PROJETO DO
CÓDIGO PENAL RECEBE MAIS DE 200 EMENDAS
Sem esperar por nova prorrogação
do calendário de tramitação, já cogitada por integrantes da comissão especial
que examina a matéria, os senadores aceleraram a apresentação de emendas ao
projeto do Código Penal (PLS 236/2012). O texto, que contava no início da semana passada com apenas 109
propostas de alterações, acumulava até o meio da tarde desta segunda-feira (29)
nada menos que 214 emendas - quase o dobro, portanto. Até o momento, 20
senadores assinaram emendas para modificar diferentes trechos do projeto, entre
os quais os dispositivos que tratam dos já conflituosos temas do aborto e da
legalização das drogas para consumo pessoal em pequena quantidade. As sugestões
alcançam ainda outros pontos que na fase de elaboração do texto inicial
levantaram polêmica, como os que se referem aos crimes contra o patrimônio, os
delitos praticados por índigenas e os que atentam contra os animais.
Delito sem
violência
O senador Aloysio Nunes Ferreira
(PSDB-SP), por exemplo, incluiu entre as 43 emendas que registrou de uma só
vez, na quinta-feira passada (24), sugestão para que qualquer delito
patrimonial cometido sem violência ou grave ameaça – o furto, por exemplo – fique
sujeito a representação por parte da vítima. Nesse caso, a investigação só
seria convertida em processo judicial por decisão da pessoa atingida, que ainda
poderia se contentar em ser reparada e fechar acordo com o autor do delito. Pelo
projeto, que foi elaborado por uma comissão de juristas com membros indicados
pelos líderes partidários do Senado e tramita desde agosto, esse tipo de
solução serviria para delitos patrimoniais de pequeno valor, com base no
princípio da insignificância. Para o senador, esse conceito é “circunstancial”
e não reflete automaticamente o valor do que foi subtraído da vítima. “Caso a
vítima procure o Estado e noticie o crime, o delito deixa de ser
insignificante. A prevalecer a tese [do projeto] estaremos fomentando a prática
de crimes patrimoniais, em virtude de seu pequeno valor para alguns, mas de
inquestionável importância para outrem”, argumenta Aloysio. Antonio Carlos
Valadares (PSB-SE) é autor de outro grande lote de emendas, um total de 29
proposições que tendem a reduzir condenações por ações com danos ínfimos e a
aplicação de penas alternativas para um número maior de crimes, desde que
também cometidos sem violência ou grave ameaça. Com relação aos indígenas,
Valadares sugere que os juízes possam adotar como solução às penas alternativas
previstas no Código os métodos adotados pelas próprias comunidades indígenas
para reprimir delitos cometidos por seus membros, desde que compatíveis com o
sistema jurídico nacional e com os direitos humanos internacionalmente
reconhecidos.
Ortotanásia
Ainda se destacam pela quantidade
de sugestões de emendas o senador Magno Malta (PR-ES), com 28 propostas e Tomás
Correia (PMDB-RO), que assinou 26, e Maria do Carmo, com 10. Os três
parlamentares também compartilham a disposição em mudar o texto para rever
dispositivos adotados pelos juristas que são menos rígidos em relação ao aborto
e à ortotanásia que consiste na suspensão de cuidados para prolongar por meios
excessivos a vida de pacientes terminais, quando essa for a vontade expressa
pelo paciente ou quando houver autorização do responsável. “Não se confundindo
com uma liberdade, não se inclui no direito à vida o direito por não viver. Na
medida em que os poderes públicos devem proteger esse bem, a vida deve ser
preservada, apesar da vontade em contrário de seu titular”, argumenta Tomás
Correia. Quanto ao aborto, hoje a lei autoriza sua prática diante de risco de
morte para a gestante ou quando a gravidez resultar de estupro, havendo ainda
decisão favorável ao ato no Supremo Tribunal Federal (STF) no exame de caso de
anencefalia. O texto dos juristas também descriminaliza o ato até 120 dias
desde a fecundação se houver laudo médico ou psicológico atestando incapacidade
da mulher em levar a gravidez adiante (uma gestante com alta dependência de
drogas, por exemplo). Contra esse ponto se insurgem os três parlamentares.
Jogos de azar
Tomás Correia pretende ainda retirar
do texto o dispositivo que tornou crime a exploração de jogos de azar, a
exemplo o jogo do bicho, na atual legislação uma simples contravenção penal,
com penas brandas que quase sempre não levam os praticantes à prisão. Para o
senador, o mais adequado seria regulamentar totalmente os jogos, já que o
próprio Estado realiza e patrocina alguns jogos de azar. Os crimes ambientais,
em parte onde se incluem os delitos contra os animais, punidos de maneira mais
rigorosa no projeto, mereceram a atenção do senador Jayme Campos (DEM-MT).
Autor de cinco emendas, o senador busca por meio de uma delas eliminar do
texto dispositivo que sugere prisão de um a quatro anos para quem “transportar
animal em veículo em condições inadequadas, ou que coloquem em risco sua saúde
ou integridade física ou sem a documentação exigida”. Para Jayme Campos, as
leis atuais já tratam modo adequado a questão do transporte animal, inclusive
por meio de leis referentes à agropecuária e aos padrões sanitários de produção
animal. A seu ver, o dispositivo é redundante e se confunde com a previsão
punitiva do artigo que trata de maus-tratos a animais. “Além disso, prevê uma
pena que nos parece bastante elevada, sem ao menos admitir multa como uma
alternativa possível”, reclama o senador.
Bullying
Lídice da Mata (PSB-BA) dedicou
uma de suas nove emendas à questão do bullying, tipificado com o nome de
“intimidação vexatória” na proposta, com aplicação de medidas socioeducativas
se o praticante condenado for menor de idade. No entanto, na contramão do
clamor pela punição do bullying, Lídice da Mata se empenha em suprimir
do texto o dispositivo. “Ao criminalizar o bullying, a proposta retira
do âmbito educacional a possibilidade dos educadores atuarem conjuntamente na
busca de soluções destes conflitos a partir de uma cultura de paz”, avalia a
senadora. Já Paulo Paim (PT-RS) assina três emendas, uma delas para defender
tratamento penal mais duro contra autor de roubo de cargas, de forma semelhante
ao que o texto sugere para o roubo praticado para o roubo contra veículo de
transporte de valores. Nesse caso, o roubo é “qualificado”, com pena de quatro
a oito anos de prisão. “Não se pode esquecer a ameaça à integridade física dos
motoristas envolvidos nas operações de transporte, que convivem com os
sentimentos de medo e insegurança no dia a dia de suas atividades
profissionais”, salienta o senador.
Cronograma
Pelo cronograma atual, a comissão
especial do Senado que examina o projeto do novo Código Penal, relatado pelo
senador Pedro Taques (PDT-MT), receberá até o dia 5 de novembro as emendas dos
parlamentares. A votação dos relatórios parciais deverá terminar no dia 20 de
novembro, enquanto o prazo para a apresentação do relatório final do relator
ficou para o dia 27 do mesmo mês. Já a data de entrega do parecer final da
comissão será até 4 de dezembro. Porém, tanto o relator como o presidente da
comissão, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), já defendem a dilatação do
calendário. Em reunião a ser realizada ainda nesta semana, a comissão decidirá
sobre a proposta, que pode significar mais 20 dias úteis para cada fase da
tramitação.
Fonte: Agência Senado.
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