IMPEACHMENT
DE DILMA NÃO ESTÁ ‘MORTO’, DIZ JUCÁ.
BRASÍLIA - Cotado para assumir o segundo posto de
comando do PMDB a partir de março, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), ex-líder no
Senado dos governos Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) e Dilma Rousseff (PT), considera que o processo de impeachment de Dilma
não perdeu força.
Em entrevista ao Estado, Jucá ressaltou que em política nada
está morto e os desdobramentos de um possível afastamento da presidente serão conseqüência
de uma conjuntura.
Um dos articuladores do acordo de “união” realizado
entre a bancada do PMDB do Senado e o vice-presidente Michel Temer, Jucá
defende que o partido marque suas diferenças com o PT.
Para ele, o PMDB não
pode se limitar a ser “o partido da governabilidade” e deve investir em
bandeiras que estejam articuladas com a realidade.
Em relação aos avanços no
Congresso de propostas polêmicas com a recriação da CPMF, o peemedebista
ressalta que a discussão da criação de impostos não pode ser separada da de
corte de despesas pelo governo.
Sobre a Lava Jato, na qual é alvo de inquérito no
Supremo Tribunal Federal, diz que seus efeitos serão perceptíveis nas eleições
municipais deste ano, mas que a operação não deve servir de base para as
negociações políticas.
Ele é investigado na operação por lavagem de dinheiro,
formação de quadrilha e corrupção passiva, acusações das quais ele nega
envolvimento.
Não acho que perdeu (força). Em política nada está
morto. Em política cada dia é uma conjuntura diferente.
Impeachment é conseqüência
de um conjuntura. Ela às vezes esquenta, às vezes esfria.
Há dois meses a
conjuntura do Brasil era outra.
Mas não podemos discutir a solução do Brasil
apenas após o impeachment porque ninguém sabe se vem, nem quando vem.
O acordo
do PMDB do Senado com Temer está relacionado a essa avaliação do impeachment?
Não. Estamos trabalhando pela união do PMDB. O Michel
é um ponto de equilíbrio no partido. Mas o PMDB precisa ter claramente
bandeiras. O partido tem que ter uma identidade que a população saiba com
clareza o que é que aquilo representa.
Mas isso
já não foi feito com o documento lançado por Temer com propostas para o País,
batizado de ‘Uma Ponte para o Futuro’?
É um documento teórico, não é um documento voltado
para a população. Aquele documento precisa ser traduzido em programas para a
população.
Então, o
documento não é o programa do PMDB?
Não é. Ali tem algumas idéias. O posicionamento será
construído. O que vamos fazer no encontro da Executiva é aglutinar, unir o
partido, eleger uma Executiva que efetivamente represente as forças que são
complementares.
Nesse
processo de discussão interna, o PMDB vai buscar se distanciar do PT e do
governo?
Queremos marcar as diferenças que nós temos dos outros
partidos. Temos diferenças com o PT.
Podemos ter equidades, mas temos
diferenças também e isso tem que ficar claro para que efetivamente a leitura da
população seja justa.
Não podemos pagar por erros que não são nossos e não
podemos ter também ganhos de ações que não são nossas. O nosso balizamento é a população
brasileira, é a cobrança das ruas. Estamos vivendo outro limiar.
Os partidos
que não entenderem isso estarão fora do jogo, virarão um dinossauro e vão
desaparecer.
Mas haverá
uma tentativa de o PMDB mostrar que é diferente do PT?
Acho que isso tem que ficar claro. O que se diz do
PMDB é que o partido da governabilidade.
Mas governabilidade não tem que ser
bandeira de partido porque você está sendo escada para outro partido governar.
O PMDB tem que ser um partido da educação, da primeira infância, da qualidade
na segurança, na mobilidade urbana.
Temos que ter bandeiras que as pessoas
identifiquem como condições para elas ascenderem na vida.
O Senhor é
investigado na Lava Jato e foi relator de MPs com suspeitas de terem sido
compradas, alvos de investigação na Operação Zelotes. Qual sua
participação nos esquemas?
Não tenho relação com qualquer esquema. Desde o início
me coloquei à disposição da PF para quaisquer esclarecimentos. É do meu
interesse a celeridade dos processos.
Há uma
leitura de que a união com Temer ocorreu devido ao avanço da Lava Jato sobre o
PMDB do Senado.
Não tem nada a ver com Lava Jato. Estão sendo feitas
as investigações. Se alguém tiver culpa tem que pagar. Houve um processo de
investigação de todo mundo, o que é legítimo.
Quem está na vida pública tem que
dar explicações. Não há nenhum demérito em ninguém ser investigado, o demérito
é ser condenado.
O avanço
da Lava Jato poderá ter impacto na governabilidade?
Acho que não. A Lava Jato é uma questão grave no
quadro político, mas esse dado não pode ser o parâmetro para se tocar as
questões políticas, nem de gestão do País.
Não posso dar uma resposta porque não conheço os
procedimentos de investigação. Seria leviano. Mas se pode dizer que o Lula hoje
é um ponto de confronto político, como foi a Dilma no ano passado e ainda
permanece. É mais uma frente de embate político.
Acredita
que os desdobramentos da Lava Jato terá algum impacto nas eleições 2016?
O impacto para os partidos e as figuras que estão
nestes processos já está comprometido. Não tenho dúvida. Quem tiver com
qualquer tipo de problema vai ter que se explicar. O desgaste já está
acontecendo. Em tese, há um desgaste efetivo, mas se vai se prolongar até 2018,
não dá para prever.
O que
achou da ida da presidente ao Congresso?
Ela colocou algumas questões de reformas
estruturantes. Foi um fator positivo ter vindo ao Congresso como uma forma de
se colocar para o debate. Tocou em temas que são áridos para o próprio partido
dela, portanto, teve um posicionamento corajoso em termos estruturais. Agora, a
partir daí vamos ver como isso se transforma em realidade. Nós temos que ver a
prática concreta das idéias.
A agenda
do governo da reforma da previdência e CPMF contempla o PMDB?
O PMDB vai estudar a reforma. O partido entende que é
preciso buscar o equilíbrio fiscal mas que tem que ser preservados os direitos.
Temos que resolver o equilíbrio da previdência para que não tenha que acontecer
no Brasil o que aconteceu com a Grécia e com a Europa que é cortar pagamentos
de aposentados.
E a CPMF?
A CPMF vamos discutir no bojo das reforma
estruturantes. A discussão de aumento de receita não pode ser separada da de
corte de despesa, senão a população não entende e não passa no Congresso. Temos
que discutir corte de despesa, reformas estruturantes e aumento de receita num
único pacote porque eles estão interligados.
O governo tem que fazer o dever de casa e mostrar para
a sociedade que tipo de esforço o governo está fazendo para depois pedir um
esforço dela. A questão não é só aumentar imposto, mas reprogramar o gasto
público e alocar essa transição. Como vamos fazer isso? O governo vai ter que
propor.
Fonte: Agência Brasil.
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