“SINAIS” DOS TEMPOS
METEORO CAIU NA RÚSSIA
Danos materiais em seis cidades
da região dos Urais. Não há relação com o asteróide que vai passar perto da
Terra.
Um meteoro entrou nesta
sexta-feira na atmosfera, na região dos Urais (Rússia), causando 514 feridos,
112 dos quais estão hospitalizados, segundo a agência russa Interfax, citando o
Ministério das Situações de Emergência.
A zona mais afectada fica perto
da cidade de Cheliabinsk, a leste dos montes Urais. O estado de emergência foi
declarado em três distritos da região, noticiou a agência. Entre os feridos
estão, segundo a Itar-Tass, 82 crianças.
A Interfax diz que um total de
725 pessoas tiveram de receber assistência.
Uma fonte do Ministério do
Interior russo citada pela AFP refere estragos materiais em seis cidades. A
agência RIA Novosti diz que foram atingidas três regiões da Rússia e do vizinho
Cazaquistão.
"Informações verificadas
indicam que foi um meteoro que se incendiou quando se aproximou de Terra e se
desintegrou em pequenas partes", disse Elena Smirnykh, do Ministério das
Situações de Emergência, citada pela RIA Novosti. Segundo a agência
espacial russa, Roscomos, deslocava-se à velocidade de 30 quilómetros por
segundo.
A Roscomos informou que é difícil
prever este tipo de ocorrência. "Segundo a informação disponível, o
objecto não foi registado pelos sistemas de observação espaciais russos ou
estrangeiros devido às características especiais da sua movimentação. A entrada
destes objetos na atmosfera é acidental e difícil de prever."
No site do Ministério da
Defesa russo foi publicada uma foto que mostra duas colunas de fumo, sobre uns
edifícios, e que testemunham a passagem do meteoro. Nas agências de notícias há
imagens semelhantes, bem como de estragos materiais provocados por este objeto
celeste, como vidros partidos num pavilhão desportivo.
O governo diz que não há danos
nas unidades militares existentes na região. Os prejuízos materiais terão sido
provocados sobretudo pelas ondas de choque de uma explosão, audível em vários
vídeos que captaram a ocorrência. Vários edifícios ficaram com vidros partidos
e coberturas danificadas.
Testemunhas na cidade de
Cheliabinsk ouvidas pela Reuters dizem ter visto, às primeiras horas da manhã,
objectos brilhantes a caírem do céu. Ouviram estrondos, sentiram edifícios a
abanar e os alarmes de carros dispararam na mesma altura. "Definitivamente
não foi um avião [em queda]", disse um responsável da protecção civil,
ouvido pela agência Reuters, pouco depois da ocorrência. "Estamos a tentar
reunir informação e não temos, até agora, qualquer dado sobre mortes."
No Youtube há diversos vídeos
filmados a partir de carros em movimento que mostram claramente o voo de um
objecto muito luminoso, a grande velocidade, e que provoca um grande clarão,
deixando um rasto de fumo à passagem. Num dos vídeos vê-se ainda o que parece
ser a desintegração desse objeto em partículas mais pequenas.
Não há qualquer relação deste episódio com a passagem do asteróide DA14, que se aproxima nesta sexta-feira da Terra e poderá ser visto com binóculos. “Não há ligação com isso”, diz Rui Agostinho, director do Observatório Astronómico de Lisboa. O mais provável é que o meteoro russo venha da cintura de asteróides localizada entre Marte e Júpiter, que é a origem da esmagadora maioria de corpos celestes que chegam à Terra.
Filipe Pires, do Centro de
Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP), concorda que este fenómeno
não estará relacionado com o asteróide DA14. “É uma coincidência”, acredita,
confirmando que ainda assim estamos perante algo que é muito raro. Afinal, não
é todos os dias que uma estrela cadente chega tão perto de nós.
Uma "estrela cadente" mas mais perto
Uma "estrela cadente" mas mais perto
Filipe Pires refere que ainda há poucas informações precisas sobre o que se
passou. No entanto, adianta que tudo indica que se tratou de um meteoro com
cerca de um metro que causou uma onda de choque quando entrou na atmosfera e se
desfez. O que se terá passado na Rússia, simplifica Filipe Pires, é o resultado
do que normalmente chamamos de “estrela cadente” mas maior e mais perto.
As estrelas cadentes que vemos a
riscar o céu são como grãos de areia que passam a cerca de 80/90 quilómetros de
altitude, explica. Esta teria cerca de um metro e entrou na atmosfera. Quando
penetrou na parte mais densa da atmosfera desfez-se e provocou as várias ondas
de choque que vemos nas imagens de vídeo amador que estão a ser mostradas na
Internet.
Filipe Pires ajuda-nos a ter uma
imagem aproximada do que aconteceu: “É como o que acontece quando damos um
mergulho na água, provocamos aquelas ondas. A água, neste caso, é a atmosfera.
Mas não tocámos o fundo da piscina, que seria a Terra”.
Na interpretação de Rui
Agostinho, a explosão que se ouve claramente em diversos vídeos corresponde à
passagem do meteoro pela barreira do som, e não a um intenso clarão que se vê
nas imagens. Um meteoro, explica o investigador, entra na atmosfera a uma
velocidade hipersónica – de milhares de metros por segundo – e vai travando até
chegar ao limite da velocidade do som (340 metros por segundo). “Neste momento,
ocorre uma explosão sónica”, afirma. “É o contrário dos aviões.”
Pelas imagens, Rui Agostinho
acredita que o meteoro ter-se-á dividido em vários fragmentos, que
provavelmente terão atingido o solo. Só quando se encontram fragmentos no solo é que se
fala em "meteoritos".
Um blogger russo, Ilya
Varlamov, reuniu no blogue alojado na plataforma Livejournal (a mais popular na
Rússia), um conjunto de vídeos, imagens e testemunhos publicados online
(disponível aqui, em
língua russa). Algumas das imagens testemunharão a destruição provocada pelas
ondas de choque. Em alguns vídeos é bem audível o que parece ser uma explosão
seguido de vidros a partirem-se. Outro vídeo mostra o medo de estudantes
que se encontravam na escola.
FONTE: G 1.
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