Votações de medidas provisórias tumultuam Brasília
Criadas para dar maior rapidez a
ações relevantes do governo, as MPs têm sido fonte de tensão entre o Planalto e
o Congresso.
Sem deixar passar o trauma pelas
duas medidas provisórias (MPs) que perdem a validade hoje, a presidente Dilma
Rousseff editou mais duas. E ainda reforçou sua articulação no Congresso para
impedir a morte de outras duas MPs que caducam neste mês. Concebida na
Constituição para acelerar ações "urgentes" do governo federal, a
medida provisória virou instrumento rotineiro de governo. Desde 1988, seis presidentes
usaram a caneta para criar legislações instantâneas. Com força de lei após
publicação no Diário Oficial da União, as MPs valem por 120 dias, quando
termina o prazo para aprovação na Câmara e Senado, nesta ordem. Se não são
votadas, perdem a validade, como a MP da redução da conta de luz. Apesar dos quatro meses para votação, é comum
as medidas chegarem aos plenários a poucos dias do estouro, motivo das brigas
entre parlamentares e Planalto. A MP dos Portos bateu no Senado no dia
derradeiro. Escapou do naufrágio por cinco horas. Já as MPs da energia elétrica
e da desoneração da folha de pagamento de alguns setores da economia morrem
nesta segunda-feira — o governo teve de baixar um decreto e colocar a redução
da conta de luz em outra medida. O presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), decidiu que só apreciará propostas repassadas pela Câmara tendo pelo
menos sete dias para analisá-las.
— É um compromisso que assumi com
meus colegas — justificou.
A tensão é rotina, já que em
quase 25 anos o Brasil contabiliza mais de mil MPs. Algumas trouxeram avanços.
O Plano Real e o PROUNI, programa de bolsas em universidades privadas, são
frutos de medidas, criadas como instrumento diante da lentidão do Legislativo,
acostumado a engavetar projetos de lei. O problema é que pequenos atos são
determinados por MPs, o que, pela obrigação do Congresso de votar os temas,
pauta o trabalho de senadores e deputados, como explica o cientista político
Francisco Fonseca, professor da FGV-São Paulo. — Com as MPs, o Executivo define
a agenda do Congresso. Mas o parlamento se acostumou, sabe que a obrigação de
votar o texto impede que as decisões sejam postergadas — analisa. Em 2008,
durante revolta dos congressistas, o presidente Lula afirmou ser
"humanamente impossível governar sem MPs". Levou a sério o
raciocínio. Em dois mandatos, editou 414 medidas. Fernando Henrique editou 334,
Itamar Franco 142, Fernando Collor 89 e José Sarney 125. Com as duas de
sexta-feira, Dilma chegou a 96. A presidente garantiu a isenção de PIS e Cofins
do transporte coletivo e abriu R$ 2,9 bilhões para créditos educativos no
Ensino Superior.
Proposta altera prazos de tramitação
As turbulências causadas no
Congresso pelas últimas votações vão desengavetar a proposta de emenda à
Constituição (PEC) que pretende mudar o rito das medidas provisórias. O
presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), prometeu instalar neste mês
comissão para analisar a PEC de José Sarney (PMDB-AP). A proposta, que já
passou pelo Senado, mas mofa desde 2011 na Câmara, redefine prazos. A Câmara
terá 80 dias para votar a medida, remetida ao Senado, que terá outros 30. Nas
duas Casas, as pautas ficam trancadas quando faltarem 10 dias para o prazo
estourar. Hoje, a pauta tranca em 45 dias, independente de onde o texto esteja.
Opositor dos canetaços presidenciais, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) destaca
que o uso da MP é típico do parlamentarismo, sistema de governo que o Brasil
iria adotar na Constituição de 1988, mas que acabou derrubado na redação final
da Carta. Contudo, só caiu o primeiro-ministro. A MP sobreviveu. E os
presidentes criaram gosto por ela. — O expediente que deveria ser excepcional
foi banalizado — diz Simon.
Uma lei instantânea
Prevista na Constituição, a
medida provisória tem caráter de lei instantânea. Deveria ser usada em questões
urgentes e relevantes.
l O governo passa meses a
esquadrinhar a criação de determinada lei. Quando acerta o texto, o presidente
assina a MP, que vira lei com a publicação no Diário Oficial. — A validade da
medida é temporária. Para ser definitiva, precisa ser aprovada no Congresso. A
MP deve passar por Câmara e Senado em 60 dias, prazo prorrogável por mais 60. —
Enquanto é analisada no Congresso, a MP está valendo. Logo após a publicação no
Diário Oficial, o Congresso cria uma comissão de deputados e senadores para
analisar a proposta. — Se não for votada
em 45 dias, a MP passa a trancar a pauta da Câmara ou do Senado, impedindo que
os parlamentares votem outros temas. — Se, após 120 dias, a medida provisória
não passar pela Câmara e pelo Senado, ela perde a validade. Se for aprovada,
vira lei definitiva.
Perdem validade nesta segunda-feira
MP 601
Amplia a lista de setores
beneficiados pela desoneração da folha de pagamento, em especial na construção
civil e comércio varejista.
MP 605
Permite uso de recursos da Conta
de Desenvolvimento Energético para viabilizar a redução de 20% nas tarifas de
energia elétrica.
As próximas votações
MP 606
Aumenta as vagas de cursos
técnicos no Pronatec e permite subvenção econômica ao BNDES para obras de
rodovias e ferrovias. Perde a validade em 18 de junho.
MP 608
Altera o sistema financeiro
nacional, na tentativa de melhorar a capacidade dos bancos de contornar crises.
Perde a validade em 28 de junho.
MP 609
Isenta a cesta básica de impostos
federais. Recebeu o texto da MP 605, que garante a redução da conta de luz.
Perde a validade em 5 de julho.
MP 610
Amplia o pagamento de auxílio
emergencial para municípios do Nordeste atingidos pela seca. Perde a validade
em 15 de agosto.
MP 611
Abre crédito de R$ 3,96 bilhões
para reforçar orçamento de ministérios, entre eles Comunicações e Defesa. Perde
a validade em 15 de agosto.
MP 612
Amplia os setores beneficiados
pela desoneração da folha de pagamento, como construção civil e serviço de
manutenção de veículos. Perde a validade em 15 de agosto.
Fonte: Agência
Brasil.
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