Inflação alta expõe
conflito na equipe econômica do governo
‘Divergência entre presidente do
BC e ministro da Fazenda eleva incerteza sobre freio aos preços’
Menos de 24 horas depois que
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central (BC), admitiu preocupação com o
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro, o mais alto desde abril
de 2005, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse não ver motivo de alarme.
A diferença de tom eleva a
incerteza sobre qual será a estratégia do governo para combater a alta de
preços, embora analistas já considerem alívio nos impostos, elevação de juro e
dólar mais barato.
Num momento em que até a
permanência de Mantega no governo está em discussão – apesar da garantia
oficial de manutenção no cargo até 2014 –, a diferença de tom dos dois
principais integrantes da equipe econômica aumenta as especulações sobre como o
governo vai combater a alta de preços. Uma tática foi adiantada pela presidente
Dilma Rousseff e seria anunciada logo após o Carnaval: a redução de impostos
sobre produtos da cesta básica.
No entanto, dólar e juro também
provocam debate entre economistas. Mantega assegurou que o governo não deixará
que o dólar volte ao patamar de R$ 1,85 e está disposto a intervir no mercado
de câmbio para impedir que isso ocorra. Na sexta-feira, BC ofereceu contratos
que equivalem a compra de dólares no mercado futuro e garantiu fechamento
estável da moeda.
Se for necessário, o ministro
afirmou que poderá voltar a elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF)
na entrada de dólares no país. No mercado financeiro, juros futuros cederam na
sexta-feira, depois da forte alta do dia anterior. Outro índice de inflação
divulgado na sexta-feira mostrou desaceleração na média, de 1,01% para 0,88%,
mas Porto Alegre foi a capital em que os preços mais subiram: 0,93%.
Opções de combate
Visões antagônicas aumentam especulações sobre a
estratégia de combate à inflação:
Elevação de juro
Na cartilha clássica, inflação
alta se combate com aumento da taxa básica de juro. O que se diz, porém, é que
a presidente Dilma não quer perder terreno numa conquista difícil, a poda das
taxas para o consumidor. No mercado, as negociações de juros futuros já têm
valores maiores.
Quem ganha: quem pretende aplicar dinheiro nos próximos meses. A próxima reunião
do BC que poderia elevar o juro básico ocorre em 6 de março.
Quem perde: quem precisa recorrer a financiamento, que poderá enfrentar custo maior.
Freio no câmbio
Uma das causas da inflação mais
alta é a elevação do dólar frente ao real, associada à percepção de que o BC
havia definido um apertado intervalo de flutuação. Dólar mais caro eleva o
custo de importados e de produtos que têm cotação internacional. No primeiro
sinal de alarme com a inflação, o dólar cedeu.
Quem ganha:
Quem tem viagem ao Exterior
marcada para os próximos meses, importadores e empresas que dependem de insumos
importados.
Quem perde:
Exportadores, produtos que
concorrem com importados ou têm dívidas a receber em dólares.
Alívio nos impostos
No Planalto, está em estudo uma
redução ou até retirada de impostos sobre alimentos, especialmente os da cesta
básica. Com menor tributação, o custo tenderia a cair, aliviando a pressão
sobre a inflação. Há dúvidas, porém, se o repasse ao preço final é garantido.
Quem ganha: empresários e consumidores em geral.
Quem perde: o governo pode ter novas reduções de arrecadação.
Quem perde: o governo pode ter novas reduções de arrecadação.
Aposta na luz
Uma das teses de quem não
considera a situação tão alarmante é o fato de que, a partir de fevereiro, os
índices de inflação vão refletir a queda de 18% nas contas residenciais de luz,
além de possíveis efeitos da redução da conta de energia das empresas, que pode
se traduzir em preços menores de produtos.
Quem ganha: empresários e consumidores em geral.
Quem perde: as empresas de geração e distribuição de energia.
Fonte: Zero Hora.
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