COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
PAPA FRANCISCO
A
eleição do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires,
para suceder Bento XVI como líder máximo da Igreja Católica pegou a maioria dos
católicos de surpresa. Bergoglio não estava nas listas de papabili, especulação
costumais de segmentos da “imprensa sensacionalista” como são chamados os
cardeais apontados como favoritos no conclave, até mesmo por sua idade: com 76
anos, estava além da faixa que vinha sendo mencionada como desejável para o
novo pontífice para que pudesse ter um reinado mais longo, após os quase oito
anos de Joseph Ratzinger. A eleição de ontem marcou uma série de ineditismos: o
primeiro papa latino-americano, o primeiro jesuíta eleito pontífice, o primeiro
a adotar o nome Francisco. Contamos que “têm mais possibilidade de ver suas
expectativas cumpridas àqueles que esperarem um pontífice que use a influência
da Igreja a favor das grandes causas da humanidade, como a defesa da democracia,
o combate à pobreza e a promoção da paz”. A julgar pela atuação de Bergoglio
como arcebispo de Buenos Aires, é bem possível que pelo menos uma dessas
plataformas seja abraçada com entusiasmo pelo novo pontífice. Correspondentes
internacionais em conjunto trouxeram exemplos de sua pregação enfática contra a
pobreza e a desigualdade social, como a ocasião em que o cardeal disse que em
Buenos Aires “se cuida melhor de um cachorro do que de um irmão”. Se Bento XVI
elegeu como uma de suas prioridades o combate ao que via como um mal do mundo
moderno, o relativismo, a noção de que não existem verdades absolutas, e que
tem suas consequências no tecido social, na visão do agora papa emérito. (Foto do 'Osservatore Romano'
mostra o Papa Francisco fazendo o check-out da residência onde se hospedou em
Roma - Reuters/Osservatore Romano)
–
Francisco parece mais voltado à denúncia de outro grave problema da sociedade,
o materialismo. Assim como João Paulo II viveu o horror do totalitarismo
socialista, o que lhe deu a experiência necessária para saber como combatê-lo a
partir do Vaticano, Francisco liderou os católicos de Buenos Aires durante
tempos de enormes dificuldades econômicas, mostrando-se solidário com eles
também pelo seu exemplo de cardeal que usava o transporte público e fazia suas
próprias refeições. Como pontífice, Francisco provavelmente não terá como dar
semelhantes demonstrações de simplicidade (embora já tenha dispensado o carro e
retornado à Casa de Santa Marta no mesmo ônibus dos cardeais, após sua
eleição), mas sua posição lhe confere autoridade para pregar contra a pobreza,
a desigualdade e quaisquer modelos econômicos que ignorem a dignidade humana,
seguindo a Doutrina Social da Igreja.
Antônio Scarcela Jorge.
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