COMENTÁRIO
PROTAGONISMO
EVIDENTE
Nobres: Dezenas de anos paternalismo
estatal criaram no brasileiro um conceito manco de cidadania, que se resumiria
a dois itens: votar e a cobrar o poder público. A participação nas eleições e a
fiscalização dos governantes são importantes, mas a verdadeira cidadania é um
tripé: para ser completa, precisa também da participação popular. Dar
prioridade à ideia de cidadania como cobrança traz implícita a noção de que
tudo, ou quase tudo, precisa vir do Estado, quando na verdade há um sem-número
de tarefas que poderiam muito bem estar a cargo dos próprios cidadãos, que se
organizariam para identificar necessidades e oportunidades e se juntariam para
atingir seus objetivos. Assuntos como o cuidado com o local onde se vive e com
as pessoas que dividem o mesmo espaço urbano são mais bem resolvidos por quem
convive diariamente com essa realidade. Ao Estado caberia proporcionar as
condições para que essa atuação popular seja eficaz, e agir naquelas
circunstâncias em que a participação cidadã seja incapaz de resolver
determinada situação. A segurança pública, por exemplo, sem dúvida é dever do
poder público. Caso a tarefa se mostrasse acima das capacidades dos moradores,
aí, sim, o Estado poderia agir, complementando o que os cidadãos iniciaram. Assim,
percebe-se que o principal obstáculo ao protagonismo cidadão é cultural e
reside na mentalidade estatista e na visão do espaço público como “coisa de
ninguém”. É difícil se convencer de que o local onde se vive é “coisa de todos”
quando não há envolvimento com o seu cuidado. Que mais
pessoas se disponham a segui-lo no ano que se inicia hoje. – “FELIZ ANO NOVO”
Antônio Scarcela Jorge
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