LUTO DÁ LUGAR A EXPLICAÇÕES E COBRANÇA POR JUSTIÇA EM SANTA MARIA
A cidade
de Santa Maria volta aos poucos a sua rotina. Depois de uma segunda-feira em
luto pelas mais de 230 mortes no incêndio da Boate Kiss, o silêncio deu lugar
aos gritos de justiça. A prefeitura se eximiu de responsabilidades, enquanto os
bombeiros tentaram mostrar que a estrutura do espaço de festas atendia às
normas vigentes. Já a polícia viu uma série de erros nos eventos que resultaram
no desfecho trágico.
Na tarde desta terça-feira, o
delegado Marcelo Arigony relatou que a boate fez diversas reformas "no
arrepio de qualquer fiscalização" e estava com alvarás vencidos. Para os
investigadores, a porta era insuficiente para dar vazão ao público e a espuma
utilizada para isolar o som do local era altamente tóxica quando queimada.
A entrevista coletiva do delegado
foi interrompida por gritos de protesto. O branco da marcha silenciosa de
segunda-feira deu lugar ao preto. Jovens gritavam "prefeitura omissa,
queremos Justiça". O responsável pelas investigações desceu e aplaudiu os
manifestantes. Emocionado, Arigony falou aos jovens e garantiu rigor nos
trabalhos.
Perto dali, o prefeito de Santa
Maria, Cezar Schirmer, distribuiu cópias de documentos para a imprensa. Queria
mostrar que a fiscalização do plano de prevenção contra incêndios compete aos
bombeiros, conforme lei estadual, e que o alvará sobre incêndio que estava
vencido era de responsabilidade da corporação. O documento que a prefeitura
deveria cuidar tinha validade até abril deste ano, apontavam os papeis.
Para os bombeiros, os fatores
decisivos para a tragédia foram a lotação do local e o uso de artefato
pirotécnico em local fechado. A banda Gurizada Fandangueira, segundo as
investigações, comprou o sinalizador conhecido como Sputnik para uso externo,
por ser mais barato (R$ 2,50). Uma versão semelhante para uso em ambientes
internos custa aproximadamente R$ 70.
Durante a manhã e a tarde, o
subcomandante dos Bombeiros em Santa Maria, Gerson Pereira, sustentou que a
casa noturna atendia às normas de segurança, com base na última vistoria
realizada. A única saída, segundo ele, se enquadrava nos padrões exigidos,
mesmo que os bombeiros tivessem recomendado a instalação de mais saídas de
emergência.
Mais tarde, a corporação divulgou
nota em que afirma ter recebido laudo técnico da boate, o qual registrava duas
saídas de emergência com barras antipânico e devidamente sinalizadas. O
Comando-Geral informou ainda que não recebeu pedido de autorização para o uso
de artefatos pirotécnicos. A renovação do alvará de prevenção contra incêndios
foi solicitada em novembro e estava em tramitação, diz a nota.
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