COMENTÁRIO
RESSACA ELEITORAL
NOBRES:
Encerrado mais um ciclo do
calendário eleitoral. Prefeitos e vereadores estão, teoricamente, próximos da
vida dos cidadãos. O eleitor, como sempre, foi seduzido pelas mensagens do
político. E nós, jornalistas, não conseguimos fazer o necessário contraponto. Reconhecemos que fomos capazes de produzir reportagens
sobre o grande evento. Mas a hora é de reflexão e autocrítica a respeito da
qualidade dessas coberturas. A imprensa não conseguiu romper a agenda dos
candidatos. Ataques recíprocos baixariam e promessas, sem o devido contraponto,
ocuparam ocasionalmente e raramente alguns programas. É difícil imaginar que os
ouvintes em sua maioria ouviram pelo rádio ficaram visivelmente desencantado
com o show eleitoral, tenha interesse por uma cobertura que não consegue ir
além do espetáculo político. Assistiu-se a uma desintermediação de notícias em
espécie. Em tese a imprensa, notadamente o rádio, o único veículo de massas não
se mostrou capaz de fugir da pauta ditada pelos marqueteiros, para questionar
os candidatos de forma objetiva sobre os problemas da cidade e suas promessas
de campanha. Os programas eleitorais gratuitos vendem uma bela embalagem, mas,
de fato, são paupérrimos na discussão das ideias. Nós, jornalistas, somos (ou
deveríamos ser) o contraponto a essa tendência. Cabe-nos a missão de rasgar a
embalagem e desnudar os candidatos. Só nós, podemos minorar os efeitos perniciosos
de um espetáculo que, certamente, não contribui para o fortalecimento de uma
democracia verdadeira e amadurecida. As pesquisas eleitorais, por outro lado,
podem contribuir para o estabelecimento do debate cívico. Elas representam uma
manifestação concreta do direito à informação e democratizam o processo
eleitoral. Mas a importância das pesquisas não elimina a necessidade do seu
aprimoramento, sobretudo no que diz respeito à sua divulgação pela imprensa. O
protagonismo excessivo das pesquisas na mídia empurra para segundo plano o
debate das ideias, dos planos de governo e das políticas públicas. A
participação da imprensa na divulgação dos resultados das pesquisas influi
decididamente na configuração da opinião pública e da vida democrática.
Impõem-se, por isso, cuidado redobrado e, sobretudo, bom adestramento técnico
quanto ao procedimento das pesquisas. Por isso, uma cobertura de qualidade é, antes
de qualquer coisa, uma questão de foco. É preciso declarar guerra ao jornalismo
declaratório e assumir, efetivamente, a agenda do cidadão. A busca da isenção
não exime o jornalista de questionar os candidatos e detentores de funções
públicas. Transparência nos negócios públicos, ética, qualificação e
competência são as principais demandas da sociedade. E são também as pautas de
uma boa cobertura eleitoral. Deixemos de lado a pirotecnia e não nos deixemos
algemar pelas necessárias pesquisas eleitorais. Nosso papel, único e
intransferível, é ir mais fundo. A pergunta inteligente faz a diferença. Esta é
razão para que tenhamos uma disputa eleitoral com transparência, longe do seu
quase perfeito aprimoramento.
Antônio Scarcela Jorge.
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