quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

BRASIL VISTO POR DENTRO E POR FORA


CONFIANÇA E RENDA EM QUEDA, DESEMPREGO E INFLAÇÃO ATRAPALHAM INDÚSTRIA, DIZ IBGE.



A confiança em baixa, tanto dos empresários quanto dos consumidores, a deterioração do mercado de trabalho e a inflação batendo recordes de alta contribuíram para o mau desempenho da indústria em 2015, afirmou nesta terça-feira, 2, André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

No ano passado, a queda de 8,3% na produção ante 2014 foi o pior resultado desde o início da série histórica (2003).

Segundo Macedo, o resultado ao longo de 2015 foi marcado por uma disseminação de dados negativos entre as atividades industriais, além do aumento de intensidade do recuo com a passagem dos meses. 

"Não por acaso fechamos com um resultado em magnitude (de queda) muito superior do que no início do ano", disse.

"O baixo nível de confiança do empresário, que adia e inibe investimentos, o baixo nível de confiança dos consumidores, que leva a um adiamento de consumo de bens, o mercado de trabalho funcionando de maneira mais restrita, com desemprego aumentando e renda diminuindo, combinado com crédito mais caro, mais escasso... tudo isso forma um cenário que ajuda a entender esse resultado. 

Além, é claro, de um nível de preços mais elevado", explicou Macedo.

Um dos poucos fatores positivos ao longo de 2015, o câmbio contribuiu para a melhora de alguns setores, mas foi insuficiente para recuperar a indústria como um todo. 

Os mais beneficiados são segmentos já voltados para o mercado externo, como celulose. Nos demais, a substituição de importações "não acontece do dia para a noite", disse o gerente. 

"Nesse momento, o câmbio favorece alguns poucos segmentos, e isso não é suficiente para reverter todo esse desempenho de queda visto ao longo do ano passado", afirmou Macedo.

No fim de 2015, os estoques melhoraram em alguns setores, mas isso não significa que haverá retomada no início de 2016, advertiu o gerente do IBGE. 

"A combinação de uma produção em queda já há algum tempo faz com que haja ajustamento dentro dos estoques das fábricas. Informações externas ao IBGE mostram que houve melhora nos estoques no fim do ano, especialmente em dezembro. 

Isso pode sinalizar alguma melhora, mas a retração no ambiente doméstico permanece", disse.

Seqüência de quedas.

O recuo de 0,7% na produção industrial em dezembro ante novembro foi o sétimo seguido neste tipo de comparação, disse Macedo. Trata-se da maior sequência negativa já observada na série, iniciada em 2002.

No período de junho a dezembro de 2015, a perda acumulada pela indústria foi de 8,7% - mais intensa até do que o recuo de 8,3% observado no fechamento do ano passado. 

"Isso é mais uma evidência de que 2015 foi um ano caracterizado por um comportamento negativo que foi se intensificando ao longo do ano", disse Macedo.

Em dezembro de 2015 antes igual mês de 2014, a queda de 11,9% na produção foi a 22ª taxa negativa consecutiva neste confronto, observou Macedo. 

"A última taxa positiva foi em fevereiro de 2014, e, nos últimos quatro meses, houve aumento da intensidade de queda, com taxas em dois dígitos", afirmou.


Nível de janeiro de 2009.


A retração de dezembro de 2015, na comparação com novembro, contribuiu para que o indicador produtivo do setor alcançasse patamar 19,5% abaixo do nível recorde, registrado em junho de 2013. 

Além disso, a indústria encerrou o ano passado operando em patamar semelhante a janeiro de 2009, de acordo com Macedo.

Categorias.

O recorde negativo da produção industrial em 2015 foi acompanhado por três das quatro grandes categorias econômicas, segundo o IBGE. Bens de capital (-25,5%), bens de consumo duráveis (-18,7%) e bens de consumo semi e não duráveis (-6,7%) tiveram, no ano passado, o pior resultado desde o início da série, em 2003.

"A queda na produção de bens de capital, categoria diretamente associada com investimentos e expectativas em relação à produção, chama a atenção", afirmou Macedo.

Produtos.

Apenas 21,6% dos 805 produtos da indústria registraram avanço na produção em 2015, informou o representante do IBGE. 

"Temos pouco mais de um quinto da indústria com resultados positivos, em ano caracterizado pela maior queda da produção e com perfil disseminado", observou.


Segundo o gerente, a fatia de produtos em alta é a menor já registrada na série, iniciada em 2003 para dados anuais. O resultado é reflexo da extensão das perdas na atividade, que atingiram desde produtos supérfluos até bens considerados essenciais, como alimentos.

As quedas se espalharam por 78,3% dos produtos. 

"Temos uma indústria de transformação inteira com queda na produção, seja aquela diretamente ligada aos investimentos, seja aquela ligada ao consumo das famílias", disse Macedo.

Duráveis.

O avanço de 9,4% na produção de bens de consumo duráveis em dezembro antes novembro não deve ser interpretado como um "alento" ao setor, que amargou retração de 18,7% no ano passado, afirmou André Macedo. 

"Todos os fatores conjunturais permanecem, e a base de comparação é deprimida", disse. 

"Além disso, de forma alguma esse resultado reverte o saldo negativo", acrescentou o gerente. 

Apenas em quatro meses, entre agosto e novembro de 2015, a produção acumulou retração de 18,1%.

O mesmo vale para o caso de veículos, que apresentou alta de 4,7% em dezembro antes novembro, acrescentou Macedo. 

"Determinadas unidades produtivas que estavam com jornada reduzida podem ter voltado parte da produção em dezembro. 

Mas o setor de automóveis permanece com férias coletivas, cortes de turnos de trabalho. 

Não é razoável supor que esse segmento vai permanecer com trajetória ascendente", observou. Os artigos de linha marrom, como os televisores, e as motocicletas, também tiveram melhora na produção em dezembro antes novembro. 

"Mas, para todos esses itens, permanece a conjuntura desfavorável. 

O consumo desses produtos é diretamente ligado ao crédito e à diminuição das incertezas por parte das famílias. 

Hoje, temos crédito mais caro, desemprego, incerteza em relação à economia como um todo. Então, é razoável supor que o desempenho negativo nessa categoria permaneça", disse Macedo.
Fonte: Agência O Estadão.

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