CONFIANÇA E RENDA EM QUEDA, DESEMPREGO E INFLAÇÃO ATRAPALHAM
INDÚSTRIA, DIZ IBGE.
A
confiança em baixa, tanto dos empresários quanto dos consumidores, a
deterioração do mercado de trabalho e a inflação batendo recordes de alta
contribuíram para o mau desempenho da indústria em 2015, afirmou nesta
terça-feira, 2, André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No ano passado, a queda de 8,3%
na produção ante 2014 foi o pior resultado desde o início da série histórica
(2003).
Segundo Macedo, o resultado ao longo de 2015 foi
marcado por uma disseminação de dados negativos entre as atividades
industriais, além do aumento de intensidade do recuo com a passagem dos meses.
"Não por acaso fechamos com um resultado em magnitude (de queda) muito
superior do que no início do ano", disse.
"O baixo nível de confiança do empresário, que
adia e inibe investimentos, o baixo nível de confiança dos consumidores, que
leva a um adiamento de consumo de bens, o mercado de trabalho funcionando de
maneira mais restrita, com desemprego aumentando e renda diminuindo, combinado
com crédito mais caro, mais escasso... tudo isso forma um cenário que ajuda a
entender esse resultado.
Além, é claro, de um nível de preços mais
elevado", explicou Macedo.
Um dos poucos fatores positivos ao longo de 2015, o
câmbio contribuiu para a melhora de alguns setores, mas foi insuficiente para
recuperar a indústria como um todo.
Os mais beneficiados são segmentos já
voltados para o mercado externo, como celulose. Nos demais, a substituição de
importações "não acontece do dia para a noite", disse o gerente.
"Nesse momento, o câmbio favorece alguns poucos segmentos, e isso não é
suficiente para reverter todo esse desempenho de queda visto ao longo do ano
passado", afirmou Macedo.
No fim de 2015, os estoques melhoraram em alguns
setores, mas isso não significa que haverá retomada no início de 2016, advertiu
o gerente do IBGE.
"A combinação de uma produção em queda já há algum
tempo faz com que haja ajustamento dentro dos estoques das fábricas.
Informações externas ao IBGE mostram que houve melhora nos estoques no fim do
ano, especialmente em dezembro.
Isso pode sinalizar alguma melhora, mas a
retração no ambiente doméstico permanece", disse.
Seqüência de quedas.
O recuo de 0,7% na produção industrial em dezembro
ante novembro foi o sétimo seguido neste tipo de comparação, disse Macedo.
Trata-se da maior sequência negativa já observada na série, iniciada em 2002.
No período de junho a dezembro de 2015, a perda
acumulada pela indústria foi de 8,7% - mais intensa até do que o recuo de 8,3%
observado no fechamento do ano passado.
"Isso é mais uma evidência de que
2015 foi um ano caracterizado por um comportamento negativo que foi se
intensificando ao longo do ano", disse Macedo.
Em dezembro de 2015 antes igual mês de 2014, a queda
de 11,9% na produção foi a 22ª taxa negativa consecutiva neste confronto,
observou Macedo.
"A última taxa positiva foi em fevereiro de 2014, e, nos
últimos quatro meses, houve aumento da intensidade de queda, com taxas em dois
dígitos", afirmou.
Nível de janeiro de 2009.
A retração de dezembro de 2015, na comparação com
novembro, contribuiu para que o indicador produtivo do setor alcançasse patamar
19,5% abaixo do nível recorde, registrado em junho de 2013.
Além disso, a
indústria encerrou o ano passado operando em patamar semelhante a janeiro de
2009, de acordo com Macedo.
Categorias.
O recorde negativo da produção industrial em 2015 foi
acompanhado por três das quatro grandes categorias econômicas, segundo o IBGE.
Bens de capital (-25,5%), bens de consumo duráveis (-18,7%) e bens de consumo
semi e não duráveis (-6,7%) tiveram, no ano passado, o pior resultado desde o
início da série, em 2003.
"A queda na produção de bens de capital,
categoria diretamente associada com investimentos e expectativas em relação à
produção, chama a atenção", afirmou Macedo.
Produtos.
Apenas 21,6% dos 805 produtos da indústria registraram
avanço na produção em 2015, informou o representante do IBGE.
"Temos pouco
mais de um quinto da indústria com resultados positivos, em ano caracterizado
pela maior queda da produção e com perfil disseminado", observou.
Segundo o gerente, a fatia de produtos em alta é a
menor já registrada na série, iniciada em 2003 para dados anuais. O resultado é
reflexo da extensão das perdas na atividade, que atingiram desde produtos
supérfluos até bens considerados essenciais, como alimentos.
As quedas se espalharam por 78,3% dos produtos.
"Temos uma indústria de transformação inteira com queda na produção, seja
aquela diretamente ligada aos investimentos, seja aquela ligada ao consumo das
famílias", disse Macedo.
Duráveis.
O avanço de 9,4% na produção de bens de consumo
duráveis em dezembro antes novembro não deve ser interpretado como um
"alento" ao setor, que amargou retração de 18,7% no ano passado,
afirmou André Macedo.
"Todos os fatores conjunturais permanecem, e a base
de comparação é deprimida", disse.
"Além disso, de forma alguma esse
resultado reverte o saldo negativo", acrescentou o gerente.
Apenas em
quatro meses, entre agosto e novembro de 2015, a produção acumulou retração de
18,1%.
O mesmo vale para o caso de veículos, que apresentou
alta de 4,7% em dezembro antes novembro, acrescentou Macedo.
"Determinadas
unidades produtivas que estavam com jornada reduzida podem ter voltado parte da
produção em dezembro.
Mas o setor de automóveis permanece com férias coletivas,
cortes de turnos de trabalho.
Não é razoável supor que esse segmento vai
permanecer com trajetória ascendente", observou. Os artigos de linha
marrom, como os televisores, e as motocicletas, também tiveram melhora na
produção em dezembro antes novembro.
"Mas, para todos esses itens,
permanece a conjuntura desfavorável.
O consumo desses produtos é diretamente
ligado ao crédito e à diminuição das incertezas por parte das famílias.
Hoje,
temos crédito mais caro, desemprego, incerteza em relação à economia como um
todo. Então, é razoável supor que o desempenho negativo nessa categoria
permaneça", disse Macedo.
Fonte: Agência O Estadão.
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