COMENTÁRIO
REFLEXÃO
NOBRES:
É o que se pode concluir do que
se ouve por aí nesses tempos de eleição. A conversa se repete qual um disco
riscado. É o nível de alguns candidatos à Câmara Municipal. É a falta de jogo
de cintura dos candidatos à prefeitura. Mostrar-se entediado diante dos rituais
da democracia soa como uma obrigação para os mais críticos e, por ironia, politizados. Um protesto de cara
feio, não de “cara pintada”. Votar diverte. Em paralelo ao mal-estar da
civilização que as urnas passam a representar, o pleito ganha ares de
espetáculo mambembe. Um Cult, acompanhado com riso no canto da boca e olhar
atento, para não deixar escapar nada. Há de se comentar, afinal, com os colegas
de trabalho o ridículo das fotos, dos chavões, dos trocadilhos que fazem do
roteiro eleitoral uma comédia – comédia que serve para falar da tragédia a que
está exposta a nação Tiririca. Convenhamos – o distúrbio bipolar entre o riso e
a dor em tempos eleitorais diz muito sobre o significado da vida política. São
tempos sombrios. A política nos deixa nervosa, insegura, incomodada. Não é
assunto bem resolvido em nossas almas tupis, pois, ainda que enlameada, um dia
a política nos foi apresentada com aura e graça. Assim permanece: uma história
confusa. Mesmo que nos sintamos como público de um circo, algo nos intriga no
palhaço. Sabemos do declínio daquele que ora nos diverte e ora nos entristece e,
que seu declínio é também o nosso. Muito já se falou sobre o triste espetáculo
de decadência do homem público. Tanto que, arrisca, somos capazes de repetir de
cor a cantilena que trata dos males do individualismo contemporâneo. Somos
capazes de fazer discursos sobre a má sorte do mundo que esqueceu a dimensão do
outro. Mesmo que tudo em volta diga “não”, insistimos que a coletividade é
condição humana. Falamos dela na escola, na família e nas igrejas, nem sempre
com resultados. Em miúdos, a sensação é de que o discurso democrático está tão
gasto quanto às palavras de amor. Daí o sensabor com que é tratado. Resta
reagir, em busca dos remédios e dos temperos. Pois do contrário o que sobra é a
incapacidade de viver juntos. Não por menos, esse se tornou o maior desafio do
século 21. A cada período de eleições, tem-se o termômetro de a quanta anda
nossa capacidade de dividir o mesmo espaço e de estabelecer regras para
ocupá-lo. Debochar ou chorar, nesse sentido, são reações diferentes ao mesmo
estímulo – o da urgência de sair do lugar em que se está. Deslocar-se, afinal,
é o objetivo primeiro da política. O contrário disso é um peso nas pernas,
imobilizador, primeiro sintoma da decadência, esse lugar de onde nada se vê
senão as próprias perdas. Caso a palavra decadência pareça severa demais Os estranhos
hábitos dos eleitores médios o confirmam – fazem escolhas em cima da hora, o
que atiça os candidatos a fazerem jingles grudentos, passíveis de serem
lembrados. Ou optam pela estagnação. Ficam onde estão repetindo-se de forma
mecânica. De tudo se deduz que a despolitização é dos males o pior. Faz da vida
pública uma obrigação. E da vida privada a medida de todas as coisas. Devotados
a nossa própria intimidade, vemos pouco sentido na ida às urnas, esse objeto
estranho e severo cujo poder maior é o de nos igualar. É uma praça em
miniatura. Ou a metáfora da árvore dos nossos sonhos, quais aquelas que
fazíamos no jardim de infância. Título à
mão, a espera civilizada na fila, o voto dado e confirmado acena que podemos
vencer os ditames de uma sociedade voltada para dentro. Que ela se volte para
fora, antes que nos esqueçamos de como é a vida pública.
Antônio Scarcela Jorge
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