FRAUDE POLÍTICA
Nobres: -
O Brasil se torna o amplexo da imoralidade praticada por agentes do poder. Referimo-nos
ao estágio momentâneo que nos impede de avançar aliando a confiança de nossos
governantes que tem a sociedade à pureza de massa manigância. Manobras
contábeis para ocultar déficit do Tesouro Nacional são absolutamente
irrelevantes para a perspectiva eleitoral da política. Poucas pessoas têm
preocupação e capacidade para compreender números, escrita, rubricas,
orçamento, receita, restos a pagar, antecipações de receita orçamentária,
desvinculação de receita da União. A quem a contabilidade pública interessa, o
tratamento cosmético dos números não esconde a pele de jacaré dos fatos.
Ninguém fica iludido, achando que está tudo às mil maravilhas apenas porque as
contas apresentadas estão no azul. O grande público vota no governo conforme
haja emprego e renda, sem atinar com questões sutis do erário. Não deixa de
votar porque houve saque antecipado do Fundo Soberano para engordar a receita
da União ou porque há passivo de quase R$ 200 bilhões em restos a pagar. Então
vale tudo para assegurar os votos? Não. A democracia não é apenas eleição. Se
assim fosse, Caracas seria caso de estudo como Atenas e Chávez seria o Péricles
da modernidade. A democracia é mais que retórica dos comícios e obtenção de
maioria de votos. A democracia exige honestidade na assunção das consequências
das opções políticas e gerenciais. Se um governo decide que o déficit do
erário, inflação, desequilíbrio na balança comercial são consequências
aceitáveis para a execução de seus projetos, não há razão leal para a
dissimulação. A ocultação dos efeitos colaterais é reconhecimento de que eles
são extremamente nocivos e o governante não quer assumir a responsabilidade
pelos efeitos danosos. Se fosse relacionamento exaurível num único momento, o
uso de qualquer meio para atingir vantagem não contaminaria o resultado. Jogo
de um lance. Vencer de modo a aniquilar o derrotado para impedir que haja novos
lances. Nem a guerra é assim – por isso os meios pérfidos são repudiados,
porque sempre há o dia seguinte para arcar com as consequências. Governar é
jogo de lances continuados, sem data para acabar. Os partícipes do processo
(eleitores e políticos) se relacionam perenemente. Aqui, os meios contaminam os
fins. Meios moralmente reprováveis geram danos mais onerosos que eventuais
benefícios alcançados com o atingimento de uma finalidade. Na questão da
contabilidade “criativa” da União para apresentar superávit inexistente em
2012, a imoralidade dos meios leva, no médio prazo, à deterioração da confiança
na palavra do governo. Não é simplesmente divergir da ideologia e gestão de
quem governa na ocasião; é desconfiar da palavra, da honorabilidade. A
desconfiança afeta negativamente a economia e, mais adiante, vem o revés
eleitoral. Eleitor e ator econômico – trabalhador ou empreendedor – são
expressões do mesmo indivíduo. A sensibilidade econômica é maior que a
eleitoral. O eleitor não percebe o efeito do seu voto entre milhões, não
conectando a sua escolha com o rumo do governo. Todavia, o ator econômico sente
os efeitos da ação governamental quase instantaneamente e reage para se
proteger se desconfia que possa ir à bancarrota caso acredite no discurso dos
ministros. Confiança nos números públicos não é coisa da direita. A honestidade
não tem sistema de ideias.
Antônio
Scarcela Jorge
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