domingo, 18 de novembro de 2012

OPINIÃO DN




Legado universal

Meio século depois de sua realização, o Concílio Vaticano II, promovido pelo papa João XXIII, ainda repercute na humanidade pelas profundas reformas introduzidas nos campos ecumênico, bíblico e litúrgico, bem como pelas alterações na estrutura interna da Igreja Católica. Mesmo em estados laicos, as inovações do Concílio reverberaram pela universalidade de suas mensagens e por deixar transparecer as indiscutíveis boas intenções em favor da modernização da Igreja e da maior concórdia entre povos e religiões. Embora considerado um papa de transição, Ângelo Roncalli, homem de idade provecta e origem humilde, teve a ousadia de reunir em assembleia 2.540 clérigos da mais alta hierarquia eclesiástica e realizar aquele que foi um dos mais importantes encontros religiosos. Nele, João XXIII impôs sua convicção de resistir aos excessos do tradicionalismo injustificável em face da contemporaneidade e, assim, conseguiu antecipar na sua Igreja a modernidade do mundo globalizado, exigindo a adoção de posturas liberais e da efetiva aproximação com outros credos, até então considerados como inimigos em potencial. Para o melhor relacionamento entre a Igreja e os fiéis, o Concílio Vaticano II preconizou o ritual da missa na língua nativa dos próprios países onde seria celebrada, e não em latim como era anteriormente. Dessa maneira, todos os presentes ao ato entenderiam o que o sacerdote dizia no altar, medida que em muito facilitou as interlocuções e a compreensão plena da celebração. As alas conservadoras reagiram a essa mudança, por considerar que o emprego do latim tornava o rito mais misterioso e místico para os fiéis. Chegou-se a falar sobre o "cisma católico", que não obteve maiores repercussões. Outras conquistas de valor foram a reforma ecumênica, que abrangeu os cristãos não católicos e, também, integrantes de outras religiões monoteístas, e as jornadas inter-religiosas para a paz, no Santuário de São Francisco de Assis. Também foi recomendado pelo Concílio Vaticano II a troca da batina convencional dos padres por roupas iguais às das pessoas comuns, bem como a autorização para leigos assumirem atribuições delegadas de "ministros da Eucaristia". Além do reconhecimento da liberdade religiosa, ficou decidido o princípio da igualdade entre todos, no qual estava incluída a possibilidade de religiosas se ordenarem sacerdotisas e celebrarem missa, porém esse item encontrou resistência que ainda não superada. Estudiosos da religiosidade cristã consideram que, de modo quase generalizado, o sopro liberal e modernizador, estimulado por João XXIII, não teve a necessária continuidade na atuação de seus sucessores que se limitaram a organizar as mudanças em andamento. Aos 50 anos da realização do Concílio Vaticano II, Bento XIV abriu o chamado Ano da Fé, em parte reconhecendo o espírito inovador e humanístico de seu sempre bem humorado antecessor. Numa época em que conflitos religiosos tendem a se acirrar, tal como se ocorresse retrocesso a um passado no qual as crenças serviam de motivações para guerras sangrentas, faz-se necessário que o espírito de luz de João XXIII, aliado ao exemplo de humildade e conciliação do papa João Paulo II, sirvam de inspiração ao Sumo Pontífice da Igreja Católica e o levem a trilhar os mesmos caminhos de união e paz entre povos e religiões, propósitos que ora se afiguram prioritários num mundo cada vez mais civilizado e longe de Deus.
Fonte: da lavra do editor – DN. (PERMITIDA A REPRODUÇÃO CONSOANTE À LEI NO. 9.995)
 

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