Queda na popularidade de Dilma é alerta para 2014
Lutando contra a inflação e
acelerar o crescimento do PIB, a presidente se vê em meio a problemas com a
base e ainda precisa neutralizar adversários.
A presidente Dilma Rousseff
chegou ao poder na primeira eleição que disputou e manteve a popularidade a
despeito de seguidos escândalos de corrupção e demonstrações de ineficiência
administrativa. Agora, no 30º mês de governo, um elemento novo passou a afetar
diretamente o seu apoio entre a população: a inflação. Dos assuntos que levam
alguém a decidir se dá ou não sua confiança a um político, a economia costuma
ser o número um. E dentre os temas econômicos, a inflação está entre os que
mais diretamente influenciam a avaliação de um governo. - Pesquisa divulgada na última semana pelo
Instituto Datafolha mostra que a avaliação do governo piorou: a aprovação caiu
de 65% para 57% em três meses. E que, no cenário eleitoral de 2014, a vantagem
de Dilma Rousseff não é incontestável. Isso está longe de significar um cenário
apocalíptico. Dilma ainda desfruta de índices de aprovação superiores aos dos
dois antecessores no mesmo período do governo. Ela também tem ampla vantagem na
intenção de voto. Mas o cenário de incertezas na economia e a ausência de
perspectiva de grandes realizações nos próximos meses tornam o cenário
nebuloso. Além disso, na eleição de 2014 Dilma deve ter três adversários
competitivos: Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, tem potencial
para tirar votos da petista no Nordeste. Marina Silva (Rede) é popular em
grandes centros urbanos. E o senador Aécio Neves (PSDB) é o favorito para levar
os dois maiores colégios eleitorais do país, Minas Gerais e São Paulo.
Economia se torna mico de governo
- Desde que assumiu o poder, em
2011, Dilma, graduada em Economia, não conseguiu colher os louros de um
crescimento robusto, tal como seu antecessor. O melhor desempenho registrado
até o momento foi em seu primeiro ano de mandato, quando o Produto Interno Bruto
(PIB) expandiu 2,7% - número considerado decepcionante à época. De lá para cá,
a cada divulgação do PIB, surge uma nova frustração. No ano passado, o
crescimento não passou de 0,9%. E, dado o ‘pibinho’ do primeiro trimestre de
2013 (avanço de 0,6%), as expectativas para o acumulado deste ano não são as
mais animadoras. - Contudo, como o baixo
crescimento (ainda) não afetou o avanço do mercado de trabalho, seus efeitos
não pesam tanto sobre a avaliação positiva da presidente como o antigo vilão
conhecido dos brasileiros: a inflação. Ela tem sido nos últimos meses, um
pesadelo de Dilma e da equipe econômica. Em maio, o Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, tocou o teto da meta no
acumulado de 12 meses, de 6,5%, apesar de ter apresentado leve desaceleração na
comparação com o mês anterior. No início do ano, o IPCA chegou a estourar a
meta. - O problema, que vem sendo apontado desde 2010, último ano do governo
Lula, e negligenciado pelo governo Dilma, só ganhou importância no seio do
Palácio do Planalto depois que uma emblemática escalada no preço do tomate
devolveu a inflação ao repertório de assuntos das famílias, no primeiro
trimestre deste ano. “A inflação está trazendo desconforto para a população”,
diz o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola. “Esse é um flagelo que a
sociedade brasileira não tolera mais.” - Contudo, a subida de juros – remédio
necessário para conter a inflação, mas impopular porque afeta diretamente o
consumo – veio em momento tardio. Conforme argumentou o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso em evento nesta semana, apenas a subida da Selic não será
suficiente para deter o avanço do IPCA. “É preciso um ajuste fiscal”, disse
FHC. Para o economista e ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, o
remédio tardio terá de vir em doses mais fortes - e nocivas politicamente. “A
alta da Selic para 9,0% ou 9,25% até o final do ano não vai mexer na inflação.
O governo não fez a lição de casa”, diz. - Retomar o tripé macroeconômico,
contudo, não será tarefa fácil – sobretudo porque a presidente não reconhece as
decisões erradas tomadas ao longo do governo e relega ao cenário externo a
culpa pelos males que atingem a economia do país. Segundo Gustavo Loyola, a
combinação da política de juros, câmbio flutuante e ajuste fiscal se mostrou
vencedora no governo FHC e deve voltar a ditar os rumos econômicos. “Foi o que
levou o Brasil para um patamar melhor nos anos 1990 e 2000. O país precisa
ainda retomar a agenda de reformas”, comenta. - A política fiscal é outro
assunto que tem afetado a credibilidade de Dilma e da equipe econômica –
sobretudo para o mercado internacional. Na semana passada, a agência de
classificação de risco Standard & Poor’s reduziu a perspectiva da nota de
crédito do país de “estável” para “negativa”, o que pode implicar em
rebaixamento do rating de crédito. Ainda que essa decisão não tenha grande peso
para o eleitorado de Dilma, ela afeta diretamente a imagem do país em relação
aos investidores. Com a imagem arranhada, ficará cada vez mais difícil para o
governo atrair investimentos privados necessários para que a economia retome
fôlego e volte a crescer em breve. - Para o ex-secretário-executivo da Fazenda
Bernard Appy, a popularidade de Dilma não foi mais afetada porque o nível de emprego
ainda é alto. “O baixo crescimento ainda não afetou na taxa de emprego, porque
o setor de serviços ainda continua contratando, mas isso pode ser mudar”,
explica. - Sobre a questão fiscal, Appy indica que o erro do governo é a falta
de transparência. “Há uma perda de transparência na forma como a política
fiscal vem sendo gerida, devido aos ajustes do superávit primário”, pontua.
“Nos últimos anos viu-se também um uso muito grande de recursos do Tesouro para
financiar os custos correntes. A medida não é de todo ruim e pode ser
defensável em casos de desaceleração da economia. Mas é preciso indicar qual
será a trajetória da dívida bruta do país, ou seja, é preciso ser
transparente.” –
Política
- Além dos percalços na economia, a presidente tem enfrentado problemas
com o Congresso. Por razões diversas, mas todas ligadas à falta de articulação
política do Planalto, partidos aliados passaram a se comportar de maneira cada
vez menos fiel. Indiretamente, esses atritos prejudicam a popularidade da
presidente porque atrapalham a aprovação de propostas que o Planalto considera
importantes. Foi o que ocorreu, por exemplo, com a MP dos Portos e o Orçamento
de 2013 - aprovado apenas em fevereiro deste ano.
- Variações de popularidade são comuns ao longo dos mandatos. Também é comum a colheita de dividendos eleitorais no último ano de gestão, com a inauguração de obras e a consolidação de programas importantes. A presidente, entretanto, parece não ter cartas na manga para 2014. "A gente sabe que ela não tem tempo de inaugurar obras porque as obras não estão sendo realizadas. Não há tempo de ela inaugurar empreendimentos como a transposição do rio São Francisco", diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). - O cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, afirma que o governo ainda não tem uma marca que conquiste o eleitorado - apesar de programas como o Brasil Sem Miséria. "Dilma vai ter de inventar uma outra bandeira", afirma. Um sinal de que o eleitor, embora aprove a presidente não se entregou incondicionalmente a ela vem da já mencionada pesquisa Datafolha: 73% da população diz ainda não ter escolhido seu candidato pra 2014. - A queda de popularidade não pode ser atribuída ao desleixo da presidente com sua imagem. Pelo contrário: desde o começo do ano, ela intensificou o anúncio de medidas de apelo popular, passou a viajar mais pelo país, aumentou sua exposição nas cadeias de rádio e TV e passou a discursar mais vezes, e por mais tempo, em eventos da Presidência - o que garante exibição no noticiário. - A estratégia de Dilma, moralmente questionável, é comum na política brasileira. Ao mesmo tempo em que ela embarcava na campanha antecipada, Aécio Neves e Eduardo Campos, também ocupante de cargos públicos, faziam o mesmo. E por isso a queda na popularidade da presidente pode servir como um alerta importante: o recuo ocorreu exatamente no período em que Dilma crescia em exposição nos meios de comunicação. - Os petistas dizem que tudo está sob controle. "Em 2009 o PIB diminuiu, a presidente tinha 4% nas pesquisas e José Serra tinha 45%. Isso não significa nada", diz o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, também faz pouco da queda de popularidade: "Pesquisa sobe e desce. É da vida. O mais importante é o trabalho e o resultado do trabalho frente à situação que temos no mundo e no Brasil." - Mas são claros os sinais de que o governo recebeu os números com preocupação. Já na primeira aparição pública depois da divulgação das pesquisas, Dilma Rousseff usou uma obviedade para enfatizar sua disposição em impedir o avanço da inflação: "Não há a menor hipótese de que o meu governo não tenha uma política de controle, de combate à inflação", disse ela, que também criticou duramente o que acredita serem "Velhos do Restelo" - pessimistas que torceriam contra sua gestão. - De qualquer forma, como mostram as pesquisas de popularidade, o jogo eleitoral é uma guerra defensiva em que a política é apenas parte do campo de batalha enfrentada por Dilma Rousseff. Em 2014, quanto mais incertezas houver na economia, mais difícil vai ser convencer o eleitor a dar mais quatro anos de mandato à chefe do Executivo. - A inflação se tornou um dos principais vilões da economia este ano. Depois de encerrar 2012 em 5,84%, acima do centro da meta, de 4,5%, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), continua elevado este ano. Em maio, apesar de uma leve desaceleração ante abril, a inflação atingiu o teto da meta no acumulado dos 12 meses, de 6,5%. Os preços elevados corroem a renda da população, reduzindo o poder de consumo, o que fere a popularidade da presidente. Apesar do cenário, Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, continuam dizendo que a inflação “está sob controle”. Mesmo com recente alta dos juros, usada pelo Banco Central como remédio de combate à inflação, o IPCA deve encerrar o ano em torno de 5,8%, de acordo com economistas ouvidos semanalmente pelo BC.
- Variações de popularidade são comuns ao longo dos mandatos. Também é comum a colheita de dividendos eleitorais no último ano de gestão, com a inauguração de obras e a consolidação de programas importantes. A presidente, entretanto, parece não ter cartas na manga para 2014. "A gente sabe que ela não tem tempo de inaugurar obras porque as obras não estão sendo realizadas. Não há tempo de ela inaugurar empreendimentos como a transposição do rio São Francisco", diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). - O cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, afirma que o governo ainda não tem uma marca que conquiste o eleitorado - apesar de programas como o Brasil Sem Miséria. "Dilma vai ter de inventar uma outra bandeira", afirma. Um sinal de que o eleitor, embora aprove a presidente não se entregou incondicionalmente a ela vem da já mencionada pesquisa Datafolha: 73% da população diz ainda não ter escolhido seu candidato pra 2014. - A queda de popularidade não pode ser atribuída ao desleixo da presidente com sua imagem. Pelo contrário: desde o começo do ano, ela intensificou o anúncio de medidas de apelo popular, passou a viajar mais pelo país, aumentou sua exposição nas cadeias de rádio e TV e passou a discursar mais vezes, e por mais tempo, em eventos da Presidência - o que garante exibição no noticiário. - A estratégia de Dilma, moralmente questionável, é comum na política brasileira. Ao mesmo tempo em que ela embarcava na campanha antecipada, Aécio Neves e Eduardo Campos, também ocupante de cargos públicos, faziam o mesmo. E por isso a queda na popularidade da presidente pode servir como um alerta importante: o recuo ocorreu exatamente no período em que Dilma crescia em exposição nos meios de comunicação. - Os petistas dizem que tudo está sob controle. "Em 2009 o PIB diminuiu, a presidente tinha 4% nas pesquisas e José Serra tinha 45%. Isso não significa nada", diz o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, também faz pouco da queda de popularidade: "Pesquisa sobe e desce. É da vida. O mais importante é o trabalho e o resultado do trabalho frente à situação que temos no mundo e no Brasil." - Mas são claros os sinais de que o governo recebeu os números com preocupação. Já na primeira aparição pública depois da divulgação das pesquisas, Dilma Rousseff usou uma obviedade para enfatizar sua disposição em impedir o avanço da inflação: "Não há a menor hipótese de que o meu governo não tenha uma política de controle, de combate à inflação", disse ela, que também criticou duramente o que acredita serem "Velhos do Restelo" - pessimistas que torceriam contra sua gestão. - De qualquer forma, como mostram as pesquisas de popularidade, o jogo eleitoral é uma guerra defensiva em que a política é apenas parte do campo de batalha enfrentada por Dilma Rousseff. Em 2014, quanto mais incertezas houver na economia, mais difícil vai ser convencer o eleitor a dar mais quatro anos de mandato à chefe do Executivo. - A inflação se tornou um dos principais vilões da economia este ano. Depois de encerrar 2012 em 5,84%, acima do centro da meta, de 4,5%, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), continua elevado este ano. Em maio, apesar de uma leve desaceleração ante abril, a inflação atingiu o teto da meta no acumulado dos 12 meses, de 6,5%. Os preços elevados corroem a renda da população, reduzindo o poder de consumo, o que fere a popularidade da presidente. Apesar do cenário, Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, continuam dizendo que a inflação “está sob controle”. Mesmo com recente alta dos juros, usada pelo Banco Central como remédio de combate à inflação, o IPCA deve encerrar o ano em torno de 5,8%, de acordo com economistas ouvidos semanalmente pelo BC.
Fonte: Agência O Estado.
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