quarta-feira, 20 de setembro de 2017

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - QUARTA-FEIRA, 20 DE SETEMBRO DE 2017








COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge
A RETÓRICA ESQUERDISTA

Nobres:
Como é de costume a política do país como é de sua maneira tirou das sombras velhos fantasmas do retrocesso, mas também evidenciou o grande colapso por que passa a chamada “anarquia esquerdista”, incapaz de se aglutinar num discurso coerente e de oferecer vicissitudes para tirar o Brasil da crise. E Lula, “pai” dos pobres e dos banqueiros, personifica esse grande dilema dos segmentos autodeclarados mais arejados. Embora a polarização política parecesse diluído num mundo tão dinâmico e marcado pela polifonia de vozes, a histórica briga entre “direita” e “esquerda” voltou com tudo a partir da queda de Dilma Rousseff e da ascensão de Michel Temer, sobretudo nas redes sociais. Os dois lados ganham com essa divisão porque sabotam alternativas que tentem se firmar no “centro”. Mesmo condenado pela Justiça, Lula é que sai lucrando, acostumado a vender nos palanques a velha luta do engodo baseado na sua mentira e adorada pela imbecilidade do povão. O que acontece, no entanto, é que o ex-metalúrgico “não é, e nem nunca foi, um São Francisco de Assis”, segundo a visão de ex-companheiros hoje sitiados em legendas menores. Foi-se o tempo em que o petista era unanimidade. No grande eleitorado, as desilusões com o PT e com o lamaçal de corrupção dos governos de Lula e Dilma também afastaram parte da esquerda, que abandonou o barco do personalismo messiânico em torno do ex-presidente e passou a simpatizar com o antes odiado PSDB ou com Rede, PSOL e assemelhados. Com isso, crescem lideranças do campo oposto interessadas em ocupar esse vazio deixado pelo ideário de esquerda. Menos por ideologia e mais por encarnarem um personagem ‘ANTE–PT’, há presidenciáveis surfando na radicalização para nadar de braçada em 2018. A rejeição a um discurso sabe-se, significa transferência de votos em potencial. Ex-PT, a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) critica a esquerda e diz que o país vive uma “derrocada” com Temer, mas reconhece que as “forças progressistas” não apresentam um projeto de país e estão sendo “duramente atingidas pelos erros do PT” com Lula e Dilma. “Já é de algum tempo a dificuldade de unificar o campo democrático popular, por falta de um projeto de desenvolvimento, de uma posição que represente essas forças na disputa de poder e no exercício desse poder. Não se fez autocrítica nenhuma em relação a isso”. Para Erundina, um dos erros da esquerda foi não formar novas lideranças. Os escombros de ética da era petista, avalia, cobram esse grupo a reconquistar o protagonismo perdido: “Temos essa responsabilidade junto ao povo brasileiro, que não é um partido. Precisamos rever práticas, construir saídas aos graves problemas estruturais do país”. O problema é que as diversas correntes esquerdistas não falam a mesma língua. Líder histórico do PCdoB, Aldo Rebello saiu do partido indignado com a defesa engajada a Lula e à ditadura venezuelana. E, mesmo que tenha se alinhado a muitas práticas que condenava na “direita”, o PT não saiu unificado da eleição de Gleisi Hoffmann no comando nacional. Aliás, perdido nos grandes centros, o PT busca nas massas populares do Nordeste, onde Lula reina o cajado para abrir o mar dos votos. A receita é um discurso sectário e direcionado a uma platéia já catequizada. Só que essas contradições acabam gerando dividendos para adversários, porque são incapazes de frear presidenciáveis na linha de um Jair Bolsonaro ou mesmo de um João Doria. No Congresso, a fissura da esquerda é ainda mais evidente. O PSB se posiciona dentro do que chama de esquerda democrática. Já PCdoB e o PSOL se unem constrangidos ao PT, mas só por causa de Temer. E as brigas internas são grandes. Parlamentar em ascensão na Câmara, Alessandro Molon migrou para a Rede depois de conflitos com a controversa cúpula do PT do Rio de Janeiro. Para a Rede, que carece de infraestrutura e enfrenta sumiços e reticências de Marina Silva, também migrou Randolfe Rodrigues, o senador que fez frente a José Sarney e hoje calibra o discurso em zonas menos extremas. Como se vê, essa fragmentação virou combustível na mão de outros presidenciáveis, e discursos mais palatáveis ainda estão fora do script. As disputas regionais não transpiram conceitos ideológicos, mas a cena nacional já traduz um preocupante cipoal de interrogações. Vocês pensam fazer o povo brasileiro de otário.
Antônio Scarcela Jorge.

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