COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
AS INVERDADES DO PARTIDO.
Em um novo evento realizado pelo
PT, para comemorar os 10 anos do partido na Presidência da República, Lula
reclamou dizendo que a imprensa bate nele como batia no presidente
norte-americano Abraham Lincoln: com dureza e críticas, sem dar o devido
reconhecimento a seus feitos e êxitos. Na mesma solenidade - a presidente
Dilma, por sua vez, resolveu desdizer a si mesma, ao afirmar que seu partido
nada recebeu dos antecessores e tudo o que o Brasil tem de bom foi construído
pelo PT desde 2003, quando ela própria havia reconhecido, no início de seu
mandato, a boa herança macroeconômica recebida de Fernando Henrique Cardoso-.
Todos os governantes, sem exceção, sempre disseram e sempre dirão que a
imprensa é ingrata, dura e injusta em relação a eles. Mas, no caso de Lula e de
Dilma, o problema é que eles fabricam as próprias mentiras. Ou Dilma estava
mentindo quando elogiou Fernando Henrique por ter implantado o Plano Real,
debelado a inflação, saneado o sistema financeiro e implantado a Lei de
Responsabilidade Fiscal; ou está mentindo agora ao afirmar que o PT nada herdou
de bom e tudo construiu por sua genialidade. Há outras mentiras claras. Quando Lula teve
êxito ao manter o Brasil em boa situação econômica e formou reservas
internacionais elevadas, ele, seu governo e seu partido alardeavam que o
sucesso era obra da competência do governo. Lula não gostava quando analistas
diziam que ele teve uma sorte enorme ao governar em um período no qual a
economia mundial andou bem, os preços das commodities exportadas subiram de
2002 a 2010 sem parar, os preços das importações brasileiras caíram e o cenário
mundial foi favorável como há muito tempo não era. Lula somente teve as
primeiras turbulências já no fim de seu governo, com a crise financeira
mundial. O governo Lula teve seus méritos, e isso é reconhecido. Mas atribuir
todos os êxitos a seu governo é desconhecer o papel jogado pelo cenário mundial
altamente favorável. Agora que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas
0,9% em 2012, esse mesmo governo que achava ser o responsável por todos os
êxitos do Brasil resolve alardear em alto e bom som que o problema é a economia
internacional. Esse crescimento é pífio e empobrece o Brasil, pois a população
cresceu mais que 1%. Ou o governo estava
mentindo quando atribuía a si os louros da vitória porque a economia ia bem –
não aceitando que parte do sucesso se devia à boa conjuntura externa –, ou está
mentindo agora, tentando convencer a população de que o péssimo desempenho de
2012 é culpa da economia internacional. Ou uma coisa ou outra. Talvez algum
guru do PT, dado a ser estrategista, saiba que política é isso mesmo: a arte de
elogiar a si próprio, mesmo quando não mereça, e culpar os outros, mesmo quando
o governo está errado. A se acreditar que a função da propaganda partidária e
governamental é agir dessa forma, então que aceitem as críticas e o rigor com
que a imprensa trata suas diatribes verbais e suas mentiras eleitorais. E isso
vale para todos os partidos no poder, de direita ou de esquerda, se é que essas
definições ainda fazem algum sentido. Não aceitar as críticas e a dureza da
imprensa e da opinião pública é coisa de ditadores, que a todos querem
submeter, “ceifando-lhes” a palavra (quando não a vida) sempre que criticam os
poderosos de plantão. Já que o ex-presidente resolveu comparar-se a Lincoln,
seria bom que ele lesse mais a biografia desse grande homem para descobrir que
ele jamais tentou calar a imprensa e seus opositores. A Lula e Dilma resta o lembrete: nem tudo o
que o Brasil tem de bom começou em seu governo e nem tudo que o Brasil tem de
ruim foi obra de seu governo. Da mesma forma, a boa conjuntura externa ajudou,
sim, os êxitos do governo do PT, e essa mesma conjuntura externa contribuiu
para o mau desempenho da economia brasileira em 2012. Nenhuma crise é eterna.
Os Estados Unidos já estão dando sinais de recuperação. A Europa está
cambaleando, mas em algum momento do futuro a crise será superada. Quando isso
ocorrer, o Brasil irá se beneficiar e, se a China não descambar para o pior, a
economia brasileira poderá ter anos muito bons. O governo, seja de que partido
for, será influenciado pelos bons e pelos maus ventos da economia
internacional. Foi uma analise sem precedentes que não retrata nem de longe o
verdadeiro.
Antônio Scarcela Jorge.
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