OPINIÃO
"Movimento sem bandeira
nem fronteira”
Ainda que se tenha visto episódios pontuais com laivo de
selvageria e truculência, por ocasião das manifestações populares ocorridas no
sábado (15), nem assim se poderá rotular o movimento, que iniciou tímido, mas
que em pouco tempo tornou-se expressivo, com pechas disso ou daquilo. Menos
ainda, de não ter cumprido com eficiência a proposta de mobilizar o povo, por
onde passou e além das circunscrições em que arrebanhou milhares de pessoas, em
protesto, numa clara demonstração de insatisfação com a inércia propositada ou
com as desmesuras das práticas do Estado brasileiro, em todos os seus poderes
constituídos, sem poupar nenhum deles, pelo descumprimento dos deveres na
prestação dos serviços públicos a eles cometida, mercê das leis que os regem. -
Para se ter uma ideia do alcance e da força inconteste dessa mobilização
popular, mal assentou a poeira da marcha aos palácios governamentais e
assembleias legislativas de São Paulo, do Rio de Janeiro e de outras unidades
da federação, além do Congresso Nacional, em Brasília, e governadores e
prefeitos já se curvaram, anunciando o desfazimento do malfadado aumento de
preço das passagens de ônibus, como fora essa a principal e única insatisfação
do povo. E aquela cena de encontro consonantal desacertado entre o governador
Geraldo Alkmin (PSDB) e o prefeito Fernando Haddad (PT), tava mais pra ringue
de luta livre do que pra despacho de autoridades. Um parecia não estar nada
satisfeito com o outro, nem com nada. Os retratos do evento remetem ao
enfrentamento de dois pitbulls selvagens, separados por uma vitrina
transparente, um querendo devorar o outro. Os olhares pareciam de rapina. Do
cenário generalizado é de depreender-se o grau da insatisfação de que está
acometida a população brasileira, que vinha contendo abafado o grito que agora
ecoa além-fronteiras. Esse grito deverá ser traduzido como a sinalização de
outros gritos, na iminência de eclodirem, cujo eco poderá ultrapassar as
estreitas medidas dos termômetros sociais, varar a lógica da arquitetura e
fazer ruir o castelo petista, cuja dinastia sucessória parece gravemente
minada, perigando tal castelo desabar por sobre o que e quem estiver à sua
sombra. - A movimentação espontânea, organizada por meio das redes sociais na
internet, enseja a noção do peso desse veículo, que se consolida enquanto
elemento formador de opinião, podendo exercer uma espécie de poder paralelo,
invisível, desestruturado, informal, porém determinante, até pelo fato de
representar, legitimamente, os anseios coletivos, sem atravessadores. Esta, em
que pese informal, é a verdadeira e original vontade popular, organizada num
movimento imaterial, porém legítimo, repito, sem bandeira partidária, nem
fronteira, de qualquer natureza. - Aguardemos, por enquanto, os próximos
capítulos do embate, que promete render muito. Quem ainda tiver barba,
coloque-a no molho. Quem não tem, que fique alerta.
Matéria postada por
Antônio Bezerra Campos no caderno Artigo.
Fonte: da redação.
*Antônio Bezerra
Campos – é novarrussense – radicado em Brasília – advogado e colunista de
jornal do DF.
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