PGR DEFENDE ANULAÇÃO DE ATO DE NOMEAÇÃO DE LULA COMO MINISTRO DA CASA CIVIL.
O procurador-geral da República Rodrigo Janot
encaminhou nesta quinta-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) parecer em que
defende que seja anulado o ato de nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva como ministro da Casa Civil.
O chefe do Ministério Público se valeu,
entre outros argumentos, dos grampos telefônicos em que Lula mostra preocupação
com a tramitação do processo penal contra ele na 13ª Vara Federal de Curitiba,
sob responsabilidade do juiz Sergio Moro, e em que avalia estar
"assustado" com a "República de Curitiba", em referência
aos procuradores da Operação Lava Jato.
O grampo mais revelador, porém, é o em
que o petista e a presidente Dilma Rousseff discutem a assinatura do termo de
posse "em caso de necessidade".
Ao analisar o caso, Janot afirma que, a despeito do
discurso de governistas de que a nomeação de Lula poderia fortalecer a
articulação política do governo e alça-lo à condição de negociador político,
"os predicados do nomeado, todavia, não justificam as circunstâncias
anormais da antecipação da posse e da entrega de um termo para que fosse
assinado, caso não pudesse comparecer à cerimônia".
"Se havia óbice à
posse, por qualquer motivo, naturalmente existiria também à entrada dele em
exercício, o que afastaria a urgência da remessa do termo à pessoa do nomeado,
já que ele estaria impossibilitado de colaborar na qualidade de ministro",
afirma Janot.
"A sofreguidão para inserir o ex-presidente
no cargo de Ministro de Estado Chefe da Casa Civil levou o Governo Federal a
designar seu anterior ocupante, o Senhor Jaques Wagner, para o cargo de Chefe
do Gabinete Pessoal da Presidente da República, que até então possuía natureza
especial e foi apressadamente transformado em cargo de ministro pela Medida
Provisória 717", relata o MP.
"O momento da nomeação, a inesperada antecipação
da posse e a circunstância muito incomum de remessa de um termo de posse não
havida à sua residência reforçam a percepção de desvio de finalidade",
completa. Segundo Janot, aceleraram as articulações do governo para nomear Lula
como ministro situações como a delação premiada do ex-líder do governo no
Senado Delcídio do Amaral, e a denúncia e o pedido de prisão feito pelo
Ministério Público de São Paulo.
"Nesse cenário, a nomeação e a posse do
ex-Presidente foram mais uma dessas iniciativas, praticadas com a intenção, sem
prejuízo de outras potencialmente legítimas, de afetar a competência do juízo
de primeiro grau e tumultuar o andamento das investigações criminais no caso
Lava Jato", critica Rodrigo Janot.
No último dia 18, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo
Tribunal Federal (STF), concedeu liminar em ação impetrada pelos partidos PPS e
PSDB para impedir a nomeação do ex-presidente Lula como ministro.
Como
justificativa para a decisão, o magistrado traçou um paralelo com a decisão do
STF sobre o ex-deputado Natan Donadon, que renunciou ao seu assento na Câmara
para impedir o julgamento iminente de uma ação contra ele no STF, fazendo com
que o caso reiniciasse na primeira instância.
Segundo o ministro, a situação de
Lula é inversa - sua nomeação como ministro levaria seu caso para a corte
superior - mas a finalidade de driblar a Justiça seria idêntica.
A decisão cita
estudo do jurista Vladimir Passos de Freitas, cuja conclusão é a de que nomear
pessoa para lhe atribuir foro privilegiado é ato nulo.
Segundo Mendes, a nomeação de Lula teria sido feita
com "desvio de finalidade".
Apesar de estar em aparente conformidade
com as prerrogativas que a presidente tem para escolher ministros, ela
conduziria a "resultados absolutamente incompatíveis” com a finalidade
constitucional dessa prerrogativa e por isso seria um ato ilícito.
Fonte: Agência Brasil.
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