Scarcela Jorge
ABDICAR NA CONTRADIÇÃO
Nobres:
A renúncia do Papa Bento XVI nos deixou como maneira
de poder interpretar um ato mais que tudo religioso como o do papa deve ser
feita não através do olhar de fora para dentro, por critérios da lógica
política mundana. O olhar preciso no sentido de partir de dentro, da
perspectiva espiritual do cristianismo, Ela se expressa num paradoxo supremo: a
morte na cruz abre caminho à ressurreição, a derrota é uma forma de vitória, o
fracasso aparente conduz à fundação da Igreja. Esse sentido profundo está
implícito na escolha da quaresma, o período da paixão, morte e ressurreição do
Cristo, para o anúncio de decisão cujas causas físicas saltam aos olhos na
imagem frágil de Bento XVI na missa de Cinzas. Não há contradição, porém, em
afirmar que a renúncia constitui também ato político de excepcional relevância.
De fato, ela coloca de modo incontornável, o problema do exercício do poder
numa igreja que sofre permanente tensão dialética entre dois elementos do seu
nome: católica, isto é, universal e romana, centralizada na Cúria. Levada ao
extremo nos dois últimos séculos, a centralização começou a enfrentar reação
contrária no Concílio Vaticano II, expressão do princípio da colegialidade e de
sua aplicação: os sínodos episcopais, as conferências nacionais de bispos, a
eleição sucessiva de dois papas não italianos. Desde então, tornou-se desafio
sobre-humano conciliar o acúmulo dos poderes numa só pessoa com a efetiva
participação de uma comunidade de mais de 1 bilhão de fieis de centenas de
línguas em milhares de dioceses. Ao eleger um “atleta religioso” de 58 anos, os
cardeais adiaram o problema. Até que o longo e doloroso declínio físico de João
Paulo II voltasse a evidenciar que o papado centralizado e vitalício se tornara
uma tarefa impossível, além de contraditória com a exigência de que os bispos
se retirem aos 75 anos e os cardeais percam o direito de voto aos 80! Ao
reconhecer essa impossibilidade e dela retirar as consequências com seu ato, o
papa, sem convocar novo concílio, relança a sempre inacabada obra de renovação
da Igreja. Pode ser que o conclave adie de novo a solução. Cedo ou tarde,
contudo, será necessário enfrentar o difícil desafio de conciliar dois
objetivos igualmente desejáveis: preservar a unidade e estimular o pluralismo,
guardar o patrimônio da fé na sua essência e deixar espaço à afirmação da
autonomia da consciência individual e das legítimas diferenças de heranças
culturais e nacionais. Ao afirmar o primado de sua consciência, Bento XVI
obrigou os cardeais a enfrentarem suas responsabilidades. Não “desceu da cruz”,
como insinuou um cardeal; escolheu nela permanecer de modo diferente. Pois o
que será mais árduo: sofrer e morrer na glória do papado ou abrir mão do poder
e aceitar diminuir para que outro cresça, afinal é possibilitar novas reflexões
qual que seja a escolha para retomar o destino da nossa Igreja.
Antônio Scarcela Jorge
Cardeais podem antecipar conclave
para eleger novo Papa.
O Vaticano informou que
vários cardeais cogitaram a possibilidade de antecipar para o início de março a
data para um conclave para eleger o novo papa, que sucederá o Papa Bento XVI, que renunciou.
O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi - que antes havia dito que o conclave provavelmente ocorreria no dia 15 de março ou logo após esta data, uma vez que o Papa renuncia no dia 28 de fevereiro - disse que o tema tem sido discutido por vários cardeais nos últimos dias. O conclave reunirá 117 cardeais eleitores do mundo todo, que precisarão obter dois terços da maioria dos votos para eleger o novo papa, durante encontro a portas fechadas na Capela Sistina. Lombardi disse ainda que assim que renunciar oficialmente, Bento XVI irá ficar na residência papal de verão no Castelo Gandolfo, perto de Roma, por cerca de dois meses, antes de então ir morar num ex-monastério no Vaticano. "Esperamos que ele fique lá (no castelo) até o final de abril, início de Maio, enquanto a nova residência está sendo renovada", disse o porta-voz.
As informações são da Dow Jones.
Fonte:
Agência O Estado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário