COM EVENTOS E
DISCURSOS, PARTIDOS DÃO LARGADAS PARA ELEIÇÃO DE 2014.
A presidente Dilma Rousseff deu o
tom do que se espera ser sua estratégia eleitoral para 2014 ao afirmar que os
críticos de suas políticas sociais e econômicas sofrerão "prejuízos
financeiros e políticos" e que o PT "não herdou nada" dos
governos anteriores, pouco após ser lançada como candidata à reeleição pelo
antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
Dilma fez as declarações num
evento em São Paulo na noite desta quarta-feira que marcou os 33 anos do
Partido dos Trabalhadores e os dez anos da legenda à frente do governo federal,
no mesmo dia em que o senador Aécio Neves (PSDB-MG), cotado para ser candidato
em 2014, fez um discurso no Congresso, em Brasília, tecendo duras críticas ao
PT, num sinal do que pode ser sua plataforma de campanha para tentar levar os
tucanos de volta ao Planalto no ano que vem.
As declarações de Dilma chegaram
após o discurso de Lula, que a lançou como o nome do partido para 2014.
"Eles podem se preparar juntar quem quiserem, que, se eles têm dúvida,
vamos dar como resposta a reeleição de Dilma em 2014", disse o
ex-presidente.
Os desdobramentos também se deram
após outra liderança política cotada para concorrer à Presidência, Marina
Silva, ter lançado, no último fim de semana, o estatuto de um novo partido, com
nome provisório de Rede Sustentabilidade.
Além deles, o também
presidenciável Eduardo Campos (PSB), atual governador de Pernambuco, tem
demonstrado movimentações de uma potencial campanha. Numa possível intenção de
se distanciar do PT, ele, que é presidente nacional de seu partido, alegou
"complicações de agenda" ao cancelar sua presença no evento petista.
Para José Álvaro Moisés,
professor de ciência política da USP, a movimentação de Dilma, Aécio, Marina e
Campos mostram que "a campanha para 2014 já começou".
Recados à oposição
Última a discursar no evento em
São Paulo, Dilma rebateu a oposição, sem citar o PSDB em momento algum.
Ao comentar as críticas às suas
medidas de combate à miséria, a presidente classificou como
"estardalhaço" os que apontam que "supostamente" 2,5
milhões de pessoas não estariam sendo contempladas pelos programas de auxílio
de seu governo.
"Essas vozes fizeram o mesmo
estardalhaço quando, dez anos atrás, havia 40 milhões de brasileiros na
miséria?", questionou.
Em outra mensagem aos
adversários, Dilma afirmou que os que atacam suas políticas sociais e
econômicas "desconhecem o povo brasileiro ou esse país", o que
acarretará em "prejuízos financeiros e políticos".
No que pareceu ser uma resposta
direta às críticas de Aécio Neves, a presidente rejeitou uma herança política
do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). "Não herdamos nada, nós
construímos", disse em referência aos dez anos do PT na Presidência.
CORRIDA PELO PLANALTO
A movimentação política no país a
um ano e oito meses da próxima eleição presidencial mostra como alguns líderes
começam a se articular para viabilizar suas candidaturas.
O evento do PT ocorreu um dia
após Dilma anunciar medidas que, segundo ela, vão zerar o cadastro de
brasileiros miseráveis.
A erradicação da miséria foi uma
das principais promessas de campanha da presidente.
Tanto o anúncio no Planalto, na
terça-feira, quanto o evento em São Paulo nesta quarta estão sendo consideradas
ações que visam preparar o terreno à candidatura de Dilma.
A comemoração desta quarta-feira
inaugura uma série de seminários organizados pelo PT em parceria com o
Instituto Lula e a Fundação Perseu Abramo para avaliar os dez anos de governo
desde a posse de Lula, em 2003.
Na última terça, o presidente do
PT, Rui Falcão, já havia confirmado que a presidente disputará a releição,
dissipando rumores de que Lula poderia concorrer pelo partido.
Em contraponto ao tom
comemorativo do evento petista, o principal cotado a disputar a Presidência
pelo PSDB, senador Aécio Neves (MG), fez no Senado um discurso em que enumerou
o que considera os "13 fracassos do PT" no governo.
O ato também tem sido
interpretado como um passo de Aécio para firmar sua posição na próxima disputa
eleitoral.
Em sua fala, o senador criticou,
entre outros pontos, o baixo crescimento econômico na gestão Dilma (na América
do Sul, só superior ao do Paraguai), as falhas na infraestrutura do país, as
manobras contábeis para fechar as contas do governo de 2012 e a desvalorização
de duas das principais estatais brasileiras, a Petrobras e a Eletrobrás.
Disse ainda que o PT não
reconhece os avanços que o país teria obtido no governo FHC e que, segundo ele,
permitiram as conquistas da atual gestão.
Marina Silva e
Eduardo Campos
O gesto do tucano ocorre dias
após outros dois políticos se movimentarem com vistas a 2014. No sábado, a
ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva lançou seu novo partido, a Rede Sustentabilidade.
O partido precisa coletar 500 mil
assinaturas em ao menos nove Estados para ser registrado no Tribunal Superior
Eleitoral até setembro, prazo para que a legenda tenha condições de concorrer
na próxima eleição.
Ainda que sua candidatura em 2014
seja tida como certa caso o partido obtenha o registro, Marina tem dito que sua
participação no pleito é uma "possibilidade", que deverá ser debatida
com aliados.
Marina deixou o PT em 2009 e
concorreu à Presidência pelo PV em 2010. Ela recebeu 20 milhões de votos e
ficou na terceira posição. Após o pleito, deixou a sigla em meio a
desentendimentos com sua cúpula.
Nos últimos dias, o governador de
Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) – também tem ensaiado passos para 2014.
Campos planeja cruzar o Brasil
nos próximos meses para uma série de debates batizados de "Diálogos para o
Desenvolvimento". Os encontros, segundo ele, terão como tema estratégias
para que os brasileiros "saiam da dependência dos governos".
No entanto, o pernambucano, um
dos governadores mais bem avaliados no país, também tem desconversado quando
questionado sobre sua possível candidatura.
A postura de Campos em 2014 é
alvo de grande especulação. Caso concorra à Presidência, acredita-se que ele
possa enfraquecer o apoio a Dilma no Nordeste.
No entanto, sua sigla integra a
coalizão governista e, ainda que venha adotando tom mais crítico ao governo nos
últimos meses, ainda não anunciou a intenção de romper com o Planalto – gesto
tido como condição para que lance candidatura no próximo pleito presidencial.
Estratégias
Segundo o professor da USP José
Álvaro Moisés, os gestos dos presidenciáveis buscam, além de sinalizar
claramente a intenção de concorrer ao pleito, checar qual a receptividade dos
eleitores e qual o efeito desses movimentos em acordos políticos em vigor.
"Colocar o bloco na rua é
uma condição para saber se vai ter gente atrás e se haverá banda para
animar", afirma.
Moisés diz ainda que, caso os
quatro venham a formalizar suas candidaturas, a próxima eleição deverá ser
muito disputada.
"Num cenário com os quatro
candidatos, provavelmente a eleição vai para o segundo turno".
Fonte:
O Estadão.
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