Nelson
Mandela, um "ícone mundial da reconciliação”.
O ex-presidente sul-africano
Nelson Mandela, hospitalizado este sábado aos 94 anos em estado grave, encarna,
em todo o mundo, os valores do perdão e da reconciliação por ter tirado seu
país do regime racista do apartheid e ter renunciado à vingança contra a
minoria branca, que o manteve na prisão durante 27 anos. "O perdão liberta
a alma, faz desaparecer o medo. Por isso o perdão é uma arma tão potente"
disse Mandela, prêmio Nobel da Paz em 1993, em uma frase, agora mítica, que
explica sua visão do mundo e da humanidade e que o transformou no dirigente
mais popular do século XX. Apesar de estar afastado da vida pública há anos,
continua sendo uma figura venerada além das fronteiras da África. Considerado
um "ícone mundial da reconciliação" por Desmond Tutu, outra das
grandes figuras da luta contra a apartheid, o ex-presidente sul-africano, que
nunca pregou ideias políticas nem religiosas, encarna valores universais, um tipo
de humanismo africano alimentado pela cultura de seu povo, os xhosa. "Madiba",
o nome de seu clã e como seus compatriotas o chamam afetuosamente, nunca foi um
revolucionário no estilo de Lênin ou Gandhi. Quando era jovem gostava de
esporte - foi boxeador amador -, de roupas bonitas e tinha fama de sedutor. "Longe
de assumir um papel divino, Mandela é, ao contrário, total e absolutamente
humano, a essência do ser humano em tudo o que essa palavra pode
significar", escreve sobre ele seu compatriota Nadine Gordimer, prêmio
Nobel de Literatura. Seus atos, lembrados e venerados por seus compatriotas ao
longo dos anos, acabou criando uma espécie de culto que Mandela nunca buscou.
"Um dos problemas que me preocupavam na prisão era a falsa imagem que
tinha e não queria projetá-la ao mundo. Consideravam-me um santo e nunca fui
um", explicou uma vez a um jornalista. Nelson Mandela nasceu no dia 18 de
julho de 1918 na pequena cidade de Mvezo, na região de Transkei (sudeste)
dentro do clã real dos Thembu da etnia xhosa. Seu verdadeiro nome, Rolihlahla,
que significa "o que traz problemas", foi dado por seu pai, mas, na
escola a professora começou a chamá-lo de Nelson, o nome que utilizou desde
então. A rebelião do jovem Mandela começou muito cedo, primeiro quando foi
expulso da universidade de Fort Hare (sul) após um problema com a direção e
depois, aos 22 anos, quando fugiu de sua família para evitar um casamento de
conveniência. Ao chegar a Johannesburgo,
uma gigantesca metrópole mineira, Mandela toma consciência da segregação que
dividia seu país. Ali conheceu Walter Sisulu, que se transformaria em um mentor
e seu melhor amigo e abriu as portas do Congresso Nacional Africano, o partido
da maioria negra. Sua militância política o afastou de sua primeira esposa,
Evelyn, mas o fez conhecer Winnie, uma enfermeira de 21 anos. Junto a Oliver
Tambo e outros jovens líderes, assumiu as rédeas do partido para lutar contra o
regime branco, que tinha "inventado", em 1948, o conceito de
apartheid, o "desenvolvimento separado das raças". Após o relativo
fracasso das campanhas de mobilização não violenta inspiradas nos métodos de
Gandhi, o ANC foi considerado ilegal em 1960. Mandela foi detido em várias
ocasiões, passou à clandestinidade e decidiu orientar o movimento para a luta
armada. Contudo, em 1964, foi capturado e levado à ilha-prisão de Robben Island
na costa da Cidade do Cabo. Durante
anos, sob um sol escaldante, em meio a uma poeira que danificou para sempre
seus pulmões, teve que quebrar pedra. Ainda assim nunca pensou em vingança e
tentou, ao contrário, entender seus inimigos, aprendendo sua língua, o
africâner, e apreciando seus poetas. "Sabia perfeitamente que o opressor
tem que ser libertado, assim como o oprimido. Um homem que priva outro homem de
sua liberdade é prisioneiro de seu ódio, está trancado atrás das grades de seus
preconceitos", explica Mandela de seus anos de prisão. Após 27 anos preso,
é libertado em 1990 e começa a negociar com um regime exausto a organização de
eleições universais e democráticas. Após sua eleição triunfal como presidente
em 1994, foi um pregador incansável da reconciliação das raças. Sua atividade
política e seus anos na prisão nunca o permitiram ter uma vida familiar
"normal", mas Nelson Mandela sempre buscou a companhia das mulheres,
como demonstram seus numerosos amores e seus três casamentos. Com Evelyn, sua
primeira mulher, teve duas meninas e dois meninos e outras duas filhas com
Winnie. Agora tem 17 netos e 12 bisnetos. Após se divorciar de Winnie se casou
pela terceira vez em 1998, aos 80 anos, com Graça Machel. Simbolicamente, a
última aparição pública de Mandela foi diante de toda a humanidade, quando
cumprimentou a multidão no dia da final da Copa do Mundo de Futebol em 2010 na
África do Sul, com milhões de espectadores o acompanhando ao vivo pela
televisão.
FONTE: AE.
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