COMENTÁRIO
Scarcela Jorge
CONTRAFAÇÃO PRATICA AÇODAMENTO
Nobres:
Enseja-nos refletir sobre o esmorecimento
de muita gente com a lentidão da classe política e o crescente alheamento desta
categoria em relação às urgências do mundo atual. É obvio que as instituições
servem para tornar a experiência da aceleração capitalista tolerável aos
indivíduos e para garantir a eles segurança no presente e confiança nas
expectativas de futuro. Quando se tornam um entrave à aceleração, são constrangidas
a se transformar, adaptando-se às mudanças sociais e gerando novas
estabilizações. Hoje, porém, a aceleração do ritmo de vida ganha tal proporção
que as instituições, incapazes de se transformar e impor qualquer resistência
às forças desestabilizadoras entra naturalmente em colapso. A rapidez também
intensifica a alienação do indivíduo, presa que ele é de uma celeridade que não
controla, esvazia seus conteúdos, o impede de aprofundar relações e dificulta o
planejamento da vida no longo prazo. É o curto prazo que predomina, seja no
cotidiano pessoal e coletivo, seja no exercício institucional da política. A
impossibilidade de submeter todas as esferas sociais a uma aceleração idêntica
à do ritmo dominante de vida gera uma série de "dessincronizações" principalmente
entre as esferas técnica-científica e econômica, de um lado, e política e
educacional, de outro. Por este lado a cadência acentuada das mutações
socioeconômicas e tecnológicas excede permanentemente as possibilidades das
estruturas e dos horizontes procela da política democrática e deliberativa, que
tende ela mesma, na sociedade da aceleração, e justamente em razão da forte
dinâmica social, a reduzir o ritmo dos processos de formação da vontade e da
tomada de decisão. Isso explicaria talvez Também ilustrasse tanto a expansão do
conservadorismo no mundo devido, em parte, à dificuldade de as
pessoas entenderem a realidade complexa quanto à ineficácia das esquerdas
que pensa numa ideologia ultrapassada sem consistência que geralmente adota o
protecionismo a corrupção, tendência as ditaduras para fixar um projeto de futuro comum para
grupos sociais com demandas tão imediatas e inconseqüentes.
Antônio Scarcela Jorge.
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