COMENTÁRIO
FÚROR INCABÍVEL
NOBRES:
Há pouco tempo (ensejando relembrar) - o ministro da
Justiça - José Eduardo Cardozo, fez uma
candente denúncia sobre as miseráveis condições em que vivem os quase 500 mil
presos no país, a terceira maior população carcerária do mundo. Logo em seguida
houve a manifestação do ministro Dias Toffoli, no sentido de que fossem
suavizadas as penas ao sugerir a conversão em multa da pena que implicassem
privação de liberdade. Nesse mesmo dia, em nota oficial, a direção nacional do
PT investiu pesadamente contra a suprema corte, contra os paradigmas adotados
em suas deliberações e, sobretudo, contra a sua submissão a uma imprensa
partidarizada e sensacionalista. Contradizendo as referências alusivas ao
tradicional esquecimento do povo, principalmente para as questões que envolvem
políticos aliados à corrupção, desta maneira nos surpreendeu o elenco de
iniciativas nada surpreendentes, convém destacar o pronunciamento caloroso,
humanitário, do ministro Cardozo, naquela ocasião em que calou fundo e no médio
prazo produzirá ações mais eficazes do que a política penitenciária dos
governos na última década. ao contrário dos xiitas do seu partido, o ministro
não entrou no mérito do julgamento em curso, não o desqualificou nem contestou
o Ministério Público ou o Judiciário, esteios da República. Entre outros
méritos, sua fala teve o dom de relembrar a manifestação do antecessor, Tarso
Genro, quando em 2005 (em seguida ao assombro causado pelas primeiras
revelações do mensalão) teve a ousadia de propor a refundação do Partido dos
Trabalhadores. Legítimo o desconforto do PT e de certas alas do governo federal
diante do inédito rigor das condenações; compreensíveis sua perturbação e
revolta ainda com relação a sua manifestação contra a suprema corte
caracterizada pelo “mensalão” foi investir contra o colégio de magistrados onde
milita uma maioria esmagadora de indicados por presidentes petistas, os indignados
estão tentando emplacar uma noção de lealdade do tipo “toma lá, dá cá”, não
muito distante da corrupção moral. Embora o ceticismo no tocante ao
comportamento da imprensa seja sempre salutar, a nova ofensiva contra a
imprensa é absolutamente descabida. Quem esteve escancarando o circo de horrores
contido na Ação Penal 470 foi uma emissora estatal, a TV Justiça, cujo sinal é
captado e reproduzido integralmente por uma emissora privada, a Globo News. A
necessidade de tornar nosso Judiciário mais transparente é antiga reivindicação
dos setores mais liberais e progressistas da nossa sociedade, inclusive do PT. A
furiosa arremetida contra o STF parece coisa de ETs, habitantes do mundo da Lua
que ignoram a aura de genuína admiração que envolveu não apenas o ministro
relator e agora presidente Joaquim Barbosa, mas também os demais ministros e
ministras, inclusive o imperturbável revisor Ricardo Lewandowski. Numa
sociedade moldada pelas telenovelas, este elenco de sábios voltados para o bem
público estabeleceu empatias inapagáveis.
Antônio
Scarcela Jorge
Nenhum comentário:
Postar um comentário