima de Lula lança a pergunta: por que ninguém nunca sabe
de nada até que a imprensa, a Polícia Federal ou o MP façam a denúncia.
Antônio
Scarcela Jorge.
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