domingo, 7 de outubro de 2012

COMENTÁRIO - 7 DE OUTUBRO DE 2012



COMENTÁRIO

REFLEXÃO





NOBRES:

É o que se pode concluir do que se ouve por aí nesses tempos de eleição. A conversa se repete qual um disco riscado. É o nível de alguns candidatos à Câmara Municipal. É a falta de jogo de cintura dos candidatos à prefeitura. Mostrar-se entediado diante dos rituais da democracia soa como uma obrigação para os mais críticos e, por   ironia, politizados. Um protesto de cara feio, não de “cara pintada”. Votar diverte. Em paralelo ao mal-estar da civilização que as urnas passam a representar, o pleito ganha ares de espetáculo mambembe. Um Cult, acompanhado com riso no canto da boca e olhar atento, para não deixar escapar nada. Há de se comentar, afinal, com os colegas de trabalho o ridículo das fotos, dos chavões, dos trocadilhos que fazem do roteiro eleitoral uma comédia – comédia que serve para falar da tragédia a que está exposta a nação Tiririca. Convenhamos – o distúrbio bipolar entre o riso e a dor em tempos eleitorais diz muito sobre o significado da vida política. São tempos sombrios. A política nos deixa nervosa, insegura, incomodada. Não é assunto bem resolvido em nossas almas tupis, pois, ainda que enlameada, um dia a política nos foi apresentada com aura e graça. Assim permanece: uma história confusa. Mesmo que nos sintamos como público de um circo, algo nos intriga no palhaço. Sabemos do declínio daquele que ora nos diverte e ora nos entristece e, que seu declínio é também o nosso. Muito já se falou sobre o triste espetáculo de decadência do homem público. Tanto que, arrisca, somos capazes de repetir de cor a cantilena que trata dos males do individualismo contemporâneo. Somos capazes de fazer discursos sobre a má sorte do mundo que esqueceu a dimensão do outro. Mesmo que tudo em volta diga “não”, insistimos que a coletividade é condição humana. Falamos dela na escola, na família e nas igrejas, nem sempre com resultados. Em miúdos, a sensação é de que o discurso democrático está tão gasto quanto às palavras de amor. Daí o sensabor com que é tratado. Resta reagir, em busca dos remédios e dos temperos. Pois do contrário o que sobra é a incapacidade de viver juntos. Não por menos, esse se tornou o maior desafio do século 21. A cada período de eleições, tem-se o termômetro de a quanta anda nossa capacidade de dividir o mesmo espaço e de estabelecer regras para ocupá-lo. Debochar ou chorar, nesse sentido, são reações diferentes ao mesmo estímulo – o da urgência de sair do lugar em que se está. Deslocar-se, afinal, é o objetivo primeiro da política. O contrário disso é um peso nas pernas, imobilizador, primeiro sintoma da decadência, esse lugar de onde nada se vê senão as próprias perdas. Caso a palavra decadência pareça severa demais Os estranhos hábitos dos eleitores médios o confirmam – fazem escolhas em cima da hora, o que atiça os candidatos a fazerem jingles grudentos, passíveis de serem lembrados. Ou optam pela estagnação. Ficam onde estão repetindo-se de forma mecânica. De tudo se deduz que a despolitização é dos males o pior. Faz da vida pública uma obrigação. E da vida privada a medida de todas as coisas. Devotados a nossa própria intimidade, vemos pouco sentido na ida às urnas, esse objeto estranho e severo cujo poder maior é o de nos igualar. É uma praça em miniatura. Ou a metáfora da árvore dos nossos sonhos, quais aquelas que fazíamos no jardim de infância.  Título à mão, a espera civilizada na fila, o voto dado e confirmado acena que podemos vencer os ditames de uma sociedade voltada para dentro. Que ela se volte para fora, antes que nos esqueçamos de como é a vida pública.
Antônio Scarcela Jorge

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