RETROCESSO MORAL
SENADORES
CRITICAM RETORNO DE RENAN À PRESIDÊNCIA
Senadores independentes
divulgaram nesta terça-feira um manifesto em que compara a volta do líder do
PMDB, Renan Calheiros (AL), à presidência da Casa, à escolha feita pelos antigos
"Coronéis do Interior" na época da Primeira República (1889-1930).
"Voltaremos (do recesso parlamentar) apenas para ratificar o nome, nomeado
sem apresentar qualquer proposta que mude o nosso funcionamento. Votaremos como os
eleitores que iam às urnas na Primeira República, levando a cédula sem conhecer
o nome do candidato escrito nela pelos antigos Coronéis de Interior",
afirma. O documento, intitulado "Uma nova presidência e um novo rumo para
o Senado", é uma plataforma de propostas de modificação no funcionamento
administrativo e legislativo da Casa, abalada nos últimos anos por sucessivas
crises, como a saída de Renan, em 2007, da presidência, após ser absolvido de
dois processos de cassação em plenário, e os atos secretos revelados pelo
jornal O Estado de S.Paulo, em 2009, que quase derrubaram o atual presidente
José Sarney (PMDB-AP). Mesmo com remotas chances de impedir a eleição de Renan,
o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) - que participou da elaboração do texto
- vai entrar na disputa, marcada para o dia 1º de fevereiro. "A crítica
está aí, mas se a carapuça servir? Eu acho que ele (Renan Calheiros) tem
responsabilidades com o maior partido do Congresso, que deve presidir a Câmara
e o Senado, partido do qual ele é líder", afirmou Randolfe. "Não é
contra o Renan, mas a maneira como o processo está sendo conduzido. Na Câmara,
os candidatos estão rodando o Brasil fazendo campanha, enquanto no Senado ninguém
fala quem é o candidato", completou o senador Cristovam Buarque (PDT-DF),
um dos idealizadores do documento.
Credibilidade
No manifesto, os senadores dizem
que a principal causa da perda de credibilidade da Casa é "consequência de
nosso comportamento e nossa ineficiência". "Nos últimos anos o Senado
tem acumulado posicionamentos que desgastaram sua imagem perante o povo
brasileiro, especialmente pela falta de transparência, pela edição de atos
secretos, pela não punição exemplar de desvios éticos e pela perda da
capacidade de agir com independência", afirmou. Os parlamentares lembram
no documento que os últimos dias de 2012 mostraram "claros exemplos"
da inoperância da Casa, como a divulgação da existência de 3.060 vetos
presidenciais pendentes de apreciação há quase duas décadas e a não votação do
orçamento de 2013 e das novas regras para o rateio de recursos do Fundo de
Participação dos Estados (FPE). Entre as 17 propostas de mudança que constam do
manifesto, estão a limpeza da pauta de votações, com a apreciação dos vetos
presidenciais e do FPE, o fim das votações simbólicas nas comissões e no
plenário, a diminuição do número de comissões temáticas e a criação de um
comitê composto por senadores para acompanhar os gastos da Casa. O senador
Cristovam Buarque, responsável pela divulgação do documento, disse tê-lo
enviado para o gabinete de mais de 30 parlamentares. O pedetista afirmou que
não encaminhou o documento para Renan, porque espera que ele apresente sua
própria plataforma de campanha para a Casa. "Vou esperar ele mandar para
mim. Senão mandar, eu mandarei a nossa plataforma", afirmou.
Fonte: Agência O Estado
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