COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
DADOS E EFEITOS
CONTESTADORES.
Nobres:
É indefectível a voz de o governo
repassar para o brasileiro que o país estar a mil maravilhas seja que setor
venha encontrar atividade em áreas eminentemente sob seu comando. Uma dessas
questões é o comentário de autoridades do governo federal em referência aos
resultados do Índice de Desenvolvimento Humano, que indica a posição de nossa
sociedade no cenário mundial. Apesar de sermos a 6.ª ou 7.ª economia mundial,
ocupamos a 88.ª posição no cenário mundial em termos de desenvolvimento humano.
Estamos atrás de países muito mais pobres, tais como Bahamas, Montenegro,
Arábia Saudita, Panamá, Sérvia, República Dominicana, Líbano e Omã. O IDH é
calculado com base em três itens: renda, saúde e educação. O que realmente
rebaixa nossa posição ruim é a vergonhosa situação de nossa educação. Em vez de
a presidente Dilma Rousseff ir à televisão reconhecer a situação e fazer um
forte apelo a todos os brasileiros para superar esta situação, preferiu falar
que havia um erro do PROGRAMA PARA AS NAÇÕES UNIDAS
PARA O DESENVOLVIMENTO - PNUD: no
lugar de 7,4 anos de escolaridade, o Brasil tem 7,2 anos, esquecendo que os
cálculos feitos consideraram 2005 para todos os países, e que, mesmo que estivéssemos
com os 7,4, a situação continuaria a ser vergonhosa e trágica. Além disso, se o
IDH considerasse a qualidade de nossa educação, e como ela se distribui por
classe social, nossa posição certamente pioraria. Além de uma baixa média, a
parcela rica tem 13 anos de escolaridade; logo, os pobres devem ter três ou
quatro anos. Esse sentimento de “já estamos ganhando”, em vez de “sangue, suor
e lágrimas”, decorre da visão de aparências, com desprezo à realidade e ao
longo prazo. O Brasil não terá futuro enquanto não tiver um governo que seja
capaz de perceber a dimensão da tragédia, olhar ambiciosamente para o futuro e
se propor a ter uma boa educação para todos, mobilizar toda a população,
governadores, prefeitos, pais, empresários, artistas, enfim, todos os políticos
para enfrentar o problema, como se enfrentássemos uma guerra, com “sangue, suor
e lágrimas”. Não há razão para o governo querer esconder a realidade. A culpa é
histórica e a situação é muito mais grave. Nosso Índice de Desenvolvimento Humano
seria muito pior se em seu cálculo fossem considerados outros problemas, tais
como a morte por violência, o tempo perdido em engarrafamentos, a qualidade do
transporte urbano, o grau de concentração de renda – um dos maiores do mundo –,
a degradação urbana, a poluição, a carência de moradia, a concentração da terra
e a triste violência contra a mulher e nossas crianças. O IDH é uma das maiores
conquistas intelectuais do século 20, ao trazer para o debate a ideia de que a
riqueza medida pelo PIB não representa o nível de bem-estar da sociedade. Seu
grande mérito, porém, é fazer com que os dirigentes de todo o mundo esperem com
ansiedade sua divulgação para saber como evoluiu o quadro social de seus
países. Mas essa imensa conquista fica perdida se, em vez de perceber a
realidade e lutar para superá-la, os dirigentes preferirem desqualificar os
cálculos e dar explicações para os fracassos. Neste contexto há de se nunca
pode evoluir priorizando o resultado estatístico com fator extensivamente para
uma sociedade que está quase ficando alheia a uma publicidade retórica sempre
voltada para fins eleitoreiros em desatenção a política momentânea e
imperativa, de mercantilização para o setor de educação.
Antônio Scarcela Jorge.
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