COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
RENÚNCIA
DO SUMO PONTÍFICE
Nobres:
“Como um
raio em dia de sol”, a renúncia do papa Bento XVI deixou a sociedade católica
mundial abalada. Sentimos o impacto inversamente proporcional à alegria que
tive quando assisti ao anúncio de que o imenso Ratzinger sucederia ao querido
João Paulo II. Quem poderia imaginar que Joseph Ratzinger, tido, rotulado e
tachado injustamente como radical e intolerante, se tornaria papa, ainda mais
em conclave tão rápido? Em seu curto pontificado, Bento XVI deixa três
obras-primas em forma de encíclicas. Deus Caritas Est fala sobre o que é,
afinal, o Amor, com “A” maiúsculo. Resgata o sublime sentido dessa palavra, tão
desgastada. Quase tudo virou amor. Spe Salvi fala da esperança que não é a
última que morre, mas que é eterna. Caritatis in Veritate fala que quem ama
baseia seus critérios no bem do amado, não no que o amado quer ouvir. Nesse
espírito contestou governos e suas leis anticristãs. A caridade sem a verdade
cai no sentimentalismo. Corajoso, não escondeu sob o tapete as mazelas de
ordenados servos infiéis que mancharam a Igreja. Ciente de que o culto a Deus é
algo sublime, lutou pela pureza da liturgia e pela sacralidade do sagrado
(parece redundância, mas não é). E, nesse mundo que busca o poder pelo poder,
abre mão de ser papa. Detratado por quem não tem altura moral ou intelectual
para tanto – e para desespero desses –, passou ileso à devassa de documentos
reservados ao escritório pontifício. Ao longo de 2013 anos, a Igreja passou por
várias crises, letais, fatais, para qualquer instituição. Mas sobreviveu, em um
perene ressurgir. Impossível ficar indiferente. Como ela se mantém de pé? Como
explicar que nos tempos mais difíceis em seu seio, também de seu útero tenham
nascido homens como São Francisco de Assis ou mulheres como Madre Teresa, para
ficar apenas com dois santos entre milhões deles, canonizados ou anônimos? O
que tem essa Igreja, que não se seduz pela moda, pelo que “todo mundo faz”,
pelos novos tempos? Há algo nela que transcende à compreensão de ateus, de
“católicos” que veem a Igreja sob a ótica materialista-marxista da luta de
classes e de outros que dão de ombros para Pedro. A má notícia para os lobos é
que o papa segurou a nau com mão firme. A boa notícia para o rebanho é que
Bento XVI não optou por adequar a Igreja ao que queriam os lobos. Uma de suas
frases que fazem pensar os que se bastam a si mesmos: “Não se pode seguir Jesus
de forma solitária. Quem cede à tentação de ir ‘por sua própria conta’ ou de
viver a fé segundo a mentalidade individualista, que predomina na sociedade,
corre o risco de nunca encontrar Jesus Cristo, ou de acabar seguindo uma imagem
falsa d’Ele”. Joseph Ratzinger é um gênio. Um luminar que une erudição à
simplicidade; sabedoria à humildade. Essa é o papa que perdemos. Rezemos para
que o conclave eleja um sucessor digno dele é o que esperamos.
Antônio Scarcela Jorge
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